Com direção de Guilherme Carrasco (Teatro do Osso), sete atores da Escola de Arte Dramática (EAD) da USP estreiam “dramaturgia em processo” dia 4 de fevereiro, no Teatro Cacilda Becker.
No tarô, a Carta Zero ou Carta do Louco não tem lugar fixo: ela é tanto considerada a primeira quanto a última do baralho, de número 22, limite a partir do qual o jogo se reinicia. No tarô mitológico, ela é também a carta de Dioniso, deus do vinho, da fertilidade e do teatro. Essa ambiguidade está no cerne do espetáculo cartaZERO, do Coletivo Zero, em cartaz de 4 a 20 de fevereiro no Teatro Cacilda Becker.
No palco, sete atores-criadores egressos da Escola de Arte Dramática (EAD) da USP vestem suas máscaras para anunciar o fim (ou recomeço) do mundo em que vivemos. Atônitos, eles se perguntam: por onde devemos começar? Pelos ritos que inauguram o fazer teatral? Pela impossibilidade do sonho diante da fome? Pelas palavras de uma dramaturgia que desperte intérpretes inanimados? Ou pelo efeito que o teatro provoca em um corpo?
O espetáculo definido pelos autores como “uma dramaturgia em processo” começou a ser concebido em junho de 2020, momento mais dramático da pandemia, de crise no setor cultural brasileiro e erupção de regimes autoritários mundo afora. Instigados pela inesperada atualidade da peça Pano de Boca, escrita nos anos 1970 pelo dramaturgo paulistano Fauzi Arap, que conta a história de um grupo de atores que volta a ensaiar no fim da ditadura num teatro em ruínas, elaboraram o projeto, que foi contemplado pelo ProAC Primeiras Obras.
A partir daí, a criação foi recebendo outras camadas e referências, como a tragédia As Bacantes, de Eurípedes, e reflexões do psicólogo, poeta e cineasta Alejandro Jodorowsky. O material desenvolvido pelos atores passou pelo tratamento da dramaturgista Ramilla Souza e dos provocadores Antônio Rogério Toscano, Eleonora Fabião e Tarina Quelho.
Em uma época de ocaso das utopias e de fragmentação do fazer coletivo, cartaZERO elabora o dilema sobre o que se deixa morrer e o que se entende por recomeçar. Nesse percurso tateado às cegas não existe caminho correto, apenas uma porta-abismo na qual as personagens ameaçam pular a todo momento. E oferecem ao público a potência anárquica de um ensaio compartilhado.
Sinopse
Um grupo de atores que se encontra em um espaço atemporal tenta construir uma peça de teatro e reflete os impasses da coletividade hoje.
Ficha técnica – cartaZERO:
- Direção: Guilherme Carrasco
- Assistente de direção: Maísa Amaral
- Idealização: Carolina Viana, Guilherme Ciccotelli e Thais Teles
- Dramaturgista: Ramilla Souza
- Dramaturgia: coletiva e Monalisa Silva
- Preparador Corporal: Cristian Duarte
- Elenco: Andreya Sá, Bárbara Arakaki, Bruna Assis, Carolina Viana, Diogo Cintra, Guilherme Ciccotelli e Thais Telles
- Direção Musical: Kinda Maria
- Iluminação: Dodi Leal
- VJ Mapping: Luisa Drua
- Foto e Vídeo: Lorena Rezende
- Provocadores: Antônio Rogério Toscano, Eleonora Fabião e Tarina Quelho
- Direção de Pesquisa e Prospecção de Materiais: Carolina Rosa
- Figurino e Cenário: Coletivos
- Produção: Aflorar Cultura e Luiza Moreira Salles
- Colaboradores: Monalisa Silva, Giulia Ouro e Leonardo Birche
- Assessoria de imprensa: Ofélia Comunica
- Arte: Rafael Américo
Serviço:
Espetáculo cartaZERO
- De 4 a 20 de fevereiro de 2022
- Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h
- Teatro Cacilda Becker
- Rua Tito, 295, Lapa
- Ingresso: R$ 10