Antes de ser reconhecido como viajante e explorador, Percy Harrison Fawcett foi militar de formação, tendo servido na Ásia, África, Europa e até na América do Sul. E muito embora o seu destino tenha sido igual ao de muitos dos viajantes que se aventuraram pelo mundo buscando aa cidades de Atlântida, Eldorado e Paititi, o homem se tornou um símbolo histórico.

 

Fawcett nasceu no dia 18 de agosto de 1867 na cidade de Torquay, na Inglaterra, e recebeu os primeiros anos de estudos no Newton Abbot Proprietary College. Seu espírito aventureiro já era algo de família, uma vez que o avô paterno tinha sido membro da Royal Geographic Society (RGS), enquanto o irmão mais velho decidiu se tornar um alpinista e autor de populares romances de aventura e filosofia.

 

Durante um bom tempo de sua vida, o homem frequentou a Academia Militar Real como cadete e foi contratado para ser tenente da Artilharia Real em 1886. Nomeado à patente de capitão em 1897, ele serviu em missões em Malta, Hong Kong, Trincomalee e no Ceilão, onde conheceu a esposa, Nina Paterson, com quem se casou e teve como filhos Jack, Brian e Joan.

 

Seguindo os passos do avô, Fawcett ingressou no RGS em meados de 1901 para estudar mapeamento e topografia. Após servir na África Meridional durante três anos, aprendendo técnicas de sobrevivência na selva, ele foi promovido a major em 1905. Foi mais ou menos nessa época que ele conheceu Sir Arthur Conan Doyle, que mais tarde usaria seus arquivos e notas acerca do território da Amazônia como inspiração para o seu prestigiado romance O Mundo Perdido.

 

A obsessão pela floresta

 

Em 2 de maio de 1906, aos 39 anos de idade, Fawcett foi enviado pela Royal Geographic Society para ajudar o Brasil e a Bolívia no mapeamento da fronteira da Floresta Amazônica. Esse período marcou o início da total devoção do homem pelo local. Liderando sete expedições no total, entre os anos de 1906 e 1924, ele explorou milhares de quilômetros quadrados da Amazônia e ajudou as equipes de pesquisa a redesenharem o mapa da América do Sul.

 

A maior parte do território era inexplorado naquele tempo, com mata muito cerrada e de difícil acesso. Além dessa dificuldades, eles ainda se depararam com tribos indígenas que sequer falavam o português ou espanhol e viviam de maneira natural. Em seus diários de bordo, Fawcett relatou que alguns deles eram amigáveis e o presenteavam com artefatos da cultura local, enquanto outros eram mais hostis e o enxergavam como um invasor de suas terras.

 

Ainda, em junho do primeiro ano, após atravessar a selva e alcançar La Paz, capital da Bolívia, ele descreveu uma gama enorme de animais exóticos e desconhecidos pelo campo da zoologia, como uma aranha mortal que ele chamou de apazauca.

 

Com cerca de 6 mil quilômetros de extensão e sendo o berço de mais de 10% das espécies de flora e fauna do mundo inteiro, a riqueza e o habitual mistério da Amazônia se tornaram o ouro nunca encontrado de Eldorado, principalmente por ser uma fonte inesgotável de conhecimento. Além de tudo o que viu (ou afirmou ter visto) em suas viagens através dos confins do Mato Grosso, do trabalho de mapeamento do Rio Heath, que percorre o Peru, Fawcett também se deparou com o lado obscuro da Amazônia. A exploração do trabalho dos seringueiros, a extração da borracha, a comercialização de escravos indígenas para trabalhar em seringais e minas, além da execução em massa deles.

 

Entre as porções de luz e sombra, no cerne da maior floresta tropical do mundo, acredita-se que o fascínio pelo desconhecido tenha se expandido ainda mais na mente de Fawcett com a notícia da descoberta da cidade inca de Macchu Picchu, em 1911.

 

Z, a cidade perdida

 

Com a memória repleta de histórias de habitantes locais, pesquisas, objetos e fortemente influenciado pelo levantar histórico de Macchu Picchu, Fawcett começou a alimentar a teoria de que existia uma cidade pré-colombiana nos confins do Mato Grosso. Rapidamente, ele a batizou como A Cidade Perdida de Z, que para Fawcett significava o berço de toda a civilização e até mesmo origem da famosa civilização perdida de Atlântida, o suprassumo dos exploradores. Pois para ele, com uma visão carregada do racismo científico da época, o povo de Z seria formado, talvez, por cartagineses, fenícios ou povos gregos, que teriam navegado até a América do Sul, se infiltrado pelo interior do continente e fundado a cidade em alguma parte perdida do atual Mato Grosso.

