Há 24 anos usando a dança como instrumento de inclusão social e de cidadania, a tradicional companhia “Dançando Para Não Dançar”, apresenta com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Cultura o espetáculo Refavela.
Desta vez, o repertório traz o balé clássico Danúbio Azul e o novo balé contemporâneo Refavela, com seis músicas do cantor Chico César e uma canção de Chico Buarque e Gilberto Gil. As coreografias são assinadas por Maria Gabriela Aguilar, Samara Mello, Paulo Rodrigues e Eduardo Masquette. O grupo, formado por moradores de comunidades do Rio, como Mineira, Fallet, São Carlos, Maré, Cantagalo e Pavão/Pavãozinho, fará a já tradicional apresentação de fim de ano.
Neste momento em que a cidade do Rio de Janeiro pede socorro, a trágica história contada na apresentação é também um dos primeiros retratos da realidade do embrião que hoje conhecemos como os complexos de favelas. “Refavela” mostra a visão romântica do morro e sua realidade, tudo isso tendo como pano de fundo uma história de amor, que compara a vida nas favelas com o cenário festivo grego e a mitologia da Grécia Antiga, com o sagrado e o profano amalgamados em habitações clandestinas.
“O carioca está perdendo a sua espontaneidade. Encurralado com medo das facas e das balas perdidas. Vamos com a dança dizer ‘não’ à violência e mostrar que os morros têm vez. O espetáculo fala um pouco das comunidades e mostra que lá existe muita coisa boa. Existe amor, existe arte. Nossos alunos sofrem com a rotina de violência em seus lares, o que os impossibilita muitas vezes de chegar às aulas”, afirma Thereza Aguilar, coordenadora do Dançando Para Não Dançar, que foi criado no Pavão-Pavãozinho e no Cantagalo, em 1994, visando dar acesso às crianças e aos jovens de comunidades populares ao balé clássico.
A companhia de dança utiliza o perfil lúdico do balé como instrumento de inclusão social e de cidadania. Os principais alvos são a profissionalização de jovens, o incentivo à participação cultural e o combate à exclusão social, ao proporcionar acesso à formação em uma profissão que dificilmente ingressariam. Além da escola de dança, no Centro do Rio (Rua Frei Caneca, 139), o projeto atua em oito comunidades das Zonas Sul e Norte do Rio (Rocinha, Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Mangueira, Chapéu-Mangueira, Babilônia, Borel e São Carlos) e atende a cerca de 150 crianças e jovens.
O Dançando Para Não Dançar formou um grupo que se apresenta em todos os espetáculos e apresentações com o objetivo de dar aos jovens a chance de se aperfeiçoarem na vida profissional, no palco, e criar mecanismos para a geração de renda. Um dos desafios da companhia é proporcionar o encaminhamento profissional dos jovens entre 12 a 21 anos que cresceram e se profissionalizam dentro do projeto.
Exemplos deste trabalho bem feito de revelar talentos (leia mais abaixo) não faltam. Há ex-integrantes do projeto que hoje atuam em companhias importantes pelo mundo e fizeram da dança profissão. Inclusive, o Dançando para Não Dançar conta com um convênio de intercâmbio com a Escola Staatilicher Balletschule Berlin (Escola Estatal de Berlim). “Nós normalmente não contratamos professoras. O que temos são ex-alunas que retornam ao Brasil e voltam pra dar aula aqui”, explica Thereza.