O isolamento social imposto pelo novo coronavírus no Brasil fez com que muitas empresas e profissionais adotassem o home office para não interromper suas atividades. Porém, para quem nunca havia trabalhado remotamente, muitas dúvidas e distrações podem surgir. A dica é parar, pensar e criar uma rotina.
Mesmo que de maneira improvisada, o home office é uma oportunidade de o funcionário ter mais liberdade e rendimento. Mas se engana quem encare ele como uma folga, segundo profissionais ouvidos pelo G1. A dica inicial é fugir das armadilhas que o conforto do lar oferece.
É muito tentador poder trabalhar em casa, sem ter que pegar o transporte público ou sair correndo para não chegar atrasado. E logo vem a ideia de poder dormir mais ou adiar o início das tarefas. Se você pensa assim, errou.
Especialistas em recursos humanos e saúde e profissionais que fazem home office há muito tempo dizem que ter uma rotina é o ponto principal para que o trabalho remoto entregue o que a empresa deseja e, também, é importante para a saúde dos trabalhadores.
Rotina, a ‘mãe’ do home office
“Tem muita gente que se percebe como um final de semana, e não é isso, é importante ter uma rotina. Você pode flexibilizar, mas depois vira uma bola de neve, com impactos no convívio social, na alimentação e no sono”, explica o médico neurofisiologista Leonardo Ierardi Goulart.
Horário para acordar, para iniciar e terminar o trabalho, sem se esquecer do almoço e de pausas para se hidratar ou ir ao banheiro. Hábitos são muito importantes para quem está começando no home office.
Goulart afirma que a liberdade oferecida pelo trabalho em casa pode virar uma armadilha se mal aproveitada. Isso porque pode desencadear problemas relacionados ao sono, que baixam a imunidade da pessoa e que não são ideais para este momento de pandemia.
O médico lembra que, em muitos casos, o home office será temporário, até o fim da crise do coronavírus, mas os efeitos de uma troca de rotina podem ser irreversíveis.
“Um exemplo, para quem tem o horário biológico vespertino (naturalmente dorme tarde e acorda tarde), é tentador de mudar a rotina se essa pessoa costuma acordar cedo”, afirma Goulart.
“Mas, a longo prazo, vai gerar privação do sono, cria um hábito que fica difícil para voltar atrás. Tem casos que é necessário apelar para o remédio, o que gera uma dependência.”
A editora Lívia Cappellari, 38 anos, que trabalha em home office há cerca de 6 anos diz que a rotina é a base de tudo. O importante, afirma, é a pessoa buscar o que faz sentido para a atividade que exerce. Ela, por exemplo, demorou pelo menos 4 anos para se organizar da maneira que gostaria.
“A primeira coisa que eu estabeleci foi criar uma rotina de acordar sempre no mesmo horário, para ter um tempo para mim. Eu acordo 5h50 e cuido da rotina da casa, faço minhas coisas, medito, tomo um café com a minha esposa e começamos a rotina (de trabalho)”, diz.
Marta Vendramini, de 38 anos, trabalha para uma multinacional e faz home office uma vez por semana há 2 anos. Ela afirma que procura manter o ambiente da empresa nesses dias.
“Eu organizo meu dia como se estivesse no escritório, acordo no mesmo horário. Meu horário é flexível, mas prefiro trabalhar em horário comercial, para me dedicar o resto do tempo para estudar ou praticar esportes”, conta Marta.
Celular: o inimigo da concentração
As distrações não são exclusividades do trabalho em casa. Elas estão no escritório, no cafézinho e no seu bolso. O celular é apontado como um grande problema para o rendimento.
Neste momento, é compreensível que familiares, colegas e amigos sobrecarreguem o WhatsApp com informações e novidades do que está acontecendo com o avanço da Covid-19. Porém, se não tiver controle, você pode perder boa parte do seu dia no aparelinho.
“Uma coisa que é importante, e perigosa, para quem não está acostumado é o celular. Como a pessoa está em casa, ela acaba vendo WhatsApp, navegando nas redes sociais e, quando se dá conta, perdeu um tempão com isso”, explica o especialista Flávio Pestana.
