“Na exposição, apresentamos todo o processo criativo que uma banda ou fanzine deveria passar para criar conteúdo audiovisual na época, como: desenhos para camisetas e cartazes de shows feitos manualmente com nanquim e papel vegetal, releases datilografados e ilustrados com colagens e letra set, diagramações executadas através de técnicas de ampliação ou redução em xerox, se tornando nosso primeiro curso de design e criação autodidata, aprendendo como fazer apenas pelo processo de observação do que um amigo estava produzindo. Afinal, repassar contatos ou ensinar como fazer as coisas não era uma prática comum na época, aliás, era uma moeda de troca” conta Alexandre, curador da exposição, que desde muito cedo acompanhou e fez parte do movimento punk no Brasil.
Neste contexto, durante as décadas de 80 e início de 90, as cartas (e todos os outros volumes enviados, que estarão expostos) desempenharam o papel do atual “door to door”, onde uma transportadora retira o produto no fornecedor e entrega ao consumidor final. Dá até pra dizer que elas foram a versão física e original de plataformas como YouTube, Facebook e Spotify, responsáveis por reescreverem nossa história de como consumir música e informação.
EXPOSIÇÃO DESTACA A CULTURA DO “FAÇA VOCÊ MESMO”
Novamente em alta, principalmente entre os mais jovens, a exposição retrata a cultura “Do It Yourself”, em português “Faça Você Mesmo”, que durante muito tempo foi empregada na confecção dos materiais de divulgação das bandas.
Com poucos equipamentos, e muita precariedade, os grupos eram fundados em quartos e garagens. Sem orçamento para custear seus projetos, o “fazer” e o “criar” tornaram-se itens obrigatórios para aqueles que buscavam ingressar na cena punk, desenvolvendo seu próprio conteúdo e estética, com as ferramentas, técnicas e materiais disponíveis.
“Não Temos Condições de Responder a Todos” resgata o trabalho artesanal da época, por meio de cartazes, discos e fanzines confeccionados com pouca tecnologia, mas muita criatividade e disposição, num misto de arte e transgressão, características intrínsecas ao movimento.
Cabe destacar que o público poderá, através de materiais fornecidos no próprio espaço, “colocar a mão na massa” e produzir itens semelhantes aos da época, orientados por profissionais, criando uma interação visitante/exposição.
IDEOLOGIA E POLÍTICA
Durante os anos 80, grande parte do material divulgado chegava às mãos dos fãs em idiomas como o inglês, o espanhol, o alemão e até o finlandês, motivo pelo qual havia certa dificuldade em sua interpretação, gerando conflitos de ideias. Portanto, os fanzines e outras publicações, traziam longas entrevistas com músicos e compositores, que passaram a fazer essa ponte, fortalecendo o discurso das bandas, quase sempre com viés político.
Alexandre explica o papel do movimento frente às causas sociais: “As famosas listas com o endereço de organizações pelos direitos humanos e direitos dos animais também tiveram seu papel na divulgação massiva de conteúdos sobre a Anistia Internacional, o PETA e o Greenpeace, além da causa de presos políticos como Mumia Abu-Jamal, ex-membro do Partido dos Panteras Negras, jornalista e ativista estadunidense que foi condenado à pena de morte, sentença que mais tarde seria convertida em prisão perpétua”.
É nessa época também que surgem algumas mudanças ideológicas, que ecoaram nas décadas seguintes, como a prática do vegetarianismo e a luta pelos direitos dos animais; ao mesmo tempo em que os direitos das mulheres e da comunidade LGBT+ começam a ganhar espaço, motivados pelos movimentos Riot Grrrl em Olympia, Queer Punk em São Francisco e todo o movimento Vegan Straight Edge da costa leste dos Estados Unidos.
PROGRAMAÇÃO INTEGRADA