A pandemia do novo coronavírus trouxe alterações na rotina de toda a família – e as crianças não ficaram fora disto. Com as aulas suspensas, sem poder brincar com os amigos e dividindo a atenção dos pais com o trabalho em casa, os pequenos estão tendo que encarar uma realidade bem diferente.

 

Querendo ou não, a nova dinâmica do dia – sem horários fixos e com atividades diferentes das usuais – impacta também em como será a noite, e por isso sinais como a falta e interrupção do sono podem aparecer na hora de dormir. Para ajudar os pais a estabelecerem hábitos noturnos mais saudáveis, consultamos algumas especialistas no assunto.

 

Fatores que alteram a rotina de sono
Antes de tudo, vale esclarecer alguns fatores que podem estar atrapalhando o sono dos baixinhos. De acordo com a Dra. Luciane Carvalho, psicóloga e pós-doutora em distúrbios de sono, um primeiro ponto a ser levado em conta é a falta de socialização. Afinal, sem a interação com os colegas na escolinha e com os pais trabalhando durante o dia, as crianças podem carecer de estímulo social, um aspecto importante para o bem-estar psíquico e que influencia na hora de dormir.

 

Má alimentação, refeições fora de hora e comer muito antes de deitar são outros possíveis motivos apontados para a dificuldade de pegar no sono. Além disso, as “sonecas” fora de hora devem ser investigadas. “Colocar a criança para um cochilo muito longo durante a tarde para que os pais possam trabalhar pode ser um impeditivo. Então, aconselho que seja dosado: que os adultos definam quanto tempo os filhos terão de soneca à tarde para manter o horário de dormir”, recomenda Luciane.

 

E claro que o uso das telas não ficaria fora da lista. Para entreter a criançada durante o dia, é normal que as famílias flexibilizem as regras e liberem os filmes, desenhos e jogos virtuais por mais tempo. Quando chega a noite, porém, o ideal é ir retirando os dispositivos. “Pelo menos uma hora antes de dormir é bom desligar a TV e eletrônicos e não fazer brincadeiras tão agitadas. Porque nosso cérebro demora um certo período para entender que é hora de dormir e de desligar”, indica Betina Haubrich, psicóloga e consultora do sono infantil.

 

“A luz da tela pode interferir na produção de melatonina e atrapalhar o início do sono”, acrescenta a Dra. Loretta Campos, pediatra pela USP e também consultora do sono. Lembrando que o uso de telas não é recomendado para crianças menores de dois anos e alguns cuidados devem ser tomados na primeira infância.

 

O papel das emoções dos pais
Os problemas noturnos, mesmo que não relacionados a distúrbios do sono, podem também ter causas emocionais – principalmente pela insegurança que este momento de crise mundial proporciona. “A ansiedade dos pais pode contribuir muito para a alteração do sono. Muitas vezes as famílias acabam perdendo a rotina, sem hora para acordar e dormir, o que também contribui, além da angústia de não saber quando isso vai acabar”, afirma Betina Haubrich.

 

No mesmo sentido, a psicóloga Luciane enfatiza o quanto a tensão dos pais – individualmente e como casal – pode refletir na noite do pequeno. “No geral, alterações do sono de uma criança pequena – se ela não tem nenhum sintoma físico que atrapalhe, como uma gripe ou um medicamento diferente – estão intimamente relacionadas ao fator emocional. Briga dos pais, discussões e desentendimentos podem gerar sentimentos de culpa no filho e, consequentemente, atrapalhar no sono”. Confira dicas para manter a saúde mental da família na quarentena.

 

Dicas para uma boa noite de sono
Para lidar com o incerto, as profissionais concordam que o melhor é assumir as rédeas da situação e reestruturar a rotina. “Sentar com as crianças, pegar um calendário e fazer um planejamento das atividades do dia: em determinada hora serão as refeições, em tal hora vamos brincar… Ter uma rotina traz segurança para a criança e influencia em como será a noite”, aconselha a pediatra.

 

“É importante garantir uma previsibilidade do que vai acontecer, porque é justamente isso que vai estruturar e tranquilizar a criança neste período”, concorda Betina. Proporcionar um ambiente aberto à conversa e acolher as dúvidas do pequeno sobre o novo coronavírus também é fundamental para que eles entendam, mesmo que de forma lúdica, o que se passa lá fora. “É muito importante os pais conversarem com seus filhos. Não podemos dizer para a criança o que não podemos cumprir. Precisamos lidar com a realidade”, complementa ela.

 

No momento de pensar na rotina, Luciane ressalta que se deve considerar o coletivo e estabelecer horários claros para alimentação, momentos de lazer e de descanso. “É a dinâmica da casa. Não será a rotina dos filhos ou dos pais, mas da família inteira. Com atividades conjuntas e separadas, mas a agenda deve rodar em torno de todos. Assim, garantimos que o sono das crianças não fique dessincronizado com o dos pais”, afirma.

 

Se a luz das telas durante a noite pode ser prejudicial, a luz do sol durante o dia possui efeito inverso. “Ela ajuda a regular o sono da noite, porque auxilia na produção de melatonina”, esclarece Betina, consultora do sono infantil. Segundo ela, os ciclos de claro e escuro ajudam a diferenciar o dia da noite e, como resultado, preparar o corpo para dormir. Por isso, indica que “quando possível, tomar pelo menos de 10 a 15 minutos de sol durante a manhã – seja na varanda ou, se tiver um lugar aberto, melhor ainda”.

 

Sobre a utilização de suplementos hormonais para induzir o sono, Dra. Loretta diz não ser aconselhável. “Não existem estudos na área pediátrica que liberem o uso da melatonina na criança. Muitas vezes as alterações do sono estão relacionadas aos maus hábitos instalados, e que podem ser resolvidos de modo natural”.

 

Disciplina é fundamental
Uma vez que a rotina da casa foi estabelecida, os adultos devem se esforçar para mantê-la, porque só assim a criança irá entender e se adaptar ao horário de dormir. “Disciplina é fundamental neste momento. Não adianta um dia tomar uma conduta com a criança e no outro alterar de acordo com o cansaço”, ressalta a pediatra.

 

“Os pais não precisam ter uma atitude não-acolhedora, mas ao mesmo tempo ter uma postura de manutenção de conduta”, continua ela. Loretta esclarece que as primeiras noites podem ser mais difíceis, mas que a tendência é que os baixinhos aceitem com o tempo e que se torne um hábito. “Nas primeiras noites, pode haver protesto e choro na hora de deitar, mas os adultos podem ajudar na transição, sem precisar deitar com a criança – tocando, abraçando, trabalhando de forma lúdica que chegou o momento de dormir”, finaliza.

 

Fonte: Bebê.


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