Bruna Betito e Debora Rebecchi (performers no espetáculo e organizadoras da mostra ao lado de outras artistas), apresentam peça que traz à tona as questões enraizadas sobre o papel da mulher na sociedade, tendo como eixo principal o modo como fomos ensinados a amar.
“O que não se tem, o que não se é, aquilo de que se carece, esses são os objetos do desejo e do amor”. A frase icônica de Platão nos dá pistas de como, ao longo do tempo, nós fomos construindo nossa imagem sobre o amor. Os filmes, as novelas, as músicas e grande parte dos produtos que consumimos desde crianças, em sua maior parte, reiteram esse estereótipo romantizado.
Tudo é lindo em nome do amor encerra a Mostra Abjeta, evento que acontece no espaço da Cia Mugunzá e que recebe dez trabalhos, entre mostras de processo, performances e espetáculos. Na peça, as atrizes acompanhadas por uma banda de nove músicos, mergulham de cabeça nos clichês e cafonices do nosso imaginário amoroso para esgotar, torcer e questionar nossos olhares sobre as questões de gênero e nossos papéis sociais.
Quais papéis de gênero são designados a mulheres e homens? Quais deles ainda desempenhamos sem questionar? Que imagens do feminino estão tão profundamente enraizadas que são tidas como ‘naturais’? Essas perguntas são colocadas para o público através de uma encenação que flutua entre as canções românticas, os enredos dos filmes de amor, alguns textos apaixonados falados em francês e italiano e cenas viscerais e densas que mostram um corpo mais animal do que humano. Essa dualidade traz para o espetáculo uma estética crua e performática, com base em elementos da dança e dramaturgia contemporânea.
Com nove músicos em cena, forma-se uma “quase orquestra” no espaço cênico do espetáculo. Violino, violoncelo, contrabaixo, piano, violão, sax, trompete, trombone, sousafone e percussão foram os instrumentos escolhidos pelo diretor musical Felipe Pan Chacon para compor a trilha que transita entre músicas popularmente conhecidas e ambientes sonoros que dão corpo à cena. A fisicalidade também é um dos principais eixos do trabalho. As bases que conduziram esse trabalho corporal foram os conceitos de esgotamento e celebração e o corpo entendido como matéria e afeto.