Aposto que nas últimas semanas você já viu circular pelas redes sociais diversas fotos de profissionais da saúde segurando plaquinhas com a frase “estamos aqui por você, fique em casa por nós”. Outras postagens, é claro, vieram nos lembrar que não são só eles que precisam estar fora de casa trabalhando em meio à pandemia: coletores de lixo, bombeiros e muitos outros profissionais que realizam atividades essenciais também fazem parte desse grupo.

 

Mas enquanto todos eles trabalham para lidar com os efeitos imediatos do coronavírus, é nos laboratórios e nos grupos de estudos das universidades que cientistas lutam para encontrar uma saída em grande escala para a crise sanitária, social e econômica que acomete o país – seja na busca por uma vacina ou apontando caminhos para cuidar da saúde mental e se preparar para a crise econômica que se anuncia. No terceiro texto sobre profissões inspiradoras do GE, descubra alguns desses pesquisadores e conheça um pouco sobre suas áreas de atuação!

 

A equipe do sequenciamento em tempo recorde
Em fevereiro, em pleno Carnaval e quando o coronavírus ainda parecia uma realidade distante do Brasil, o trabalho de um grupo formado majoritariamente por biomédicas ganhou os sites de notícias. O primeiro caso de coronavírus na América Latina – um paulistano recém-chegado da Itália – foi sequenciado no tempo recorde de 48 horas. Até então, somente o Instituto Pasteur, na França, tinha trabalhado tão rápido e a maioria dos países demorava cerca de 15 dias para finalizar esse trabalho.

 

Mas, afinal, por que sequenciar o primeiro caso de coronavírus em um país é tão importante? Simples. Entender as características genéticas do vírus permite descobrir de onde ele veio e quais mutações tem sofrido ao passar de uma pessoa para outra. Essa informação é essencial para rastrear a epidemia dentro do país e entender se os novos casos que surgirem a partir de então são decorrentes de transmissão local – dentro do território nacional – ou não. Até hoje não se sabe, por exemplo, se a Itália conhece a origem do primeiro caso de coronavírus na região da Lombardia – caso conheçam, não tornaram o sequenciamento público até agora. Por fim, e mais importante, é a partir das informações obtidas no sequenciamento que se pode começar a desenvolver vacinas contra o vírus.

A equipe que atuou nessa tarefa mais árdua que qualquer questão de biologia da Fuvest é formada por pesquisadores de diversas áreas, entre eles biólogos, médicos, farmacêuticos e muitos biomédicos. Afinal, a Biomedicina é exatamente a área das Ciências Biológicas voltada à identificação, classificação e estudo das enfermidades.

TUDO SOBRE AS PROFISSÕES
– Biomedicina
– Ciências Biológicas
– Farmácia
– Medicina

A biomédica Jaqueline Goes é uma das líderes do projeto. Depois de se graduar em Biomedicina, ela se especializou na área de medicina investigativa e patologia humana e experimental durante o mestrado e doutorado.

 

Deu para perceber que a profissão não tem muita coisa a ver com a Medicina, como muita gente acha. Certo? Bem, mais ou menos. Geralmente quando pensamos no médico, o imaginamos dentro dos consultórios ou em salas de cirurgia, trabalhando diretamente com os pacientes. Mas existem os médicos que optam por trabalhar na área de pesquisa, e esses se aproximam muito mais da figura que temos em mente dos cientistas do que do médico “tradicional”.

 

Quer um exemplo? Uma olhadinha no currículo lattes de Ester Sabino, diretora do centro de estudos responsável pelo sequenciamento do coronavírus no Brasil, pode te revelar uma Medicina muito diferente do que você imagina!

 

A corrida para criar uma vacina contra o novo coronavírus
Um outro médico que foi dos consultórios para os laboratórios é Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor e um dos coordenadores do projeto brasileiro que busca uma vacina contra a covid-19. Especialista em imunologia, ele explicou, em entrevista ao jornal El País, qual é a técnica empregada para desenvolver a vacina aqui – um pouco diferente das adotadas por pesquisadores de diversos países ao redor do mundo que também correm para frear a doença.

 

A ideia consiste no uso de partículas artificiais muito semelhantes aos vírus, denominadas VLPs. Apesar da estrutura semelhante, elas não carregam o material genético dos vírus e, por isso, são mais seguras, o que é essencial quando se trata de um caso pouco conhecido como o do Sars-CoV-2. Ao redor do mundo, muitas indústrias farmacêuticas e laboratórios estão desenvolvendo vacinas mais tradicionais, que envolvem o uso de partículas do próprio vírus.

