Suspense social escrito pelo dramaturgo e diretor catalão Josep Maria Miró, a peça “Nerium Park”, dirigida pelo premiado Rodrigo Portella (de “Tom na Fazenda” e “Insetos”), volta ao cartax para uma curta temporada no Teatro Dulcina.
A falência do sonho de uma classe emergente, o desemprego e a crise imobiliária são apenas alguns dos temas que rodeiam a vida de um casal isolado num condomínio nos arredores de uma grande cidade. Idealizador do projeto, o ator Rafael Baronesi buscava um texto para montar quando decidiu entrar em contato com Miró, que lhe enviou cinco peças. A conexão com a história de “Nerium Park” foi imediata, e a peça, até então inédita no país, estreou este ano. Baronesi divide a cena com a atriz Pri Helena, da Cia Cortejo.
Em cena, Miguel e Malu são um casal de classe média em busca de qualidade de vida e da possibilidade de construir uma família longe da loucura da cidade. A compra de um apartamento no condomínio Nerium Park, um empreendimento residencial, parece ser a tradução desse sonho. Mas o entusiasmo inicial do casal com o conforto e o espaço da nova casa, com piscina e um parque, vão desaparecendo à medida em que os meses se passam e ninguém mais se muda para os prédios.
É como se eles vivessem em uma cidade fantasma. A crise econômica e o desemprego afastam os possíveis compradores, e Miguel e Malu se veem isolados dentro de um estilo de vida que parecia perfeito para eles. Porém, quando uma terceira pessoa aparece no condomínio, a trama ganha um outro sentido.
Escrita em 2012 e montada em dez países, “Nerium Park” é um suspense que se desenvolve em 12 cenas, cada uma correspondendo a um mês do ano. O título faz referência ao Nerium Oleander, nome científico de um arbusto ornamental e tóxico, conhecido, no Brasil, como espirradeira. “Essa peça fala, entre outras coisas, da solidão dos dias atuais.
Cada vez vivemos mais sozinhos, numa dimensão individual e virtual. Estamos esquecendo de conviver de fato com as outras pessoas”, destaca Baronesi, idealizador do projeto. “Tem outro tema que a peça aborda, e que me interessa muito, se resume na seguinte pergunta: o que eu sou capaz de fazer no meu dia a dia para tornar a vida um pouco melhor para o outro?”, completa.
“O eixo central da peça gira em torno da falência do velho projeto de vida baseado na ideia do ter, na aparência, no acúmulo de bens, numa vida individualizada, privada, plastificada, higienizada, territorializada e que está mais comprometida com o futuro do que com o presente. A peça também aborda a crise do masculino diante da revolução do feminino, apresentando uma inversão de papeis que contraria o sistema patriarcal que vivemos”, destaca Rodrigo Portella.
“As novas gerações não têm mais o sonho da casa própria, não querem mais ter carros, um casal de filhos e um único emprego fixo. Elas querem viajar, conhecer pessoas, criar e empreender. A relação falida desse casal é o espelho de uma camada da sociedade ocidental, que ainda não enxerga as transformações pelas quais o mundo está passando, por isso ainda destrói com o que é real (e natural) para construir pequenos e falsos paraísos”, diz o diretor.