O golfinho é um animal marinho que pode saltar até cinco metros acima da água, nadar a uma velocidade de até 40 quilômetros por hora e mergulhar a grandes profundidades. Ele é o tipo de animal que nos ganha pelo coração. Podem não ser as criaturas mais fofas do mundo, mas com certeza, possuem um outro tipo de beleza que realmente encanta. Além de serem extremamente inteligentes por natureza, ainda são muito sociáveis.

Existem vários mistérios que cercam esse animal. Principalmente por terem desenvolvido grandes habilidades cognitivas. Uma dessas habilidades é bem parecida com uma forma que nós comemos.

Sabe quando o pacote de salgadinhos já está no fim e aí você levanta a embalagem e vira para sacudir o resto para a sua boca? Os golfinhos fazem exatamente isso com os peixes que estão dentro de conchas.

Forma de comer

Esse truque é raro de ser documentado. Mas ele foi observado em Shark Bay, na Austrália. Nessa região os golfinhos usam esse truque para conseguir comida. Eles perseguem os peixes até que eles entrem nas conchas vazias e então pegam as conchas, a levam para a superfície e com seus bicos as levantam e empurram a presa para a sua boca.

Esse truque é chamado, em inglês, de “shelling” ou “conching” que quer dizer algo como “sair da casca”. Os cientistas veem que esse hábito é bem interessante principalmente pela maneira como os golfinhos aprenderam ele, que foi observando e imitando uns aos outros.

As habilidades dos golfinhos, em sua maioria, são aprendidas com o ensinamento de suas mães. Mas o conching foi aprendido por eles através da imitação dos movimentos de “amigos”, que são animais não relacionados biologicamente.

Essa descoberta foi feita por uma equipe de pesquisadores internacional. E ela é mais uma evidência da inteligência dos golfinhos e da capacidade de aprendizado que eles tem. Tanto dentro como fora das suas famílias nucleares. Capacidade essa que, geralmente, é associada a primatas avançados como os orangotangos, chimpanzés e seres humanos.

Estudo

Suspeitar que os golfinhos aprendam estratégias de alimentação com seus colegas é normal. Mas saber o que motiva esse comportamento, é que é desafiador e precisa de anos de dados detalhados de um grande número de indivíduos.

E o estudo liderado por Simon Allen da Universidade de Bristol, e Michael Krützen da Universidade de Zurique foi o que chegou mais perto de descobrir, até hoje. Ele começou em 2007, e os pesquisadores ficaram 11 anos coletando informações genéticas e comportamentais de mais de mil golfinhos. Detre eles, foram identificados 19 que fizeram o conching 42 vezes.

O número baixo foi, talvez, pela dificuldade e registrar o truque. O truque tem que acontecer de uma maneira visível e perto do barco dos pesquisadores quando eles estão por lá. E ele é muito rápido. Dura apenas dois segundos. Por isso, é possível que o comportamento aconteça com frequência mas os pesquisadores não vejam.

Além disso, essa tática pode não ser usada o tempo todo e não ser todos os golfinhos que sabem usá-la.

Aprendizado

Um fator interessante era que, todos os golfinhos que praticavam o conching tinham uma coisa em comum: o convívio social. De acordo com uma análise computacional, os animais, por mais que não fossem diretamente relacionados, pertenciam a vários dos mesmos grupos e redes sociais.

“Quanto mais tempo dois indivíduos passam juntos, maior a probabilidade de copiar o comportamento um do outro”, explicou Sonja Wild, ecologista comportamental do Instituto Max Planck e uma das autoras do novo estudo.

De acordo com Wild, depois que uma onda de calor bem grave atingiu Shark Bay, em 2011, várias mortes na vida marinha local aconteceram. E a frequência desse truque de alimentação aumentou um pouco.

Talvez, o conching tenha se tornado uma forma dos golfinhos encontrarem mais comida. Mas infelizmente muito pouco é sabido sobre esse comportamento. Mas de qualquer forma, essas observações mostram como os golfinhos estão próximos do reinado de habilidades primatas.

 

Fonte: NY Times


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