O espetáculo Chão de Pequenos, da Companhia Negra de Teatro, discute intolerância e preconceito por meio da história de dois jovens abandonados por suas famílias, a partir de uma dramaturgia baseada em histórias reais colhidas em pesquisas e entrevistas da equipe com várias famílias e pessoas
relacionadas com o tema da adoção. A peça fez sua estreia em São Paulo, no Sesc Pinheiros, em setembro deste ano. O espetáculo recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante para Ramon Brant no 5º Prêmio Sinparc de Artes Cênicas.
Formada pelo ator e diretor Felipe Soares, pelo ator e iluminador Eliezer Sampaio e com colaboração artística do ator Ramon Brant, a Companhia Negra de Teatro tem circulado pelo Brasil e pelo exterior com o espetáculo Chão de Pequenos, que tem direção de Tiago Gambogi e Zé Walter Albinati.
No palco, os atores contam a história de dois jovens, Lucas Silva e Pedro Henrique, entre a infância e a adolescência, marcados pela orfandade e o abandono da própria família. Dos orfanatos às ruas das grandes cidades, a fábula dos garotos revela a importância da empatia, do diálogo e do afeto nos dias de hoje, numa sociedade marcada pela intolerância e pelo preconceito.
“Acredito que o espetáculo contribui para que o tema da adoção tenha mais
visibilidade e que a discussão se estabeleça também por meio da arte”, diz
Ramon. “O espetáculo é, antes de tudo, sobre amizade. Sobre o encontro que
presentifica o cuidado no trato com o outro. Sobre querer ser visto em um
mundo de visão anestesiada. Existimos por causa dos outros, para os outros,
por nós”, completa.
Na trajetória da Companhia Negra de Teatro, os artistas contam também com o apoio de outros colaboradores empenhados em discussões sobre questões raciais no Brasil. Em Chão de Pequenos destaca-se a colaboração da escritora Ana Maria Gonçalves – autora do premiado romance Um Defeito de Cor – que tem textos utilizados na peça. As performances do grupo são sempre autorais e questionam problemas sociais graves, como o racismo e as desigualdades sociais.
“Neste espetáculo abordamos o fato de negros serem mais preteridos do que
os brancos no momento de uma adoção”, conta Felipe Soares. O artista
destaca ainda outra performance do grupo, chamada Invisibilidade Social, em
que uma pessoa negra se deita no chão vestindo um terno e segurando uma
pasta, elementos suficientes para recepções muito inusitadas da parte do
público. “É muito raro que se humanize um corpo negro deitado no chão da
cidade com esse tipo de roupa – houve um dia em que até chamaram a polícia
durante a performance. Se o corpo deitado no chão fosse de uma pessoa
branca, as reações seriam completamente diferentes”, diz o artista.
“É interessante perceber o que o espetáculo causa principalmente nas mulheres, nas
mães e nas pessoas ligadas à maternidade. O tema da adoção é até hoje um tabu
na sociedade brasileira, com poucos avanços. A orfandade e a adoção se abraçam
entre os públicos que a gente visita”. Ramon Brant