 

No ano de 1914, quando ia dar início à sua expedição, ele foi convocado para servir o Exército Britânico como Oficial de Reserva da Artilharia Real na Primeira Guerra Mundial. Durante esses anos, o homem registrou que se sentia atolado em um país que não o pertencia mais. Preso — essa foi a palavra que permeou a maioria de suas confissões. Era como se ele não conseguisse mais recuperar sua raiz europeia, uma vez que esteve na presença de algo que de fato lhe parecia cristalino.

 

Enquanto não se libertava, Fawcett usou de seu tempo para estudar mais sobre a história brasileira. Quando finalmente retornou ao Brasil, em 1920, pôde se dedicar à arqueologia local e tudo o mais que havia disponível em arquivos e bibliotecas do Rio de Janeiro. A sua mais nova empreitada era encontrar provas que embasassem a sua teoria sobre Z e lhe provassem que não estava imaginando coisas.

 

O Manuscrito 512, um arquivo de autoria desconhecida, que data da época do Brasil colonial, consiste num relato em grupo sobre uma suposta expedição de bandeirantes às ruínas de uma cidade desconhecida e perdida no interior da Bahia. Com o subtítulo A relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima sem moradores, essa considerada fábula arqueológica, que passou anos esquecida na Biblioteca Nacional antes de se tornar um tesouro histórico, foi o subsídio essencial para as convicções do explorador sobre Z.

 

A última expedição

 

Em meados de maio de 1920, Fawcett entrou em acordo com o então presidente Epitácio Pessoa para fechar uma missão exploratória de teor diplomático no interior do Mato Grosso, com o apoio financeiro do Governo Federal, a fim de encontrar a sua cidade, Z. Essa primeira missão fracassou logo no começo devido às tempestades do Centro-oeste.

 

Em abril de 1925, Fawcett, seu filho Jack, com 17 anos, e Raleigh Rimmel, um amigo de família, voltaram ao Brasil equipados e financiados pelos jornais para darem início à expedição. Aos seus 57 anos, ele já se declarava cansado e frustrado com a própria vida e a falta de descobertas. Não era o peso da mochila que incomodava as costas do homem, mas sim a obrigação de encontrar algo daquela vez, caso contrário, seria um homem endividado com seus patrocinadores e uma vergonha internacional.

 

Apesar de toda a pressão, Fawcett estava empolgado segundo as pessoas que encontrou ao longo do caminho e otimista sobre a sua descoberta. Por onde passava, ele documentava tudo e enviava ao jornal. O último relato existente data do dia 29 de maio de 1925 e é uma cópia que foi entregue aos peões da fazenda do coronel Hermenegildo Galvão, onde ficou hospedado antes de seguir para o norte, em direção ao território dos índios Xingu. Nessa parte do diário, constava que eles tinham atingido o Acampamento Cavalo Morto, um local que ele já havia visitado em 1920. Aparentemente, nada ali ainda lhe era desconhecido.

 

E então o trio desapareceu e nunca mais se ouviu falar dele. A causa da morte dos homens é desconhecida, pois seus corpos jamais foram encontrados. Alguns supõem que foram feridos, atacados por animais, mortos por tribos locais ou caçadores. Outros preferem acreditar que eles morreram de exaustão ou inanição. Levando em consideração que o território onde estavam já era explorado, quais eram as chances de Fawcett ter se perdido pelo caminho?

 

De acordo com o homem, sua cidade perdida ficava na região da Serra do Roncador, que é um local onde há vestígios de arte rupestre e uma forte teoria de tesouros indígenas enterrados desde antes da época colonial.

 

O último dos melhores

 

Com um hiato de notícias fora do normal, no mesmo ano foram realizadas buscas, a princípio organizadas pelo Brasil. Só em 1928 que o Newspaper Alliance, que patrocinava a expedição de Fawcett, enviou o militar Dyott para procurar pelos três. Muitas missões acabaram mal, com militares e jornalistas também desaparecidos. A essa altura, Fawcett já era assunto no mundo todo sob manchetes sensacionalistas que evidenciavam o ocultismo célebre da Amazônia e de inexplorados recantos brasileiros.

 

Por 15 longos anos, livros foram escritos e matérias feitas a respeito de Fawcett e sua desastrosa viagem sem volta. Chamado de o último dos melhores exploradores, Fawcett se imortalizou como aquele que teve a possibilidade de ir além, mas que foi traído pela mesma fantasia de tantos outros.

 

Fonte: Mega Curioso


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