Deixe o meme para depois. Se for possível, tente desativar as notificações dos aplicativos durante o horário de trabalho. Tire alguns minutos do expediente para checar as mensagens e responder, sempre evitando de ficar grudado ao celular.
“Eu não recebo notificações de WhatsApp, nem no meu computador, porque quando eu estou editando, eu não quero ser interrompida pela tarefa. Então, a hora que eu vou dar uma pausa, eu determino a hora que eu vou olhar o e-mail, a hora que eu vou abrir meu WhatsApp”, orienta Lívia.
Outro ponto importante parte do próprio chefe. Se ele passou um pedido, não é necessário que fique cobrando toda hora no celular, e-mail ou nos aplicativos corporativos de mensagens.
“Aí entram mais as questões das tarefas e os prazos para que elas sejam feitas. Tem que haver um nível de autonomia maior, de confiança maior, de comprometimento maior, porque é preciso cumprir aquela tarefa naquele prazo”, afirma Pestana.
Monte seu ‘escritório’
Como em muitos casos, o home office virou uma determinação de última hora e nem todo mundo conseguiu ter um escritório profissional dentro de casa. Mesmo assim, não é recomendado trabalhar sentado no sofá ou na cama.
É preciso ter um “cantinho” seu para desenvolver suas atividades profissionais. Uma mesa e uma cadeira é o essencial. Além disso, se for possível, que o ambiente seja iluminado e silencioso.
“É preciso delimitar onde vai ser o escritório, ter limpeza e organização do espaço e uma cadeira minimamente decente para horas de trabalho”, explica Flávio Pestana, executivo da consultoria de recursos humanos Odgers Berndtson.
A social media Gabriella Zavarizzi, 25 anos, faz home office há 1 ano. Ela é mãe dos gêmeos Gabriel e Catarina e, com os filhos em casa, ter um ambiente para o trabalho foi fundamental.
“Eu já trabalhei na sala enquanto cuidava deles, mas agora montamos o que eu chamo de ‘escriquarto’, para me concentrar um pouco mais”, diz.
“Eu não tento replicar como se fosse um escritório, necessariamente, mas eu tenho uma estação de trabalho em casa assim como teria se eu trabalhasse fora e mantenho uma rotina semelhante”, acrescenta.
“Também é importante verificar equipamento e tecnologia para que o trabalho seja produtivo”, complementa Pestana.
Roupa ou pijama, o importante é ‘virar a chave’
A roupa do home office divide a opinião dos profissionais. Mas a ideia principal é que você se sinta confortável para exercer sua atividade. Não precisa utilizar terno e gravata ou vestido social, mas também não é indicado usar pijamas.
“Embora a prática seja comum, trabalhar de pijama condiciona o cérebro a diminuir o ritmo das atividades. O conforto extra pode deixar o profissional mais lento, o que abre brechas para a distração. O mais indicado é vestir roupas leves, exceto em casos de reuniões virtuais, que demandam traje adequado”, explica Lucas Oggiam, da consultoria Michael Page.
“Na hora de escolher a roupa, não precisa ser um look ‘uau, vou dominar o mundo’. Mas já sendo uma roupa confortável e que não remeta a hora de dormir, faz diferença na produtividade, sim”, afirma Gabriela.
“Eu trabalho descalça. Para mim, definir a tarefa do dia é o principal para ‘virar a chave’. Tem gente que prefere trocar de roupa, criar um ritual, eu tenho meus rituais, mas eu não me troco, trabalho bem à vontade e acho isso grande privilégio do home office”, conta Lívia Cappellari.
Tire 15 minutos para planejar o dia
A rotina, seja no escritório ou no home office, depende dos pedidos do seu chefe e como é seu planejamento para lidar com eles.
Antes de sair correndo para tocar o serviço, pare, leia os e-mails, responda os contatos profissionais do WhatsApp, veja o que você tem que fazer para o dia e pense em um cronograma de execução: o que precisa ser entregue hoje, amanhã, semana que vem, etc.
“A agenda compartilhada é uma ferramenta importante para o controle de atividades que foram ou devem ser realizadas. Além de orientar a equipe, também pode ser útil para evitar interrupções durante o expediente, que desconcentram os profissionais”, afirma Lucas Oggiam.
