Em estrutura poética e com um forte apelo ao ritmo jazzístico do seu discurso, uma mulher conta que Jaz acaba de ser estuprada. A peça discute a violência em um modelo de sociedade que historicamente subjuga a mulher; não por acaso Jaz apelida o estuprador como “inquisidor” e “homem com o olhar de cristo”. As referências são, respectivamente, os tempos de perseguição às mulheres – conhecidos como o de ‘caça às bruxas’ – e o fundamentalismo religioso que enclausura a mulher em modelos morais. O nome Jaz dá vazão a interpretações múltiplas, como o gênero musical do jazz, fundamental na obra de Koffi, a planta jasmim e o verbo ‘jazer’, usado com frequência para falar sobre um desejo de descanso para quem morre.
“A narrativa não é linear e o público vai captando aos poucos os detalhes sobre a situação contada por essa mulher”, diz Sofia. Além da atriz, está em cena um videomaker (Flavio Barollo) e uma cantora (Ligiana Costa). O videomaker acompanha a mulher o tempo inteiro, propondo com sua câmera um comportamento masculino que aprisiona, possui e recorta os ângulos que deseja obter; já a cantora cria camadas sonoras com sons que se alternam entre cantos, ruídos, respirações e outros recursos que movimentam a cena. O cenário faz alusão a um canteiro de obras. “É um lugar precário que representa tanto o lugar onde Jaz mora como o banheiro público em que ela é estuprada”, conta Sofia. A artista complementa que ela e a diretora Joana Dória optaram por ambientar a cena em um espaço não realista que também tem uma dimensão simbólica, o espaço do trauma.
“Jaz assume traços surrealistas, com um texto em espiral vai oferecendo pistas sobre o que está ocorrendo aos poucos”, ressalta Sofia, destacando que essas características exigiram que, após cada etapa da tradução, a artista promovesse leituras dramáticas para entender se havia coesão entre o texto escrito e o texto falado, com os sentidos e ritmos propostos pelo original de Koffi.
Sextas e sábados, 21h30. Domingos e feriados, 18h30