Gabinete de Soluções, exposição individual de Guga Ferraz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, é um desdobramento da investigação do artista sobre a cidade. A mostra busca ressignificar a ideia de “gabinete de crise”, que costuma ser organizado pelas autoridades para atender a demandas urgentes.

 

A crise é o status quo na cidade e no país como um todo. Enraizada no cotidiano, essa palavra tão repetida nas mídias de massa parece não provocar surpresa nos brasileiros. Uma vez que evidenciar um estado de crise seria redundante, Guga Ferraz apresenta soluções e convida o público a fazer o mesmo. A mostra é composta por projetos de soluções do artista para problemas urbanos, alguns deles utópicos – apresentados por meio de desenhos –, como um projeto de reconstrução do Morro do Castelo, e outros já realizados – apresentados por meio de registros -, como um tobogã que permite ao público deslizar na paisagem para acessar a praia.

 

Desde o início de sua trajetória, ao participar da ação coletiva Atrocidades Maravilhosas, no ano 2000, o principal objeto de investigação de Guga Ferraz é a cidade. Há quase vinte anos trabalhando, sobretudo, com intervenções em espaços públicos, o artista levanta questões como a violência urbana, problemas habitacionais, processos de exclusão na cidade, relações entre o indivíduo e o meio urbano e a própria cidade como lugar. Um bloco da exposição apresenta vestígios de suas interferências na paisagem urbana realizadas desde o início da década de 2000, como o emblemático Ônibus Incendiado (2003), produzido a partir da colagem de adesivos em formato de chamas em placas de sinalização de pontos de ônibus, como forma de sinalizar os recorrentes casos de incêndios a veículos que ocorriam no Rio de Janeiro. Guga também apresenta interferências que realizou nos transportes públicos, como Proibido ser cadeirante (2011), que denuncia a falta de acessibilidade nos ônibus, e Em caso de assalto, ao avistar uma arma de fogo, não reaja (2006), que oferece instruções aos passageiros sobre como (não) reagir diante de um assalto. A apresentação desses trabalhos produz uma pequena retrospectiva que visa apontar para a atualidade dos temas abordados pelo artista ao longo de sua trajetória.

 

Além de projetos e vestígios de intervenções na cidade, Guga apresenta desenhos, pinturas e esculturas – em grande parte inéditas e produzidas especialmente para a exposição – onde observamos desdobramentos de seu pensamento sobre a cidade. Pela primeira vez, o artista apresenta trabalhos em vídeo, mídia que começou a experimentar durante a preparação da mostra.

A exposição pretende tornar-se um lugar de convívio e trocas. Ao longo do período

expositivo, convidados de diversos campos ocuparão a galeria, junto ao público, para

promover debates sobre a cidade, expor ideias e soluções. No dia 28 de setembro, será realizado no auditório do Centro Municipal de Arte Hélio Oititica o encontro “Cidade Ocupada”, com convidados cujas trajetórias esbarram na de Guga e marcam o cenário artístico carioca dos anos 2000.

 

A curadoria da exposição é assinada por Thiago Fernandes, historiador da arte que há alguns anos vem desenvolvendo pesquisas sobre o trabalho de Guga Ferraz e sobre a geração de artistas cariocas que utilizou as ruas como campos de ação na virada do século XXI.

 

Encontro Cidade Ocupada

A exposição individual de Guga Ferraz, Gabinete de Soluções, apresenta em sua programação o encontro Cidade Ocupada. O artista em exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica faz parte de uma geração que, no início dos anos 2000, em meio a um circuito artístico incipiente no Rio de Janeiro, decidiu criar seus próprios circuitos atuando em coletivos e tomando as ruas como campos de ação. O encontro Cidade Ocupada toma emprestado o nome do livro de Ericson Pires, poeta, artista e grande pensador falecido em 2012, que acompanhou essa geração e transitou entre coletivos que menciona em seu livro.

 

O evento, que será realizado no auditório do CMAHO, consiste em um encontro de amigos que fizeram parte das histórias contadas por Ericson em seu livro e possuem papel importante na trajetória artística de Guga. Entre as presenças confirmadas estão Alexandre Vogler, André Amaral, Clara Zúñiga, Ducha e Ronald Duarte, além de Guga Ferraz e do curador Thiago Fernandes, que fará a mediação do evento. O encontro pretende contextualizar o trabalho de Guga e contribuir com pesquisas sobre a arte carioca dos anos 2000, além de prestar homenagem a Ericson Pires, figura de extrema importância para essa geração de artistas.Localizado na Praça Tiradentes, coração do centro da cidade, em setembro o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica completa 23 anos em atividades desde a abertura. Para celebrar o marco, o espaço oferece uma programação completa para os quatro sábados do mês.

