No Alto Xingu, vivem os Yawalapiti. Desse modo, nessa região se fala kalapalo, kamaiurá e kuikuro. No entanto, a língua original da etnia, yawalapiti, sobrevive com apenas 3 falantes, sendo que, todos eles, já estão em torno dos 70 anos. De toda forma, mesmo assim, essa língua indígena foi recuperada.
A recuperação da língua foi possível por meio do trabalho realizado por Tapí Yawalapiti. Aos 43 anos, Yawalapiti é mestrando em linguística na Universidade de Brasília (UnB). Além de também ser filho de Aritana, de 76 anos, que é o cacique da tribo.
Mais de 2.762 entradas, com vocabulários e expressões yawalapiti
Em seu estudo, Tapí utiliza o mais completo estudo descritivo já publicado sobre a língua. Para se ter uma ideia, esse é o resultado de um estudo iniciado há mais de 40 anos e recuperado pelo Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Além disso, esse também é o primeiro trabalho extenso de resgate e publicação de um arquivo sobre uma língua indígena, desde o incêndio de setembro de 2018. Na época do incêndio, quase todo o acervo foi destruído. Desse modo, estima-se que mais de 20 milhões de itens entre as mais diversas áreas tenham sido perdidas.
Os escritos utilizados por Tapí foram escritos entre 1976 e 1977. Contudo, agora, mesmo com a caligrafia original da época, eles foram digitalizados e puderam ser estudados. De acordo com o estudo, são 2.762 entradas, com vocabulários e expressões yawalapiti. Com isso, essas entradas foram transcritas em um sistema fonético, que abrangem temas como o corpo, indumentária, animais, ambientes da casa, festas e rituais.
Esse tipo de dicionário de uma língua antiga é conhecido como léxico. Dessa forma, o léxico também registrou novas expressões que surgiram a partir do contato com o homem branco. Por exemplo, o gravador de áudio que, na língua, é chamado de “pegador de palavra”.
Nomes da língua que são intraduzíveis
Entre as palavras adicionadas ao dicionário também estão nomes intraduzíveis e que estão na raiz da cosmologia yawalapiti. Dentro da tradição da etnia, o sol (Kami) e a lua (Küni) são irmãos gêmeos. Assim, na visão dos xinguanos, eles são os dois criadores da humanidade. No entanto, não há outra forma de chamá-los em outra língua sem que os nomes percam o sentido. “Quando se rompe a transmissão da língua, você rompe também a dos conhecimentos”, afirma Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, linguista e orientadora de Tapí no mestrado da UnB. “A perda de uma língua é a perda desse vínculo com a história, com a identidade”, completa Ana.
De acordo com Tapí, um dos principais objetivos é trazer mais falantes para a língua. “Meu pai e eu queremos ver os meninos falarem a língua. Os jovens estão interessados. Eles só precisam da gramática”, afirma Tapí.
De acordo com o Atlas de Línguas em Perigo da Unesco, o Brasil é o país que possui mais línguas sob risco de extinção no mundo. Para se ter uma ideia, são 178 idiomas ameaçados e 12 que já se encontram desaparecidos. Por fim, outras 45 línguas estão em situação crítica e estão em risco iminente de serem extintas.
Fonte: Fatos Desconhecidos
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