Em 28 de agosto de 1841, nascia na cidade de Metz, na França, Louis Aimé Augustin Le Prince. Filho de um major prestigiado e respeitado da Légion d’Honneur, uma ordem francesa criada por Napoleão Bonaparte em 1802, Le Prince sempre foi uma criança muito curiosa e isso certamente contribuiu para o seu futuro quando foi apresentado a Louis Daguerre. O melhor amigo de seu pai era simplesmente o inventor da fotografia moderna através de um aparelho chamado daguerreótipo, um equipamento responsável pela produção de imagens fotográficas sem negativo.
Motivado pelo interesse que via nos olhos de Le Prince e também pela afeição que desenvolveu pelo garoto, Daguerre começou a ensinar os princípios da fotografia e os métodos da química para ele durante o tempo que tinha livre. Foi no estúdio onde o homem trabalhava que o futuro de Le Prince se desenvolveu.
Uma brilhante jornada
Cercado por lições que visavam levá-lo a algum lugar além e ainda vivendo numa época que seria definida pelo avanço, Le Prince foi estudar pintura em Paris e se especializou em química na Universidade de Leipzig, na Alemanha. No ano de 1866, aos 25 anos de idade, o homem se mudou para Leeds, na Inglaterra, a convite de John Whitley, um amigo de faculdade e engenheiro, que lhe ofereceu trabalho como designer em sua empresa.
Três anos depois, Le Prince acabou se casando com a talentosa artista Elizabeth Whitley, irmã de seu amigo e patrão. Em meados de 1871, o casal fundou uma escola de arte aplicada chamada Leeds Technical School of Art. Combinando o talento plástico de Elizabeth com o técnico de Le Prince, o trabalho dos dois de fixar fotografias coloridas em metal e cerâmica se tornou tão amplamente influente que eles foram contratados para produzirem os retratos da Rainha Vitória e do Primeiro Ministro William Gladstone.
Por volta de 1881, a família se mudou para os Estados Unidos por alguns anos para que Le Prince administrasse um influente grupo de artistas franceses que produzia panoramas de batalhas famosas. E foi nessa época que ele começou a desenvolver o protótipo de câmera que mudaria o cinema – e que talvez tenha sido responsável pelo seu fim.
A imagem em movimento
Le Prince começou construindo uma câmera de 16 lentes que girava para obter uma sequência de quadros. Ele entendeu que para o cérebro ver uma imagem contínua eram necessários 16 quadros, diferentemente do que acontecia no efeito folioscópio. O problema era que se cada lente estava em uma posição diferente à de sua antecessora, ainda que minimamente, poderia causar a captura de um ponto diverso da imagem e, portanto, quando eram colocadas em fila e projetadas, criavam uma cena de filme instável e falhada.
Apesar de não ser perfeita, essa câmera de 16 lentes foi a primeira patente que o homem registrou, no dia 10 de janeiro de 1888. Segundo ele, o equipamento poderia servir tanto como uma câmera de cinema quanto como um projetor, que ele chamou de estereóptico.
Enquanto isso, muitos inventores ao redor do mundo também estavam tentando, como ele, dominar a tecnologia do filme. Em 1878, por exemplo, nos Estados Unidos, Eadweard Muybridge organizou 12 câmeras para capturar um cavalo de corrida em movimento. Depois ele copiou as fotos em um disco rotativo e inventou um dispositivo que dava a falsa impressão de movimento para o espectador.
No mês de maio de 1887, Le Prince retornou com sua família para Leeds e foi lá que sua invenção deu um passo maior e mais objetivo para o futuro da cinematografia. Ele construiu uma nova câmera, só que essa de lente única, pois o homem chegou à conclusão que não se tratava simplesmente de abrir e fechar o obturador 16 vezes por segundo, o que resultava em desfoque devido à exposição incorreta da cena. Le Prince, então, criou uma espécie de grampo que parava o filme toda a vez que o obturador abria, mas para que não causasse seu rompimento ao longo do processo, ele precisava que o filme só se movesse quando o obturador fosse fechado.
O próximo enigma que Le Prince teve que decifrar era como projetaria os resultados. Uma vez que o celulóide flexível ainda não era um recurso existente, ele optou por colocar as imagens em lâminas de vidro e movê-las na frente da lente. Elas estariam em uma corrente transportadora que as giraria em ordem diante dessa lente e depois retornariam para que uma projeção contínua fosse alcançada. Esses slides precisavam se mover na mesma proporção de velocidade em que foram capturados e sem se mover muito dentro do dispositivo.
O primeiro de todos, o mais esquecido
No dia 14 de outubro de 1888, Le Prince usou sua câmera de lente única para filmar o que ficaria conhecido como Roundhay Garden Scene, ou também Le Prince Motion Pitcure Nº 1. O filme mudo de apenas 2 segundos de duração era um plano de seu filho Adolphe Le Prince, sua sogra Sarah Whitley, o marido dela Joseph Whitley e uma mulher chamada Harriet Hartley, no jardim de sua casa. Esse ficou conhecido como o filme mais antigo da história. Veja abaixo:
Le Prince também usou a sua invenção para filmar o tráfego e pedestres que cruzavam a ponte de Leeds, na British Waterways, onde foi instalada uma placa para homenagear esse marco histórico.