 

Além de Jorge Kalil e Edécio Cunha Neto, ambos médicos, o pesquisador Gustavo Cabral, formado em Ciências Biológicas, também está à frente do projeto. Apesar da graduação muito mais ampla – já que biólogos estudam, de forma geral, todas as formas de vida, macroscópica ou microscópica – seu mestrado, doutorado e pós-doutorado também são direcionados aos estudos de imunologia. Prova de que, para quem opta por estudar Ciências Biológicas, a graduação é apenas uma porta para um universo de possibilidades de estudo e atuação.

 

Saúde também é mental
À medida que a crise do novo coronavírus avança por aqui, percebemos que a ameaça não paira apenas sobre nossa saúde física. Muita gente tem se sentido deprimida ou ansiosa nas últimas semanas, e esse fenômeno desencadeado pela epidemia também não passou despercebido por alguns pesquisadores e profissionais. Em um esforço coletivo, o Laboratório de Terapia Ocupacional e Saúde Mental da UFSCar (LaFollia), junto com profissionais da Associação Brasileira de ensino em Psicologia e o coletivo recém-criado “Vozes da saúde mental na atenção à crise do Covid-19” lançou o guia “Cuidando da sua saúde mental em tempos de coronavírus”.

 

Segundo a terapeuta ocupacional Sabrina Ferigato, uma das responsáveis pela elaboração do material, o grupo identificou quatro fenômenos desencadeados pela epidemia e que estão produzindo sofrimento psíquico e emocional em muita gente. Eles são a pandemia do medo, o isolamento social, o universo de incertezas e a sensação de desamparo social/econômico/financeiro. “Atentos a esse processo, um conjunto de profissionais da saúde mental e pesquisadores articulou-se virtualmente para a produção de um material com orientações simples sobre como cuidar da nossa saúde mental e das nossas relações em tempos de covid-19”, explica. Estiveram envolvidos no trabalho terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, médicos e docentes que atuam no campo da saúde mental e saúde coletiva.

 

Sabrina destaca também que além da elaboração de materiais como esse e das contribuições conjuntas com a Psicologia – como orientações para cuidado mental e atendimentos online – os profissionais da Terapia Ocupacional atuam ainda com uma questão urgente em tempos de isolamento: a dificuldade de ajustar a rotina e as atividades em geral, como trabalho, lazer, autocuidado e outras. Afinal de contas, o terapeuta ocupacional trabalha justamente com a atividade humana, visando aumentar a participação social e melhorar as atividades cotidianas de pessoas em situação de vulnerabilidade. E, assim como outras profissões citadas aqui, os campos de atuação são muitos, passando pela saúde, educação, assistência social, cultura, segurança e até o terceiro setor.

 

A crise também é econômica
A pandemia do coronavírus é não só a “maior crise sanitária mundial da nossa época”, como afirmou a Organização Mundial da Saúde, mas também tem chances de se tornar a maior crise econômica dos últimos tempos, com risco de paralisia econômica, caos social e colapso institucional. Pelo menos é o que afirmam Maurício Metri e Eduardo Crespo, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ.

 

Eles fazem parte do Grupo de Trabalho sobre o Novo Coronavírus, formado recentemente na universidade, e lançaram no último dia 18 um documento indicando quais os possíveis efeitos do coronavírus no cenário econômico mundial e especialmente brasileiro. Entre esses efeitos, está a paralisação de algumas atividades, a inviabilização da atividade de trabalhadores autônomos, a falência de empresas, o risco de crise cambial e o aumento da miséria. Apenas para citar alguns.

 

O objetivo do texto, no entanto, vai além de analisar o cenário. Os dois economistas também apresentam medidas a serem adotadas pelo governo para reduzir esses danos, como flexibilização no pagamento de impostos para pequenas e médias empresas e a criação de programas para transferir rendas a trabalhadores desempregados, autônomos ou em afastamento. Essas medidas, vale lembrar, já estão sendo tomadas por vários países como a França e o Reino Unido. Em ambos, os governos anunciaram que vão, por exemplo, oferecer ajuda para que empresas privadas não demitirem funcionários.

 

Assim como para outros profissionais, a pandemia que atravessamos oferece muitos desafios para os economistas, sejam eles do setor privado ou público, atuantes na área de planejamento, análise ou mesmo pesquisa universitária. Afinal, atravessamos uma crise sanitária, social e econômica que evidencia, mais do que nunca, o valor único da ciência e a importância da atuação conjunta de diferentes áreas do conhecimento.

 

Fonte: Guia do Estudante.


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