A peça é baseada na obra Tom à la Farme, do autor canadense Michel Marc Bouchard. Foi numa conversa com um amigo que Babaioff tomou conhecimento do filme Tom na Fazenda (2013), adaptação da peça homônima, com direção do franco-canadense Xavier Dolan. Arrebatado pela obra, o ator começou a traduzir a peça, que aborda a inabilidade do indivíduo para lidar com o preconceito, a impotência, a violência e o fracasso. Em cena, o publicitário Tom (Armando Babaioff) vai à fazenda da família para o funeral de seu companheiro.
Ao chegar, descobre que a sogra (Kelzy Ecard) nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia que o filho era gay. Nesse ambiente rural e austero, Tom é envolvido numa trama de mentiras criada pelo truculento irmão (Gustavo Vaz) do falecido, estabelecendo com aquela família relações de complicada dependência. A fazenda, aos poucos, vira cenário de um jogo perigoso, onde quanto mais os personagens se aproximam, maior a sombra de suas contradições.
“No ano em que traduzi a peça, 347 pessoas foram assassinadas pelo simples fato de serem quem eram. O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo, mais do que nos 13 países do Oriente e da África onde há pena de morte aos LGBT. O que me fascina em Tom na Fazenda é essa possibilidade de falar de assuntos que eu realmente acho necessário. Eu sinto essa necessidade de dizer para o mundo verdades das quais eu acredito”, diz Babaioff. “Somos felizardo
s em poder contar essa história, agora em são Paulo, e somos gratos à trajetória que o espetáculo está realizando sem qualquer recurso vindo de leis de incentivo”, completa Babaioff. “Tom na Fazenda” estreou no Rio de Janeiro em março de 2017 no Oi Futuro, com patrocínio da Oi. As temporadas seguintes – nos teatros SESI Centro, Dulcina, Poeirinha, Censgranrio, Leblon e no Imperator -, quase sempre com ingressos esgotados, no entanto, não tiveram qualquer apoio.
“Tom na Fazenda” conta uma história bastante comum entre jovens de várias gerações, mesmo de culturas diferentes. No Canadá, no Brasil, no Oriente Médio, no Japão ou na África do Sul, homens e mulheres jovens aprendem a mentir antes mesmo de aprenderem a amar. As famílias, guardiãs das normas sobre a sexualidade, garantindo sempre a heteronormatividade, inserem nos próprios membros a semente da homofobia.
“Todo redemoinho que devastará a vida dos que fogem das normas surge no núcleo de suas próprias famílias”, comenta Rodrigo Portella, que opta, mais uma vez por uma encenação com poucos elementos para que as sutilezas das relações propostas pelo texto se sobressaiam. “Bouchard compôs uma obra de estrutura impecável. Ele vai fundo nas contradições dos seus personagens, o que os torna muito próximos de nós”, acredita o diretor.