Trapaças em busca do poder, formações de redes de intrigas, desonestidades para obter informações sigilosas, acidentes misteriosos e armadilhas friamente calculadas estão em pauta em “Hamlet Candidato”. “O projeto surgiu de uma vontade de falar sobre ética a partir dos últimos eventos políticos que vivemos no país. Me lembrei de ‘Hamlet’ e pensei em abordar esse tema nos bastidores de uma encenação da própria obra de Shakespeare”, conta Alexandre Mello que, além de dirigir a montagem, integra o elenco de 14 atores.

 

Indicada ao Prêmio Shell 2019 pelo texto de “Rose”, a autora Cecilia Ripoll foi convidada por Alexandre e Rogério para participar do projeto. “Escolhemos alguns pontos de contato entre a obra de Shakespeare e o que estamos vivendo hoje no país. Acho que a linha mestra em ‘Hamlet Candidato’ seriam as articulações escusas para chegar ao poder”, conta.

 

A peça inicia logo após a estreia de uma montagem de “Hamlet”. Nos bastidores, o diretor (papel de Alexandre) está insatisfeito com o resultado do espetáculo. Mas o que parece ser apenas um problema da encenação acaba se revelando uma intricada trama que – a partir da maneira escusa em que um dos atores ganhou o papel principal – reverbera muito as questões políticas e culturais dos dias de hoje. As revelações que se sucedem mostram que, embora tenha sido escrita há mais de 400 anos, “Hamlet” ainda é capaz de falar do homem contemporâneo.

 

A cenografia de Julia Decache utiliza banners de diferentes produções teatrais, formando um grande tapete de patchwork – transmitindo a ideia de um grupo de teatro que resiste aos tempos difíceis e utiliza em cena o que tinha a mão como peças e móveis de outras montagens. A trilha sonora é assinada por Marcello H. “O elenco é muito musical. Eles fazem coros ao vivo dando um tom épico à cena”, explica o diretor.

 

Com mais de três décadas de carreira nas artes cênicas, Alexandre Mello fundou o Ateliê Alexandre Mello há quatro anos, em Laranjeiras. “Tinha o desejo de juntar as pessoas com que sempre quis trabalhar para criar parcerias que dialogassem com artes plásticas, cinema, filosofia”, diz. “Não somos um grupo, alguns artistas fazem parte de outras companhias, mas temos uma frequência das mesmas pessoas no ateliê.”