A mostra coletiva “ÁGUA DA PALAVRA/ QUANDO MAIS DENTRO AFLORA”, em cartaz na Adelina – Instituto Cultural, traz obras de dez artistas brasileiros. A exposição, que propõe diálogos entre as artes visuais e a palavra como matéria-prima, foi apresentada pela primeira vez no HilbertRaum, em Berlim e, para a remontagem em São Paulo, a curadora Galciani Neves reúne os artistas Anna Guilhermina, Fabio Morais, Isabella Beneducci Assad, Lívia Aquino, Karina Machado, Marta Matushita e Ricardo Barcellos, Jorge Menna Barreto, Elida Tessler e Deco Adjiman.

 

Na primeira montagem da exposição em Berlim, a ideia era apresentar processos de criação de artistas que se relacionavam com obras de escritores brasileiros. Os artistas buscaram inspiração nas obras e universos dos seguintes autores: Ana Cristina Cesar, Clarice Lispector, Guilhermina Cavalcanti Bulcão (Miná), Hilda Hilst, Paulo Leminski e João Guimarães Rosa.

 

“Quando recebi o convite para assinar a curadoria da mostra em Berlim, parti de um problema bem elementar: o que nós, artistas e curadora brasileiros apresentaríamos para Berlim, levando em consideração nosso momento histórico e político? A palavra era nosso abrigo, nosso lugar de experimentação. Daí, nos incentivamos por processos de tradução, não no sentido estrito de tradução de uma língua para outra.

 

Mas em um sentido amplo, de uma linguagem para outra, e no nosso caso, seria da literatura para as artes visuais”, explica a curadora Galciani Neves. Para a versão brasileira da mostra, Galciani convidou outros artistas e acrescentou outras obras de Karina Machado e Lívia Aquino. “Nesse percurso de volta, a tradução deixa de ser nosso único foco. Na conversa com os artistas, pensamos como a força da palavra pode ser uma força de resistência e de luta”, diz.

 

O título da exposição surge de um verso de uma música de Caetano Veloso e Milton Nascimento, A Terceira Margem. Nas palavras de Galciani Neves, “O título da mostra, explícita referência aos versos da música, tenta evidenciar a palavra e, junto com ela, a sua pronúncia e a sua força de narrar e ficcionalizar, como fonte inesgotável de sentidos: sempre a serem refeitos, exploráveis, manufaturados, em plena abundância de algo a dizer, pensar e inventar sobre o mundo.

 

Podemos, assim, admitir nessa exposição, a palavra como um rio imenso, de águas profundas a se mergulhar, cujo percurso é um abismo sem fim e em cujas margens não cartografáveis os avanços de poder não penetram, pois a jurisdição é a do desejo, sempre mutante, sempre insistente, sempre incontestável”. “A palavra foi nossa matéria-prima, mas ela está presente em todo o processo da exposição até a sua materialização em obra de arte”, diz a curadora.