“Se queres a paz, prepare-te para a guerra” é um conhecido provérbio romano que parece ter sido adotado com precisão cirúrgica pela médica Zilda Arns. Indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz e fundadora da Pastoral da Criança, a sanitarista comprou muitas brigas para alcançar seu projeto de vida: a redução da mortalidade infantil no país. Agora, essa trajetória de luta e sucesso é revivida no espetáculo ‘Zilda Arns – A dona dos lírios’, que volta ao cartaz, no dia 3 de dezembro, no Teatro Candido Mendes, em Ipanema, depois de uma temporada com sucesso de público e crítica (leia trechos de críticas abaixo). Com direção de Luiz Antonio Rocha, interpretação de Simone Kalil e texto da dupla, o monólogo ficará em cartaz apenas às segundas-feiras, às 20h, com patrocínio da EDF Norte Fluminense. A peça repete a parceria iniciada na consagrada peça ‘Brimas’, dirigida por Luiz e com texto de Simone e Beth Zalcman, e terá uma porcentagem da venda de ingressos doada para a Pastoral da Criança.
Zilda Arns visitou todas as cidades brasileiras – chegou com a missão de salvar vidas de norte a sul do país, de lixões a aldeias indígenas, das periferias dos grandes centros aos interiores sertanejos, nenhum lugar lhe escapava. Um trabalho desbravador, que muitas vezes lembra a expedição dos irmãos Villas-Bôas. Idealizadora do projeto, a atriz Simone Kalil viajou a Curitiba, para visitar a sede da Pastoral da Criança e o Memorial da Vida, museu sobre o legado da Dra. Zilda Arns. Nessa viagem, conheceu um pouco mais sobre sua personagem conversando com familiares, amigos e pessoas que conviveram de perto com a médica.
“Acho fundamental resgatar os legados deixados pelas grandes mulheres brasileiras, como a Dra. Zilda. Ela foi uma grande mulher que defendia outras mulheres. Tinha um objetivo claro, que era a redução da mortalidade infantil no Brasil, e comprava brigas com muita gente para seguir esse projeto de vida”, conta Simone Kalil. “O teatro em que eu acredito é o do afeto, usar a arte para multiplicar afetos, espero que os espectadores sintam-se inspirados ao conhecer mais a trajetória desta médica”.
Diretor de extrema sensibilidade e colecionador de sucessos em espetáculos como “Uma Loira na Lua”, “Eu te Darei o Céu”, “Brimas” e “Frida Kahlo – A deusa tehuana’, Luiz Antonio Rocha conta que a Zilda Arns que o espectador vai encontrar no espetáculo é diferente daquela a que estávamos acostumados a ver em programas de TV.
“Ela era doce, da paz e muito religiosa, e era assim que ela aparecia na mídia. Na peça, vamos conhecer uma Zilda “bélica”, diferente da figura pública. Uma mulher de fibra, para quem não existia obstáculos, que enfrentou cardeais, ministros e presidentes, uma mulher que elegeu o combate à mortalidade infantil como missão e que, com a morte de seu primogênito, decidiu estancar a dor e lutar pela vida”, frisa o diretor.
Esse trabalho desbravador da sanitarista estará impresso no cenário (de Luiz Antonio
Rocha e Eduardo Albini), figurinos (de Caká Oliveira), iluminação (de Ricardo Lyra Jr.) e
composição sonora (Beá). “O cenário e o figurino fazem parte desse Brasil, pouco conhecido até muitas vezes pela Dra. Zilda. Um Brasil profundo, de raízes, de miscigenação, de contrastes sociais, que é tão rico e belo quando sua extensão. Através de objetos, sons, texturas e atmosferas de um país que já não existe mais, além do olhar afetuoso da Dra. Zilda, vamos revelando os lugares percorridos por ela e o que aconteceu depois das suas missões”, explica Luiz Antonio Rocha.
Dra. Zilda morreu, em 2010, durante o terremoto que devastou o Haiti. A médica estava lá em missão humanitária, com o objetivo de fundar a Pastoral da Criança naquele que é o país mais pobre da América Latina. Morreu dentro da igreja, antes de seu discurso de inauguração, mas seu legado fica para sempre.