Granizo, o pão de trigo escurece o céu, trata de maneira histórica e dialética de uma revolta que acontece em uma rua, na frente de uma padaria, num momento de extremo desemprego, quando um trabalhador se revolta contra a injustiça cometida a uma viúva e mãe de 7 filhos.
A peça é livremente inspirada em um texto fragmentado e inacabado de Bertolt Brecht (A Padaria), uma análise teórica/histórica de Daniel Bensaid (Os Despossuídos) e o rascunho de um libreto de ópera de Mário de Andrade (O Café), propondo uma narrativa sob o ponto de vista de pessoas desempregadas.
O conceito de ponto de vista e o enquadramento cinematográfico se manifestam na encenação no uso do cenário – uma enorme armação sobre rodas com uma porta de correr (de loja) no centro e dois quadrantes laterais – que, ao mesmo tempo, representam as paredes e a porta da padaria onde se desenvolve a narrativa, e a tela de cinema e os enquadramentos cinematográficos nos quais atores e atrizes são vistos e ouvidos pelo público, narrando e agindo na história.
Referenciando os cinemas itinerantes que existiam na época do primeiro cinema, onde o público se posiciona diante de uma tela/moldura, o teatro acontece “enquadrado” e “não enquadrado”, o que faz com que o enquadramento cinematográfico, seja ponto nevrálgico da encenação.