Comemorando 30 anos de trajetória, a Cia. dos Atores abre as portas de sua casa, a Sede da Cia. dos Atores, na Lapa, para apresentar seu mais novo espetáculo, “Insetos”, em curta temporada de duas semanas.
Com texto original de Jô Bilac adaptado pela Cia. dos Atores e pelo diretor Rodrigo Portella, a montagem traz quatro fundadores da companhia no elenco: Cesar Augusto,Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto e Susana Ribeiro.
Concorrendo a 12 categorias dos principais prêmios de teatro, “Insetos” fez sua estreia nacional em março deste ano, no CCBB Rio, e seguiu em temporada pelas unidades de Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, tendo ainda passado pelos festivais de Curitiba, de São José dos Campos e do Palco Giratório de Porto alegre, do SESC.
Repetindo aqui a parceria com a Cia. dos Atores após o sucesso de “Conselho de Classe” (2014), Jô Bilac propôs dar voz aos insetos para este novo espetáculo do grupo. São doze quadros que se entrelaçam formando a narrativa, na qual o autor fala sobre medo e manipulação. Como uma fábula, o texto traça paralelos entre a natureza e questões políticas e sociais da atualidade – evocando comportamentos coletivos e individuais que vão sendo revelados na voz de diferentes insetos: cigarra, gafanhoto, barata, louva-a-deus, besouro, mariposa, borboleta, mosquito, cupim e formiga, entre outros.
Em cena, uma situação de êxodo gera um desequilíbrio imenso na natureza. Há escassez, tirania e guerra. O colapso está instaurado. Os gafanhotos tentam destruir tudo, mas se veem diante de uma nova ordem imposta pelo louva-a-deus. Nesse universo, o olhar sobre o humano ganha uma nova perspectiva, atravessada pela realidade dos insetos. “O Jô usa os insetos na dramaturgia em analogia com personagens da nossa história, situações que estamos vivendo atualmente. Temos figuras do poder, estratos sociais, mas sem uma nomeação direta”, explica Susana Ribeiro. “Queremos usar desequilíbrios da natureza como espelho da sociedade”, comenta Cesar Augusto.
O cenário do espetáculo, assinado por Beli Araújo e Cesar Augusto, é repleto de pneus, que criam diferentes quadros para as cenas. Os figurinos de Marcelo Olinto trazem referências ao universo dos insetos – como asas e antenas – mas não são a representação fiel desses bichos. “Essa peça me permite trabalhar o lugar do atrito entre o cômico e o trágico, refletido no estado de guerra proposto pelo texto. Trabalhamos entre o universo microscópico e invisível dos insetos e o nosso universo”, diz Rodrigo Portella.
Para a companhia, o espetáculo é também uma celebração. “Em cena, temos 30 anos de convívio. Nos conhecemos bastante e já sabemos o que esperar do outro. Temos muito menos atrito. Olhamos um para o outro em cena e nos reconhecemos”, diz Gustavo Gasparani. “Acho que uma palavra que nos definiria seria inquietação. E uma das coisas boas é que nos colocamos o desafio de trabalhar com pessoas novas, como o Rodrigo (Portella), que é de outra geração. Essa inquietação e essa disponibilidade para o novo nos acompanha desde 1988”, completa Marcelo Olinto.