O espetáculo “Diana” será o primeiro de uma intensa comemoração de duas décadas de criação do Ágora Teatro; um espaço que há muito vem marcando uma posição de referência na cena paulistana e também tem sido palco de encontros e debates acerca da condição humana, do destino e da vida.
Esse espaço tem em sua trajetória proporcionado ao “sujeito artista” e ao público uma sequência de questionamentos com o intuito de ser agente provocador e fomentador de horizontes possíveis nas diversas e dissonantes conjunturas que se apresentam ao longo da história e nesse momento de amplo retrocesso vivido no Brasil e no mundo.
Trata-se de espaço-lugar habitado por artistas inquietos com trajetórias e caminhos continuados nesses tempos sombrios. A ideia de produzir o trabalho que marcou a abertura dessa “Ágora” quer demarcar a simbologia do nascimento de alternativas capazes de propor a reflexão. Como metáfora vamos partir do universo simbólico alimentado pelo espetáculo Diana em confrontação com o lugar e a conjuntura na qual nos metemos nesses vinte e tantos anos de historia e “estórias”, que por aqui perpassaram e foram debatidas a guisa da nossa improvável e sempre inesgotável exaustão.
Como diretor dessa “primeira” aventura comemorativa saudável, mas de fundo denso e cortante em que balizam-se as desmedidas de uma personagem que desiste das pessoas e decide se relacionar com as coisas, que amanhece encalacrada de “fantasias reais” numa possível e alienada “loucura,” plainando sobre um determinado isolamento e individualismo quase sempre recheado de assombros e rompantes conservadores, que a elevam a condição de anormalidade e que faz o adjetivo em tempos atuais parecer até normal é para mim um imenso caminho de possibilidades; de se permitir jogar com a cena e proporcionar no campo do debate a real disputa de um certo tipo de pensamento opressor que nesse instante toma a América Latina e os mais variados « Brasis » que habitam as nossas terras.
Em tempos de rupturas democráticas e a possível legitimação de um estado que se ampara e se alimenta no discurso de ódio, Diana é como um reflexo que “margeia” a condição humana em toda a sua complexidade e a capacidade de refletir sobre a vida.