Rita Benneditto sempre teve, ao longo de 25 anos de carreira, o samba presente na sua vida e voz. E há muito que a cantora queria dedicar um projeto ao gênero, e, aos pouquinhos, foi maturando o seu “Samba de Benneditto”, este novo show que trás ao Clube Manouche no dia 14 de fevereiro, após apresentações em São Paulo.
“Samba de Benneditto” mostra o olhar personalíssimo da artista para o gênero. E nesse balaio misturam-se 26 sambas, entre clássicos, autorais e inéditos, alguns confiados a ela por autores consagrados ou da mesma geração da intérprete. Marca também o lançamento do seu novo single, “Benneditto Seja”, composição própria com produção de Luís Filipe de Lima.
Discriminado durante décadas, o samba ficou inicialmente segregado aos terreiros e, tempos depois, às patuscadas de fundo de quintal. No caso do Maranhão, os terreiros são os do Tambor da Mata, cuja maior representatividade está na região do Codó, com as manifestações conhecidas como Terecô. Esse lado da sua ancestralidade está presente no show. Rita ganhou de Nei Lopes “Terecô”, samba em parceria com Everson Pessoa, no qual Lopes, grande conhecedor da história do gênero, faz na letra referências à Encanteria maranhense.
Rita também passeia por outros estados do Nordeste. De Pernambuco, mais exatamente da Ilha do Massangano, ela saúda o tradicional Samba de Véio. Da Bahia, reverencia dois representantes importantes do coco e do samba de roda: Bule-Bule (nome artístico de Antonio Ribeiro da Conceição) e Roque Ferreira. O primeiro faz-se presente com “Que Moça é Aquela?” e o segundo com “A filha do Macumbeiro” (Roque Ferreira e Dunga).
Rita tem um olho naquilo que fundamenta e outro na modernidade – e seu bem-sucedido projeto “Tecnomacumba” é um exemplo vivo disso. E nesse “Samba de Benneditto” referências e atualidade dão-se as mãos em roda (de samba). Ao mesmo tempo em que resgata pérolas como “Dois de Fevereiro”, de Dorival Caymmi (1914-2008), abre alas à produção de gerações mais recentes, caso de Zeca Pagodinho, de cujo repertório revisita “Minha Fé” (Murilão da Boca do Mato) e “Só Você e Eu” (Jorge Aragão), incluindo compositores da mesma geração da cantora, como João Martins, de quem canta “Lendas da Mata”. E permite-se também (re) encontrar faixas da própria discografia, caso de “Caramba, Galileu da Galileia” (Jorge Ben Jor), gravada por ela no seu terceiro CD, “Comigo” (2001), e “O Que é Dela é Meu” (Arlindo Cruz, Rogê, Marcelinho Moreira), gravado em “Encanto” (2014).
Ainda na seara das reverências/referências, Rita joga luz sobre o legado de duas mulheres, artistas que conseguiram se impor num meio que, durante anos, foi majoritariamente masculino: Jovelina Pérola Negra (1944-1998) e Dona Ivone Lara (1922-2018). Do repertório da primeira, pescou duas pérolas, “Água de Cachoeira” e “Sorriso Aberto”, e de Dona Ivone, escolheu “Axé de Ianga (Pai Maior)”. E já que o assunto é a força autoral feminina, Rita nos brinda com três de suas composições: além de “Benneditto Seja”, o roteiro traz a também inédita “Rainha do Candomblé” e “7Marias”, single lançado em 2018.
Estarão no palco com Rita, Fred Ferreira, guitarra, violão, baixo e vocais, Leandro Pereira, cavaco, violão 7 cordas e vocais, Beto Lemos, rabeca, viola caipira e vocais, Ronaldo Silva, percussão e vocais, Junior Crispin, percussão e vocais, Pedrinho Ferreira, percussão e vocais, e Fayomi da Encarnação, também na percussão e vocais.