Desde o início da pandemia de Covid-19, o número de crianças afetadas pelo novo coronavírus aparenta ser menor que o de adultos e idosos. Segundo um artigo publicado no Jama no fim de fevereiro, quando o número de infectados na China era de 44 mil pessoas, as crianças representavam apenas 1% dos casos.

 

Os cientistas ainda não sabem ao certo o porquê disso acontecer, mas, em um comunicado publicado no início de fevereiro no World Journal of Pediatrics, afirmam acreditar em três explicações. São elas: há um baixo número de crianças expostas ao vírus; há um baixo número de crianças infectadas pelo microrganismo; ou há um baixo número de crianças infectadas desenvolvendo sintomas graves o suficiente para serem notificados.

 

Entretanto, com o avanço da pandemia e o desenvolvimento de novos estudos, fica mais evidente a cada dia que os mais novos não estão “imunes” ao Sars-CoV-2 — e que eles podem desenvolver quadros severos da Covid-19.

 

Em um estudo publicado na sexta-feira (08) no American Journal of Roentgenology, pesquisadores norte-americanos revelaram os potenciais danos da doença aos pulmões das crianças e adolescentes. Os cientistas avaliaram 20 pacientes pediátricos que testaram positivo para a Covid-19 e realizaram tomografias computadorizadas para examinar seus pulmões.

 

Segundo a equipe, todos os examinados apresentaram lesões subpleurais, 30% tinham lesões pulmonares unilaterais e 50% bilaterais. Além disso, 60% dos pacientes apresentavam opacidade em regiões do sistema respiratório (o que indica dano nos pulmões).

 

Em outros casos, a Covid-19 também foi relacionada a uma síndrome inflamatória que atinge múltiplos órgão, principalmente dos vasos sanguíneos e do coração. Os sintomas parecem incluir dor abdominal intensa e doenças gastrointestinais, além de febre e erupções cutâneas.

 

“A síndrome parece ser semelhante à Síndrome de Kawasaki, que envolve inflamação dos vasos sanguíneos”, explicou Jeremy Rossman, professor da Universidade de Kent, no Reino Unido, em texto publicado no The Conversation. “Normalmente, a doença ocorre em crianças menores de cinco anos e pode levar a aneurismas das artérias coronárias e, se não forem tratados, a danos permanentes ao coração.”

 

No fim de abril, a Sociedade de Terapia Intensiva Pediátrica do Reino Unido enviou um alerta aos médicos sobre o aumento de casos da doença desde o início da epidemia de Covid-19. Desde então, mais de cem casos foram reportados na Europa — sendo pelo menos 10 deles na região de Bergamo, na Itália.

 

O número de casos chamou a atenção dos especialistas locais, pois apenas 19 crianças foram diagnosticadas com a doença naquela região do país nos últimos cinco anos. Entretanto, apenas entre 18 de fevereiro e 20 de abril de 2020, os 10 novos pacientes apresentaram sintomas da síndrome — e destes, 8 testaram positivo para o novo coronavírus.

 

As descobertas dos cientistas de Bergamo foram compartilhadas em um artigo publicado nesta quarta-feira (13) no periódico The Lancet. A equipe fez questão de ressaltar que poucas crianças foram analisadas e que a Covid-19 e a Síndrome de Kawasaki não estão necessariamente conectadas. Ainda assim, os pesquisadores acreditam que sua descoberta pode ajudar no diagnóstico e no tratamento de pacientes ao redor do mundo.

 

“Embora essa complicação permaneça muito rara, nosso estudo fornece mais evidências de como o vírus pode estar afetando crianças”, disse Lucio Verdoni, coautor do estudo, em declaração à imprensa. “Os pais devem seguir o conselho médico local e procurar atendimento médico imediatamente se o filho estiver doente. A maioria das crianças fará uma recuperação completa se receber cuidados hospitalares adequados.”

 

Outros sintomas

 

Novas evidências sugerem que, nos pequenos, os sintomas iniciais da Covid-19 podem ser outros que não os respiratórios. Em uma pesquisa publicada nesta terça-feira (12) no Frontiers in Pediatrics, médicos da Universidade de Huazhong, na China, argumentam que algumas crianças apresentam sintomas gastrointestinais antes de tosse, por exemplo.

 

“A maioria das crianças é levemente afetada pela Covid-19 e os poucos casos graves geralmente têm problemas de saúde subjacentes”, disse Wenbin Li, que participou da pesquisa, em comunicado. “É fácil perder seu diagnóstico no estágio inicial, quando uma criança apresenta sintomas não respiratórios ou sofre de outra doença.”

 

De acordo com o especialista, muitas das crianças avaliadas por ele e sua equipe apresentaram sintomas de problemas no trato digestivo, como diarreia e enjoo. Tendo isso em vista, Li recomenda aos profissionais de saúde e aos responsáveis para “ficarem de olho” nessas questões, principalmente quando associadas à febre ou histórico de exposição ao Sars-CoV-2.

 

“Relatamos cinco casos de Covid-19 em crianças que não apresentaram sintomas respiratórios no início da infecção”, observou Li. “A incidência e as características clínicas de casos semelhantes precisam de mais estudos em mais pacientes.”

 

Fonte: Revista Galileu.


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