“Eu tento parar e investir pelo menos 15 minutos para organizar meu dia, isso eu tenho o hábito de fazer. Então, eu respondo e-mails, falo com as pessoas, mando os materiais que eu terminei de produzir. Isso me ajuda a fazer um ‘mapa mental’ do que já tenho que fazer no dia”, afirma Lívia.
Defina prioridades e seja produtivo
Feito o período de planejamento, agora já se sabe o que é prioritário para o dia e onde você deve direcionar sua energia. Ter mapeada essa prioridade é um dos principais segredos para ter uma boa produtividade no home office.
“O mais importante é fazer uma lista das demandas, assim você consegue casar tempo e qualidade de entrega, sem se sobrecarregar. Uma dica que eu dou é, dessa lista, definir pelo menos umas 3 atividades que sejam as mais importantes, realizar elas e só depois disso visitar o restante da lista”, afirma Gabriella Zavarizzi.
Lívia Cappellari também segue a mesma lógica, ela indica também que as pessoas busquem por aplicativos que ajudem a manter uma rotina de entrega do trabalho.
Já Marta Vendramini consegue listar as prioridades, mas, se não se cuida, acaba ficando mais tempo na atividade.
“Procuro listar minhas tarefas e seguir o horário de trabalho, mas é muito comum não perceber o horário e trabalhar a mais”, conta Marta.
Horário: nem mais e nem menos
Quando você trabalha em home office para uma empresa, é comum que você tenha que seguir seu expediente como se estivesse no escritório. Para quem é autônomo, é um pouco mais difícil. Neste último caso, o planejamento se torna ainda mais importante.
“É importante delimitar um horário de trabalho e segui-lo corretamente para evitar queda de produtividade e acúmulo de tarefas. Para funcionar, o home office exige disciplina e organização, caso contrário, é fácil perder prazos”, afirma Lucas Oggiam, da consultoria Michael Page.
Mesmo assim, nos dois casos, o indicado é que você respeite os horários: entrada, intervalo, pausa para hidratação e banheiro e a saída. Evite trabalhar a mais só porque o escritório está na sua casa.
“Não muda a relação entre chefias e subordinados. Quando seu supervisor te dá uma função maior que a que você consegue resolver, você negocia com ele um prazo mais dilatado para lidar com a situação. Nada muda”, explica Flávio Pestana, da consultoria Odgers Berndtson.
E os chefes também têm papel importante, segundo Pestana. “Ver se as pessoas estão logadas até tarde, entrar em contato e resolver.”
Solidão?
O home office, por si só, já é algo solitário, especialmente se você mora sozinho ou precisou se isolar de sua família. Em tempos de pandemia, pode ser ainda pior, já que a quarentena te obriga a ficar em casa sem ver nenhum amigo ou parente, sem ir ao cinema ou sair para jantar.
Neste período de isolamento forçado, o médico Leonardo Goulart recomenda que as pessoas busquem fazer coisas que gostem, para que se distraiam em um momento em que o pânico pode tomar conta.
“Pode ter aumento da ansiedade, depressão… estresse. A gente quer ficar em casa, mas, quando está nela, quer trabalhar. Agora, ainda existe uma tensão no ar, e momentos piores poderão chegar”, afirma Goulart.
Quando tudo volta ao normal, podendo ir às ruas e passear, será possível ter uma noção melhor se o trabalho remoto é solitário para você ou não. Quem faz há mais tempo não reclama, mas algumas coisas fazem falta.
“Eu não acho o home office solitário, eu acho que tem um pouco do meu trabalho, é um trabalho altamente criativo, então a solidão para mim é um grande presente. Eu trabalhei para me estabelecer em casa e amo muito ficar em casa”, diz a editora de imagens Lívia Cappellari.
“Extremamente (solitário). Eu acredito que dependendo da área de atuação, a troca com outros profissionais é bastante relevante. Por mais que exista formas de se conectar online com outras pessoas, o resultado é diferente”, explica a social media Gabriella Zavarizzi.
Em situações normais, o trabalho em casa traz mais conforto, mas também tem responsabilidades. É fazer bem para fazer sempre.
“Vejo também que o home office vem aumentando, mas muitas pessoas ainda têm preconceito. Não acho solitário, acho que é muito produtivo”, diz a analista Marta Vendramini.
Fonte: G1
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