Samba Só é o primeiro disco solo de Alfredo Del-Penho desde o premiado Samba Sujo, que há dois anos lhe rendeu o troféu de melhor cantor de samba pelo Prêmio da Música Brasileira, o mais importante do gênero no Brasil. É um disco autoral de inéditas que inclui parcerias com três gerações da música brasileira: a de Nei Lopes, Joyce Moreno, Délcio Carvalho e Paulo César Pinheiro; outra, representada por Zélia Duncan e Chico César, e a de seus companheiros da revitalização da Lapa, João Cavalcanti e Pedro Miranda. O disco contempla vários subgêneros do samba – do samba-canção ao samba mais ligeiro –, revela o virtuosismo de Alfredo também no violão de 7 cordas e mostra um olhar contemporâneo para o gênero enquanto reverencia os grandes mestres da voz e do violão brasileiro.
Para o show de lançamento, Alfredo contará com a participação de sua companhia de teatro, Barca dos Corações Partidos – com a qual, somente neste ano, conquistou seis prêmios na categoria de Melhor Música pela direção musical, entre eles, o Prêmio Shell – e de Pedro Miranda, João Cavalcanti e Moyseis Marques, que além de seus parceiros, são intérpretes recorrentes de sua obra.
“Alfredo Del-Penho é um artista da exuberância. Cantor dos melhores de sua geração, compositor prolífico em letra e melodia, excelente arranjador e violonista (entre outros instrumentos que toca bem); ator de musicais premiados e de sucesso como Suassuna, Auê, A ópera do malandro, Sassaricando; integrante de conjuntos como o famoso Samba de Fato; pesquisador respeitado (acabou de lançar em CD, com Joyce Moreno, a recriação do primeiro e esquecido LP de Sidney Miller, de 1967), ele ainda arruma tempo para bater ponto toda segunda-feira à noite no Samba da Gávea, pagode de composições inéditas que organiza no Rio com colegas de geração. Só para relaxar.
Imagina o que seja para um artista desses – cujo primeiro disco solo foram dois: Samba sujo, só de sambas cantados, e Pra essa gente boa, de composições instrumentais, lançados simultaneamente há três anos para dar conta de sua imensa produção – conformar-se ao rigoroso e minimalista formato voz & violão.
Pois Samba só, o novo disco de Alfredo, é isso: o cantor e violonista Alfredo Del-Penho apresenta suas composições, como se costuma dizer, no osso, da forma que foram feitas, apenas na voz e no violão.
Mas e a tal exuberância, que tanto alardeei dois parágrafos acima? Está – mesmo no rigoroso formato que o velho Caymmi inventou em 1954 ao gravar o LP de dez polegadas de suas Canções praieiras simplesmente acompanhando-se ao violão e criando uma rica tradição na música brasileira – toda lá. Senão vejamos.
Samba só é, de forma subliminar, o que Pra quem quiser escutar diz. Traduzido, por exemplo, na naturalidade de um samba clássico como Longe de tudo, parceria de Alfredo com Zélia Duncan que parece igual a todos os sambas – na sua melodia fluente e na sua letra sobre um amor que acabou e quer voltar – mas que é ao mesmo tempo nos detalhes diferente de tudo, “Sem complicar, sem distrair”, como diz a letra à guisa de definição do samba de Alfredo Del-Penho, do samba brasileiro que não para de se fazer, sempre igual mas sempre diferente. No caso de Alfredo, de um tipo de composição muito fincado na tradição, mas com inspiração, técnica, empolgação e, com perdão da insistência, e a exuberância de um artista que atinge a maturidade com o frescor de quem está sempre começando.”