Não se sabe exatamente o motivo, mas o novo coronavírus (Sars-Cov-2) é mais leve em crianças. Além disso, ao que tudo indica, ele não tem predileção por essa faixa etária. “Uma revisão de 72 314 casos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Chinês mostrou que menos de 1% acometiam menores de 10 anos”, afirma Roberto Muniz, infectologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, na capital paulista.

 

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine trouxe dados importantes sobre a infecção em crianças tratadas no Hospital Infantil de Wuhan, na China. Foram testadas 1 391 meninos e meninas e apenas 171 estavam com Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus (12,3%). Desse total, 41,5% tiveram febre e 15,8% não manifestaram sintomas.

 

Somente 12 pacientes apresentaram características de pneumonia e três dos internados precisaram de ventilação mecânica, sendo que todos tinham condições pré-existentes. Houve uma morte.

 

Já nas grávidas, que geralmente fazem parte dos grupos de risco de infecções e doenças respiratórias, a percepção é de que o Sars-Cov-2 também teria um bom prognóstico. Para entender um pouco mais e sanar dúvidas importantes, conversamos com infectologistas e pediatras para resolver 8 questões comuns.

 

1. Por que as crianças são menos suscetíveis ao novo coronavírus?
Essa é uma pergunta sem resposta certa — ainda. No momento, o que a literatura médica tem são hipóteses. Alguns autores, por exemplo, sugerem que o Sars-Cov-2 age em receptores das células do corpo que podem ser diferentes em adultos e crianças, como os que regulam a pressão arterial.

 

De qualquer forma, há uma constatação de que o curso da doença em crianças dificilmente evolui para complicações severas.

 

“O acometimento de forma grave é desproporcional ao de outras faixas etárias. A estatística em menores de 10 anos é praticamente desprezível. E esse é um fenômeno diferente de tudo o que conhecíamos, já que os vírus respiratórios costumam afetar as faixas etárias extremas, por causa do sistema imunológico imaturo em crianças e envelhecido em idosos”, pontua Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

 

“Mas vale termos atenção às crianças com condições como deficiência imunológica e problemas respiratórios crônicos, a exemplo da asma. A princípio, elas são mais suscetíveis”, aponta Marcelo Mimica, infectologista pediátrico do Fleury Medicina e Saúde.

 

2. Crianças assintomáticas podem transmitir a doença?
Sim. Verdade que, quando os sintomas são mais fortes, a transmissão é facilitada, já que o vírus fica no trato respiratório e a tosse tende a espalhá-lo pelo ambiente.

 

“Porém, estudos preliminares apontam que crianças assintomáticas podem transmitir a doença e, inclusive, por um período maior. Daí a importância de afastá-las dos idosos nesse momento de isolamento social”, pondera Muniz.

 

3. As crianças saudáveis podem sair de dentro de casa?
Quintais de casa estão liberados, mas a descida às áreas comuns de condomínios divide opiniões de médicos. Alguns acreditam que o melhor é evitar qualquer tipo de risco, ao passo que outros acham importante uma escapada para tomar um ar. Convenhamos que não é fácil ficar com uma criança o dia todo em um lugar fechado.

“Tudo bem se não houver outras pessoas além dos moradores da casa envolvidos nessa saída e se os cuidados com higienização forem devidamente tomados”, defende Mimica.

 

4. Quais cuidados a família deve ter com pequenos infectados pelo coronavírus?
“Nesse caso, a recomendação é que os próprios familiares usem máscaras e as mãos de todos sejam constantemente lavadas para reduzir o risco de os cuidadores adoecerem”, preconiza Kfouri.

 

Em relação ao tratamento, ele via de regra envolve aliviar os sintomas, com uso de antitérmicos para febre, por exemplo. Contudo, fique atento à evolução do quadro — caso haja dificuldade para respirar, dor no tórax ou febre incessante, procure atendimento.

 

5. O novo coronavírus apresenta risco para um bebê em gestação?
Não há evidências de transmissão vertical — ou seja, de que a mulher grávida passe o Sars-Cov-2 para o feto.

 

O infectologista Roberto Muniz dá o exemplo de um relatório da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, na China, que se baseou em quatro gestantes que estavam próximas da hora do parto, na cidade de Wuhan. As mães não apresentaram complicações e os bebês não nasceram com sintomas da doença, como febre, tosse ou diarreia. “Três deles foram submetidos ao teste de Covid-19 e deram negativo. O quarto não foi testado porque os pais não autorizaram”, revela.

 

6. A Covid-19 é mais perigosa em gestantes?
“Sabemos que gestantes com influenza, o vírus da gripe, costumam adoecer de forma mais grave. Mas, curiosamente, elas não apresentaram o mesmo comportamento com o novo coronavírus em estudo feitos em outros países”, compara Kfouri.

 

7. Mães infectadas com o Sars-Cov-2 devem amamentar?
“Sim! Os benefícios do aleitamento suplantam qualquer risco. O importante é que elas usem máscara e tenham cuidados gerais, como lavar bem as mãos e não tocar o rosto”, orienta Mimica.

 

O infectologista ainda destaca que diversas análises do leite de lactantes não apontaram presença do vírus que está causando uma pandemia global.

 

8. Gestantes e crianças devem tomar a vacina da gripe?
“Sim. Prevenir-se da gripe ajuda a diminuir complicações e visitas ao serviço de saúde, além de minimizar as suspeitas do novo coronavírus, que tem os mesmos sintomas”, alertas Kfouri. “Mas é preciso que o posto esteja organizado para atender a demanda conforme orientações de segurança e prevenção nesse momento”, complementa.

 

Só uma questão: a campanha de vacinação contra a gripe tem datas específicas para esses dois públicos-alvo. Ambos só deverão tomar a injeção na rede pública a partir do dia 9 de maio.

 

No mais, o Ministério da Saúde pede para que as mães adiem a aplicação de vacinas do sarampo e outras doenças até o dia 16 de abril. Isso porque, no momento, os idosos estão indo aos postos para tomar o imunizante da gripe. E, quanto menos gente cruzando o caminho deles em tempos de coronavírus, melhor.

 

Fonte: Saúde Abril.


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