La Casa de Papel estreou na Netflix sem muito alarde, mas rapidamente ganhou o coração dos brasileiros. Começa que ela foge do padrão estadunidense (onde Nova York aparece sempre como o centro do mundo) e traz elementos muito refrescantes, como locações menos óbvias, atores até então pouco conhecidos e a maravilhosa língua espanhola – até palavrão sai como se fosse música da boca dos atores.
A série conta a história de um roubo muito bem bolado a Casa da Moeda de Madri, e é cheia de reviravoltas e momentos de tensão. Como se isso não fosse suficiente, La Casa de Papel nos presenteia com mulheres complexas, fortes e maravilhosas. E nós simplesmente adoramos personagens assim!
#1 Tokio
Interpretada por Úrsula Corberó, Tokio é a narradora da história. Uma abordagem sensacional em um mundo – esse de polícia e ladrão – praticamente dominado por homens. Tokio é rebelde, mas também mostra suas nuances mais sensíveis quando envolve seu ponto fraco, o par romântico Rio (Miguel Herrán). É determinada, sem papas na língua, e protagonista de alguma das cenas mais fodas da série. Com uma metralhadora na mão, ou simplesmente com sua língua afiada, Tokio é mortal e apaixonante. Uma curiosidade: o visual de Tóquio foi inspirado em Mathilda, personagem (foda) de Natalie Portman no clássico filme de Luc Besson, O Profissional.
#2 Raquel Murillo
Do outro lado do roubo, está a representante da lei na trama, a inspetora policial Raquel Murillo, interpretada pela talentosa Itziar Ituño. Raquel é uma das personagens mais importantes da série, pois carrega nos ombros algumas das complexidades mais potentes da história. É policial e, ao mesmo tempo, sofria abusos violentos em casa. Ela deixa claro as estruturas do machismo a cada passo e tombo. A exploração do seu lado feminino é utilizada (inúmeras vezes no pior sentido) pelos colegas homens. É sensível, mãe dedicada e passa a série toda lidando com os dilemas da vida profissional e pessoal, como uma equilibrista. É a síntese do que pode aguentar uma mulher vivendo a vida toda sob as leis da opressão masculina estrutural.
#3 Alison Parker
Alison, que é interpretada por María Pedraza, é a galinha dos ovos de ouro da gangue durante o assalto. Filha de gente importante, rica e mimada, sofre abusos constantes, como bullying e porn-revenge quando tem fotos vazadas na internet por um boy-lixo. Alison vai descobrindo sua força e coragem durante a trama, e isso faz dela um dos personagens que mais muda com o enredo. Ela tem idade de menina, mas já aprendeu desde cedo que a vida é dura para as mulheres e decide que, se escapar do sequestro, não vai mais engolir merda de ninguém.
#4 Nairobi
Integrante da gang que assalta a Casa da Moeda, temos a simpática Nairobi, Alba Flores. Nairobi é um dos personagens mais apaixonantes, porque começa totalmente subestimada, mas toma as rédeas do enredo em inúmeras oportunidades. Tem na maternidade alguns dos seus melhores e piores momentos. É a preferida dos reféns por seu bom coração, espírito de equipe e liderança genuinamente estimulante. Fiel ao Professor (líder do bando), mas principalmente, fiel a seus princípios. Acima de tudo dá um show de carisma e empatia (Nairobi, vamos ser amigas, por favor. Me chama para assaltar qualquer coisa um dia, vai).
Além da munição pesada descrita acima, a série é armada de outras contribuições femininas magníficas. De forma não tão óbvia, La Casa de Papel vai nos apresentando camadas e mais camadas das complexas estruturas do machismo (estupro, intimidação, abandono, tráfico de mulheres, exploração) e como cada uma das personagens – ou mesmo, cada uma de nós – vai se virando para viver, sobreviver e brilhar.
A canção Bella Ciao, marca a série, e até ela é um marco na força feminina. Bella Ciao é uma canção popular italiana, composta no fim do século XIX. Era um canto de trabalho das mondine, trabalhadoras rurais temporárias, que se deslocavam sazonalmente para as plantações de arroz da planície italiana. Mais tarde, a mesma melodia foi a base para uma canção de protesto contra a Primeira Guerra Mundial. Finalmente, a mesma melodia foi usada para a canção que se tornou um símbolo da resistência italiana, durante a Segunda Guerra Mundial.
Belas e resistentes. Essas são TODAS as mulheres. E parabéns a La Casa de Papel, que mesmo dentro de um enredo de um grande crime, está fazendo justiça com 0 protagonismo feminino. Como diria minha diva Nairobi, “Que comece o matriarcado”. Estava mais do que na hora.
Fonte: Infosfera
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