Em 1889, o inventor assumiu a dupla cidadania franco-americana e se mudou para Nova York para seguir com o próximo passo para de sua pesquisa, que era a apresentação pública de seu filme e da câmera de lente única, planejada para acontecer na Mansão Morris-Jumel, em Manhattan, em setembro do ano seguinte.
Nesse ínterim, Le Prince trabalhou ao lado do experiente mecânico James Longley para assimilar e construir a melhor versão de um projetor. Eles tiveram sucesso com um protótipo feito com três lentes, que rodou o filme sem muitas falhas. Seus familiares e associados foram os únicos que viram os primeiros filmes na oficina de testes de Le Prince. Ele queria que o público visse seu trabalho por completo e da melhor forma possível.
Sem retorno
No início de setembro de 1890, no mês da exibição pública de seus feitos, Le Prince foi a Bourges, na França, para visitar alguns amigos antes de voltar à Nova York para seu evento. Em 13 de setembro, ele viajou para Borgonha, em Dijon, onde morava seu irmão, Albert. Três dias depois, Albert embarcou Le Prince num trem de volta à Paris para encontrar com amigos que o esperavam na estação. Só que ele nunca desceu. Pior, não havia rastros de que alguma vez o inventor tenha pegado aquele trem, muito embora seu irmão pudesse testemunhar o contrário. Ainda por cima, o expresso de Dijon até Paris não possuía nenhuma parada, logo, era impossível que Le Prince não estivesse a bordo.
A polícia francesa começou as buscas imediatamente, enquanto a Scotland Yard foi acionada em Londres pela família de Le Prince. Apesar de tantas investigações, não havia pista nenhuma acerca do paradeiro do inventor. Ele não foi visto em lugar algum. Sua bagagem não foi localizada, tampouco seu cadáver. O trem não parou para que ele descesse. Onde ele estava?
Os familiares, amigos e companheiros de trabalho apontaram para a concorrência. Algumas pessoas sabiam dos avanços de Le Prince, principalmente de sua mostra que aconteceria no mês de seu desaparecimento.
Em 1897, Louis Le Prince foi oficialmente declarado como morto.
Thomas Edison, a maior conspiração
À princípio, sugeriram que o homem havia se suicidado porque estava à beira da falência, mas isso foi descartado assim que seus registros financeiros foram revisados. Depois, surgiu o assunto de que ele teria tirado a própria vida após ser mandado para longe por sua própria família por terem descoberto que ele era homossexual – embora isso fosse apenas um estigma da época tratado de forma banal para justificar qualquer incidente.
Fratricídio foi das teorias na época. Talvez Le Prince nunca tenha embarcado naquele trem e seu irmão o tenha matado por dinheiro, ou até mesmo não tenha impedido que ele cometesse suicídio, como Jean Mitry aponta em seu livro. Era um cenário provável, mas nunca encontraram rastros de motivação — a não ser que tenha sido um crime acordado com a própria família do homem.
Por fim, a teoria de assassinato: segundo a família de Le Prince, a concorrência de Thomas Edison, o famoso inventor que possuía um histórico de levar o crédito pelas criações de outras pessoas, estaria por trás desse desaparecimento.
Essa teoria se fortificou quando Edison afirmou ter sido o único inventor da imagem em movimento e da câmera cinematográfica, e exigiu ganhar os royalties sobre uma patente em aberto, sendo que já conhecia os registros de Le Prince. A Mustoscope Company processou Edison pelo créditos na patente e chegou a chamar Adolphe Le Prince, filho do inventor, como testemunha. Eles não ganharam a causa, mas um ano depois a decisão foi anulada. Logo em seguida, Adolphe foi morto a tiros em Nova York aos 29 anos de idade. Nunca descobriram seu assassino.
Não é necessário ser nenhum investigador para concluir que o desaparecimento de Le Prince, às vésperas de seu marco monumental, foi extremamente conveniente para Edison, estivesse ele envolvido nisso ou não. Assim como a morte de Adolphe, que pareceu ter sido um crime de vingança. Se isso não passa de uma grande teoria da conspiração, ainda assim mantém a presença inegável e sólida de alguém por detrás de tudo.
Enquanto isso, Le Prince foi imortalizado só para os olhos de quem busca enxergar mais do que só aquilo que vê.
Fonte: Mega Curioso
Obs: As informações acima são de total responsabilidade da Fonte declarada. Não foram produzidas pelo Instituto Pinheiro, e estão publicadas apenas para o conhecimento do público. Não nos responsabilizamos pelo mau uso das informações aqui contidas.