Duas pessoas, que moram na cidade de São Paulo, marcam um encontro por meio de aplicativos de relacionamento. Enquanto se preparam, compartilham memórias sobre amores, desejos, falhas, desculpas, inadequações e solidão. Em síntese, este é o enredo que norteia o espetáculo [A] Gente, da Cia Trilha de Teatro, que estreia no próximo dia 16 de março, às 20h, no Teatro de Contêiner Mungunzá.
A montagem, que tem direção de Ronaldo Fernandes, traz no elenco os atores Fábia Mirassos e Guilherme Corrêa, que assinam a dramaturgia juntamente com o diretor. [A] Gente fica em cartaz até o dia 31 de março, com sessões sempre às segundas e terças, às 20h.
Concepção – O espetáculo nasceu de encontros entre Fábia Mirassos, Guilherme Corrêa e Ronaldo Fernandes. Nestas reuniões, foram resgatadas memórias que trouxeram à tona percepções e lembranças de antigas relações que compõem a dramaturgia da montagem. Os figurinos foram criados por Paola Caruso, enquanto a cenografia é assinada por Márcio Äráujo e Ronaldo Fernandes.
“A utilização dos aplicativos de relacionamento está cada vez mais presente no mundo contemporâneo. As relações estão sendo cada vez mais construídas a partir deles. Neste mundo virtual surgem questões como: qual imagem me define? Que corpo me traduz? Com que roupa eu vou? Essas provocações foram os pontos de partida para a criação do espetáculo”, afirma o diretor Ronaldo Fernandes.
O diretor ressalta ainda que “o principal fator para a construção da autoimagem é o outro. Nós só existimos a partir do outro. Porém, a imagem que o outro constrói, não sou eu, já que será sempre uma imagem construída a partir dos sentimentos e experiências que o outro cria em relação à imagem que eu represento, portanto, não é real”.
Autoimagem – No livro “O Que É Imaginário”, François Laplantine e Liana Trindade afirmam que “o real é a interpretação que os homens atribuem a realidade”. Dentro desta perspectiva, o diretor afirma que “a minha autoimagem, que só é criada a partir do outro, não corresponde à imagem que o outro criou de mim”. Ele acrescenta ainda que “a proposta do espetáculo é investigar as questões relacionadas à construção dessa imagem (autoimagem e do outro) em um tempo onde os aplicativos de relacionamentos estimulam uma corrida em busca do simulacro perfeito da realidade, de um hiper-real mais real que o real, portanto mais interessante que a própria realidade, já que no mundo virtual desses aplicativos, podemos ser tudo, menos real”.
Fernandes conclui, ressaltando que “isto é a pós-modernidade: preferimos o simulacro ao real. Mas ‘sobreviver ao outro, sobreviver a qualquer custo e em qualquer condição, venha o que vier, fazendo o que for preciso’ (Bauman) será sempre a melhor saída. É preciso ser [A]Gente de você mesmo para não se importar com a imagem que o outro cria de você”.