 

Organização

Guga Ferraz e Thiago Fernandes

Data: 28/09/2019

Horário: 14h às 17h

 

Dia 7/9, sábado

EM PARCERIA COM A RADIO SAARA, ARTISTA PROPÕE INTERVENÇÃO SONORA NO CENTRO MUNICIPAL DE ARTE HÉLIO OITICICA PARA A PROGRAMAÇÃO DE ANIVERSÁRIO

Projeto é o primeiro a ser proposto pelo artista dentro do Centro Cultural e visa a democratização dos espaços públicos de arte. Em parceria com a Rádio Saara (http://www.radiosaara.com.br/), o artista Carlos Gabriel apresenta a partir do próximo dia 02.09 o projeto Instalação Sonora no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e na região do entorno. O projeto consiste em promover, a partir de 15 inserções diárias na Rádio Saara, a divulgação da programação do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica durante o mês de setembro. A Rádio Saara “tem como objetivo principal fomentar o comércio do maior shopping a céu aberto da América Latina – SAARA – transmitindo sua programação de utilidade pública e popular para as 9 ruas que compõem a região comercial”.

 

Dia 7/9, sábado
PROJETO GIRA CHEGA AO CMAHO
E COMPÕE O CICLO DE ABERTURAS DO MÊS DE SETEMBRO

Erro! O nome de arquivo não foi especificado.Em sua 40 edição, o Projeto GIRA leva para o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, sua feira de artigos usados – além de atividades práticas e teóricas – para estimular reflexões acerca dos impactos culturais e subjetivos do “vestir” e trazer novos olhares para a forma como nos relacionamos com aquilo que consumimos e descartamos

Nesta edição, em homenagem aos 23 anos do C.M.A.H.O, o Projeto GIRA se inspira no conceito dos “Parangolés” do artista experimental Hélio Oititica para explorar e expressar as potências do vestir. Com seus “Parangolés”, Hélio marcou a história da arte brasileira e mudou pra sempre o papel do espectador, transformando-o em parte essencial da obra. Ao vestir-se de cor, matéria e som, indivíduo e obra se incorporam, recebendo um ao outro, manifestando uma existência imanente e etérea.

Assim como nas roupas, os corpos vêm e vão, mas a materialidade e seus símbolos permanecem, podendo ser ressignificados a cada incorporação. É nessa ressignificação que o movimento da vida se dá, fazendo circular as energias, transmutando seus significados. Através da circulação de peças usadas, o Projeto GIRA procura estimular reflexões acerca dos acúmulos (materiais e subjetivos) que carregamos e o destino que pretendemos dar à eles, trazendo questionamentos sobre o que, por que e como consumimos, e quais impactos isso tem sobre nossa vida e a do planeta, frente à ameaça de finitude de nossos recursos naturais e humanos.

 

PROGRAMAÇÃO:

| Roupas que contam história | Sala Multiuso (?)

14:30 – 15:30

Será apresentado um breve panorama da história da indumentária no Brasil e no mundo, desde seu surgimento até os dias atuais, traçando diálogos entre suas funções práticas e simbólicas e afirmando sua importância na construção do indivíduo e da história da sociedade e refletindo sobre o futuro dessas relações em uma sociedade assombrada pela automatização e finitude de recursos naturais e humanos.

 

| Corpo.Território.Memória | Sala Multiuso (?)

16h – 18h

A partir da análise da importância do trabalho dos chamados garimpeiros urbanos – que coletam objetos descartados e os inserem de volta em feiras conhecidas como “Shopping chão”, os convidados irão trazer suas visões acerca do impacto que a estética provoca nas relações entre o indivíduo e o mundo. Nossos corpos, assim como nossas roupas, carregam símbolos que podem causar as mais diferentes reações e emoções. Como podemos, através da ressignificação dos conceitos de consumo e descarte, transmutar seus significados em forma de resistência e acolhimento?

 

| Qual é o Parangolé? | Área externa

13h – 19h

Espaço de livre criação e experimentação têxtil a partir dos conceitos de desintelectualização do fazer artístico e do reaproveitamento de materiais. Serão disponibilizados linhas, tintas, stencil, aviamentos, retalhos e peças que seriam descartadas para que o público possa interferir em peças levadas por eles ou adquiridas durante o Projeto GIRA ou simplesmente criar criar o seu próprio “Parangolé”. A atividade visa estimular a criatividade do público, ressignificar seu olhar sobre o descarte e incentivar o aumento da vida útil e afetividade das peças.