“Nossa, que exagero. Você acha mesmo que precisa procurar um psiquiatra?”, “Depressão? Isso é frescura. É desculpa de quem não quer fazer nada”, “Você é um ingrato(a) ao falar de suicídio. Tem tanta gente com problemas mais graves que o seu.”
Essas são algumas frases muitas vezes ditas por pessoas “bem-intencionadas” mas que, na verdade, revelam uma grande insensibilidade e, principalmente, um desconhecimento do que é a depressão. Esse transtorno atinge nada menos do que 4,4% da população global e 11,5 milhões de brasileiros. É a primeira causa de incapacidade no mundo e afeta pessoas de todas as idades e classes sociais.
Mas, mesmo sendo uma realidade tão evidente (e preocupante), ainda há muitos tabus em torno da depressão. Para ajudar a mudar isso, uma coalizão liderada pela farmacêutica Janssen, do grupo norte-americano Johnson & Johnson, junto a instituições públicas e privadas — entre elas a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), O Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivo — lançou, nesta quarta-feira (20), o movimento Falar Inspira Vida.
A ideia é requalificar a conversa sobre depressão pelo conhecimento, segundo o psiquiatra Fábio Lawson, diretor médico da Janssen. Uma das principais ferramentas da iniciativa é um guia que explica o que é depressão, as diferenças entre transtornos mentais, a importância de falar sobre o assunto e, principalmente, por que não abordá-lo com comentários que minimizam a situação pela qual a pessoa está passando (as frases do primeiro parágrafo estão nele).
Também estão previstas ações em diferentes plataformas — redes sociais, podcasts, eventos virtuais — e com públicos diversos: pacientes, profissionais de saúde, influenciadores e população em geral.
Por que precisamos falar sobre isso
A depressão é em uma doença poligênica, isto é, que envolve diversos genes. Mas não é fruto somente da nossa formação genética: fatores do ambiente em que vivemos e do nosso estilo de vida contribuem para que o transtorno dê as caras (a chamada epigenética). Por isso não pode ser tratada apenas adotando atitudes positivas, como muitos acreditam.
Aliás, nem sempre ela se manifesta da forma “clássica”: com tristeza e falta de motivação. Há uma série de manifestações depressivas que, muitas vezes, não são percebidas como tal. Falta de desejo sexual, dificuldade para dormir, agitação e baixa concentração são alguns dos sinais não tão óbvios do transtorno. Juntando isso ao estigma envolvendo a doença, tem-se um problema ainda maior: a falta de tratamento.
Um estudo apresentado no lançamento do Falar Inspira Vida pelo psiquiatra Jair Mari, chefe do departamento de psiquiatria e psicologia médica da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, revela que apenas 15% dos brasileiros com depressão recebem tratamento adequado.
E as consequências disso podem ser fatais: o agravamento da doença pode levar, por exemplo, a atitudes suicidas. “Na depressão grave, é como se a alma da pessoa tivesse ido embora”, ilustra Mari. Ele explica que a sensação de solidão e angústia se agravam a tal ponto que a pessoa considera que viver não vale mais a pena. Segundo Carlos Correia, representante do CVV, o centro de acolhimento recebe 10 mil contatos de pessoas do país todo por dia para compartilhar suas angústias.
Além do tratamento médico, o sofrimento desses indivíduos pode ser amenizado a partir de novas abordagens. “Imagine quebrar seu braço e alguém falar ‘nossa, por que você precisa ir ao médico?’”, exemplifica a psicóloga Ines Hungerbühler, chefe de psicologia da Vitalk, ferramenta de atendimento virtual a pacientes com problemas de saúde mental e que também faz parte da coalizão. É o equivalente ao que muitas pessoas depressivas ouvem quando compartilham sua dor. Por isso, é urgente informar sobre esse problema para que todos saibam como agir perante ele.
Para ter mais informações sobre o movimento e baixar o guia, visite www.falarinspiravida.com.br. Se precisar buscar ajuda, consulte um especialista ou procure plataformas de atendimento virtual, como o CVV. A rede realiza atendimentos gratuitos de apoio emocional e prevenção ao suicídio. Há a garantia de sigilo e o acesso se dá via e-mail, telefone (188) ou chat 24 horas. Acesse o site.
Fonte: Revista Galileu
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