As mulheres tiveram um papel fundamental na moral e nos negócios da organização criminosa

 

Até o início da década de 1990, a ideia de que as mulheres eram incapazes de cometer crimes, assim como os homens, atrapalhava o andamento de muitas investigações sobre a máfia italiana.

 

No início dos anos 1990, apenas uma mulher havia sido indiciada por associação com a máfia, o que foi mudando ao longo da década, já que, em 1995, eram 89 acusadas. Entre 1994 e 1995, houve um boom no número de mulheres indiciadas por tráfico de drogas (de 37 para 422), lavagem de dinheiro (de 15 para 106) e agiotagem (de 119 para 421).

 

A jornalista Clare Longrigg, atual editora do jornal inglês The Guardian, cobriu esse período de prisões e compartilhou as histórias das mulheres envolvidas no livro Mulheres da Máfia (Landscape, 2004). Conheça seis personagens reais da organização criminosa:

 

Pupetta Maresca

 

Uma das criminosas mais icônicas é Assunta “Pupetta” Maresca, madrinha da máfia camorrista (da região da Campânia, cuja capital é Nápoles).

 

Em 1955, Pupetta casou com Pasquale Simonetti, chefe da Camorra. No mesmo ano, ele foi assassinado pelo rival Antonio Espósito. “Fazia 80 dias que estávamos casados quando mataram meu marido a tiros”, conta Maresca em entrevista à Longrigg. “E, 80 dias depois, matei o homem que o assassinou. Eu tinha apenas 18 anos e estava grávida.”

 

A mafiosa passou 14 anos na prisão, onde teve seu primeiro filho, Pasqualino. Ao cumprir a pena, casou-se com Umberto Ammaturo, traficante de cocaína e novo chefe da Camorra, com quem teve gêmeos.

 

Aos 18 anos, Pasqualino foi morto e Pupetta alega que seu marido seja o assassino. Aos olhos de Ammaturo e de outros mafiosos, Pasqualino não era digno de confiança porque não havia vingado seu pai. Sua mãe havia feito todo o trabalho sujo por ele.

 

Patrizia Ferriero

 

Uma “carreira” comum para mulheres dentro da máfia é o tráfico de drogas. Nela, Patrizia Ferriero assumiu a distribuição de boa parte da cocaína que vinha da América do Sul para a Europa.

 

“Uma mulher, em especial uma mulher como Patrizia Ferriero, que é muito mais inteligente que o seu marido, encaixa-se perfeitamente no papel”, descreve Giuseppe Narducci, promotor do Departamento Anti-Máfia de Nápoles.

 

Maria Serraino

 

A criminosa da ‘Ndrangheta, máfia da região da Calábria, também teve sua participação no império do tráfico.

 

Sua casa era um centro de operações do tráfico de heroína. Até os cachorros dos vizinhos começaram a agir de maneira estranha por causa da grande quantidade de drogas que havia lá.

 

Angela Russo

 

Conhecida como Vovó Heroína, a mafiosa de Palermo levou três gerações da família a se envolver com o tráfico de drogas. Nem mesmo os familiares mais jovens escaparam da tradição, pois vendiam heroína nas ruas.

 

Por ser uma senhora, carregava a droga em sua mala enquanto viajava sem nenhuma suspeita. Até que foi presa durante cinco anos. Antes de morrer, convenceu seu filho a não colaborar com os carabinieri, a polícia italiana — o que era uma desonra para os mafiosos.

 

Anna Mazza

 

A matriarca dos Moccia ficou conhecida como Viúva Negra por instruir seu filho de 13 anos a matar o assassino de seu pai. “É difícil para nós entendermos o papel sutil que as mulheres sempre desempenharam — a mãe trabalhando sobre o inconsciente da criança, passando os valores da máfia até no leite do peito”, reflete a juíza Liliana Ferraro, no livro Mulheres da Máfia.

 

“Até aquela altura, Anna Mazza havia sido apenas a esposa de um capo. Naquele dia, ela se tornou um capo por merecimento próprio”, diz um magistrado. Passou cinco anos na cadeira após o ocorrido, mas nunca foi presa por associação à máfia — ao contrário de seus filhos. Sua família se tornou rica através de extorsão.

 

Cristina Guimarães

 

A brasileira Cristina Guimarães e o mafioso siciliano Tommaso Buscetta se conheceram no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, se casaram enquanto ele cumpria pena em uma prisão de Palermo. Após ser solto, voltou a ser preso no Brasil por tráfico de heroína. Foi então que a brasileira se tornou uma espécie de conselheira e persuadiu o mafioso a colaborar com a Justiça italiana. Ganharam proteção nos Estados Unidos.

 

Fonte: Revista Galileu


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