À margem de uma sociedade em que ele está longe de ser prioridade, o homem negro busca ganhar sua vida na sombra cruel em que habita. No espetáculo, é retratada a realidade de vida de dez homens negros, com suas dificuldades, desafios, resiliência, alegrias e lutas, havendo o deslocamento da condição de objeto ou coisificação para a humanidade. Em oposição a uma sociedade com estrutura racista e maniqueísta, que o conceitua como um ser exclusivamente tóxico, “Oboró” expõe a subjetividade – virtudes, desejos, erros e acertos – desse homem. O texto é de Adalberto Neto e a direção, de Rodrigo França.
A paciência de Exu é o ponto de intercessão com o engraxate Kinho, que sempre acreditou no sonho de morar em uma casa própria com a família e só pôde realizá-lo depois de anos. A moradia veio com o trabalho em uma distribuidora de doces oferecido por Aldemiro, um policial guerreiro como Ogum, que virou miliciano mas acabou foragido na Argentina.
O ex-combatente Isaque, forte como Oxóssi, teve sérios problemas mentais após trabalhar como torturador na época da ditadura. As loucuras de Isaque não dão sossego a sua família. A única pessoa com quem ele não se mete, entretanto, é o seu filho mais velho, Maicon. O rapaz, assim como Omolu, sabe exatamente o dia e como o pai morre. E mesmo sem nunca ter falado com o filho sobre o assunto, Isaque morre de medo do olhar de Maicon.
Muito bonito e com um jeito de conquistador nato, como Xangô, o porteiro Valdo se sente muito culpado por ter que transar com o marido do morador do prédio em que trabalha, sob a ameaça de ter as suas fotos, dormindo na portaria, divulgadas para o chefe dos porteiros.
O marido traído, Frederico, trabalha com compra e venda de ações. Assim como a força de Oxumaré para manter o dinamismo da Terra, ele não sossega nem quando está dormindo. Sempre que está se sentindo muito pressionado, busca a ajuda de Oswaldo, que aprendeu sobre medicina alternativa com um de seus professores da faculdade de enfermagem. Oswaldo tem tanto domínio sobre essa técnica, que se utiliza de ervas medicinais, como Osanyin.
Nilton, o professor de enfermagem de Oswaldo, não se entendia como negro por ter a pele clara, mas descobriu após um exame de DNA que sua família é de Benim, na África. Desde então, todo ano viaja para o país de seus ancestrais para tentar descobrir sobre sua história. Sua jornada em busca de entender mais sobre a própria identidade pode ser comparada com as destemidas viagens de Logun Edé para caça de alimento para os seus.
Foi graças a Deoclides, um bombeiro aposentado e historiador, que Nilton descobriu sobre o exame de ancestralidade genética. Batalhador como Oxalá, Deoclides é um sábio ancião cheio de conhecimento sobre sua ancestralidade e que, assim como todos os outros homens negros, tem uma vida cheia de complexidades.
À margem de uma sociedade em que está longe de ser prioridade o homem negro busca ganhar sua vida na sombra cruel em que habita. O espetáculo “Oboró – Masculinidades Negras” retrata a realidade desse homem, com suas dificuldades, desafios e lutas. Oboró é um termo que, em Yorubá, é usado para designar orixás do sexo masculino.
Entre os problemas apresentados estão a hipersexualização do corpo negro, a busca pela perfeição em troca de um lugar ao sol e os riscos de habitar uma pele preta, entre outros. Nove situações traçam um paralelo da realidade desses homens da sociedade, permeadas por muita música e dança.
Horários
Quinta, Sexta e Sábado às 19h00, Domingo às 18h00