Lavar a alma. Quem não quer?
Melhor ainda se o banho for de uma história tão desconhecida quanto inspiradora, numa virada emocionante e após 23 anos de espera. Esse, sim, foi um dos enredos mais emocionantes desse carnaval testemunhado na Sapucaí.
Quem não quer acreditar que vale a pena trabalhar, ser resiliente, apostar e acreditar que a hora vai chegar?
Os dias eram de folia, com licença para o riso sem razão, mas as ruas do país foram tomadas de atitude e engajamento, numa sociedade que padece de cegueira e surdez. Como tem sido difícil enxergar, ouvir, quando o protagonista da narrativa não somos nós.
A maior festa do país deixa um recado: a gente não se conhece, isso é crucial e tantas histórias ainda precisam ser contadas. Demanda muita coragem e propósito dar voz a algumas delas, como a das ganhadeiras de Itapuã. Existiu uma geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté, em Salvador, além outros serviços, para comprar a própria alforria e dos seus. Liberdade. Quem não quer?
A escola de samba Unidos do Viradouro foi campeã com um enredo sobre mulheres lavadeiras e escravizadas. Sobre resistência. E nós ganhamos a chance de ter orgulho disso. Que oportunidade de ampliar, repensar e nos aproximar de nós mesmos.
A Mangueira também desfilou uma reflexão urgente. Reviu preconceitos históricos em alas com um Jesus de rosto negro, sangue índio e corpo de mulher. A violência pela qual são expostos, diariamente, muitos garotos pobres do país, foi retratada num jovem preto, de cabelo platinado e crucificado com balas alojadas no corpo.
Houve quem dissesse que a escola pôs bandido no lugar de Jesus. Pra muita gente, incluindo alguns políticos, a estética jovem da periferia é sinônimo de delinquência. Identidade própria, reconhecida. Quem não quer?
A reação entristece, desanima, mas reforça a necessidade de insistirmos. Nossa história precisa ser contada. Com todas as vozes. São tantas ignoradas, estigmatizadas. De protagonistas sem alma lavada. Quem quer?
Outra campeã desse carnaval mostra um caminho: “O poder do saber, se saber é poder, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. A Águia de Ouro venceu seu primeiro título mostrando a importância do conhecimento, da educação. Foram mais de 40 anos atrás de uma vitória.
Sempre é tempo de aprender. Aprender quem somos. Basta querer. A gente só gosta do que conhece.
Lavar a alma. Quem não quer?
Fonte: G1
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