A Secretaria Municipal de Cultura, por meio de seu Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), iniciou, em 2014, ao Projeto de Restauração Monumento do Ipiranga. Agora, na semana da independência, é dado o pontapé inicial para a restauração do conjunto escultórico de bronze, localizado na face frontal do monumento e que reproduz em baixo relevo o quadro “Independência do Brasil” de Pedro Américo. O investimento na recuperação do painel é de R$ 1.098.709,23, recursos oriundos do Funcap, um fundo municipal destinado à proteção do patrimônio cultural e ambiental paulistano. 

 

 

Em 2015, foi realizado o estudo preparatório, também por meio da parceria com o Amarger e a empresa KSA Fundição Artística. O relatório final é um documento inédito para a cidade. Ele contém um estudo completo e detalhado não só sobre a atual condição de todas as obras em bronze do conjunto, como também da parte estrutural do Monumento à Independência do Brasil, obra de Etorre Ximenez, e inaugurado em 1922.

 

 

A busca de um especialista estrangeiro se deve a razões similares à própria execução do monumento. No Brasil, após um período de grande evolução na tecnologia de fundição artística entre 1920 e 1950, inicia-se no país um processo gradual de declínio na prática da fundição de obras de arte.

 

 

 

Antoine Amarger é especialista em esculturas ao ar livre fundidas em metal. Foi responsável pelas últimas restaurações das esculturas “O Pensador” e “Os Burgueses de Calais”, do Museu Rodin, pela recente restauração dos bronzes do Museu Picasso, ambos em Paris, e dos elementos em metal da “Sala dos Espelhos” do Château de Versailles. No Canadá e Argentina, ele realizou restaurações acompanhadas de projetos educativos e de transferência de tecnologia.

 

 

 

O projeto do Monumento do Ipiranga será realizado neste mesmo formato, por uma equipe franco-brasileira, com a participação do SENAI e sob orientação de Amarger e supervisão técnica do DPH.

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No dia 5 de setembro, na semana em que é comemorada a Independência do Brasil, terá início a fase de restauro do alto-relevo em bronze “Independência ou Morte” que integra o Monumento à Independência.

 

 

“A restauração desta importante obra para a cidade e para o nosso país vai ao encontro de outras ações de valorização do patrimônio histórico que o DPH está criando, entre elas, a Jornada do Patrimônio. Esta é mais uma oportunidade de despertar em todos os paulistanos o sentimento de apropriação de sua história por meio da conservação dos seus monumentos”, explica Nádia Somekh que está à frente do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).

 

 

Devido ao trabalho estrutural, durante o processo a cripta estará aberta apenas para visitações agendadas. “A previsão de entrega do trabalho é de seis meses, porém mesmo após um estudo detalhado ainda não sabemos exatamente o grau dos problemas que devemos encontrar. Mesmo assim, esperamos poder devolvê-lo à cidade ainda neste ano.” fala o artista plástico

 

Israel Kislansky, da KSA, que está à frente do projeto.

 

 

 

 

A HISTÓRIA DO MONUMENTO SE ENCONTRA COM A DA ESCULTURA BRASILEIRA

 

 

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O Monumento à Independência do Brasil, também conhecido como Monumento do Ipiranga, possui um imenso significado político e histórico, porém, é também um importante marco na escultura brasileira.

 

 

Até o momento de sua execução, em meados de 1920, nossos principais monumentos fundidos em metal eram realizados na Europa, mesmo quando criados e modelados por escultores brasileiros. Apenas a partir do final do século XIX, com a criação do Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, se estabelecem as premissas necessárias para execução de esculturas deste porte no Brasil.

 

 

Com o desafio da construção do Monumento do Ipiranga – criação, modelagem, fundição e implantação – daquele que seria até hoje o maior conjunto escultórico em bronze executado em território nacional, se realizou um verdadeiro tour de force com o objetivo de se adquirir rapidamente condições técnicas e estruturais para concretizar o projeto.

 

 

 

As consequências foram inúmeras, a começar pela imigração de diversos artistas, muitos deles com formação modernista e artesãos fundidores que rapidamente abriram pequenos negócios e passaram a atender uma demanda burguesa por obras sacras e objetos de arte. Alguns desses estrangeiros, a maioria italiana, encontraram no ambiente do Liceu de Artes e Oficio o espaço adequado para desenvolver seus projetos e se estabelecer no país.

 

 

 

O escultor Amadeo Zani é um exemplo importante desse processo. Chegando ao Brasil em 1887 esteve ligado à construção do Museu do Ipiranga, ao Liceu de Artes e Ofícios, criou obras de arte relevantes para São Paulo e Rio de Janeiro e acabou fundando a mais importante e influente fundição artística do século XX, sendo responsável pela execução de todas as esculturas monumentais em bronzes da recém-inaugurada Brasília e fundindo para os principais modernistas brasileiros até meados de 1990.

 

 

As características técnicas dos bronzes do Monumento do Ipiranga denunciam o aspecto debutante daquele trabalho. Dito de outro modo, os problemas práticos encontrados para realizar uma obra daquela magnitude, num país sem tradição e sem experiência nessa tecnologia, são notórios.

 

 

Neste momento, em que se analisa uma ação de restauração é fundamental compreender que essas características, diferente dos problemas produzidos pelo tempo, agressões ou possíveis restaurações equivocadas, fazem parte do registro sobre o processo de aquisição de um patrimônio imaterial, de um conhecimento, de uma nova tecnologia que aportava em território nacional. Esse processo se deu, pode-se dizer, de forma abrupta. Enquanto a Europa, por exemplo, possuía cinco mil anos de história de fundição de obras de arte em metal, nosso país, cuja prática da fundição era proibida e controlada por Portugal, até meados do século XIII, realizou, quase que sem interstícios, uma obra colossal.

 

 

 

Israel Kislansky 2015

 Fonte: Cris Fusco Flavia Fusco Comunicação

 


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