Para quem tem um cachorro em casa, a cena é comum: basta se aproximar da porta para que o animal, do lado de dentro, comece a abanar o rabo ou latir. Na rua, ele é capaz de distinguir o caminho de casa e o rastro do dono com facilidade. Tais habilidades só são possíveis porque o olfato do cachorro é extremamente apurado. Os cães conseguem dividir o fluxo de ar em duas correntes separadas — uma é a da respiração e a outra, dos cheiros. Por isso, eles podem fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Essas aptidões foram indispensáveis para realizar uma importante descoberta nas cadeias montanhosas de Velebit, na Croácia.
Na região, que fica ao longo da costa do Mar Adriático, os cães descobriram baús que compõem um sítio arqueológico que data de quase três mil anos. “Obviamente, os narizes dos cães não cometem erros”, disse Vedrana Glavas, professora associada de arqueologia da Universidade de Zadar, na Croácia, e principal autora do estudo, publicado no Journal of Archaeological Method and Theory.
Na arqueologia, pesquisadores costumam usar radares de penetração, escaneamento a laser e ferramentas para escavar o solo à moda antiga. No entanto, os cachorros treinados podem fazer um trabalho ainda mais preciso e com um custo bem menor do que o maquinário usual. De acordo com o estudo divulgado, os animais que participaram da exploração são preparados para investigações criminais, especialmente no que diz respeito a valas clandestinas e pessoas desaparecidas, em parceria com o governo da Croácia.
Glavas já havia encontrado alguns túmulos em uma necrópole perto do forte pré-histórico de Drvišica, que remonta ao século 8 a.C. Ela trabalha na região desde 2014. Na esperança de encontrar outros vestígios igualmente raros, a pesquisadora entrou em contato com Andrea Pintar, uma renomada adestradora que trabalha com cães de diversas raças.
Cadelas farejadoras
Andrea, então, levou quatro cadelas treinadas da raça pastor-belga-malinois e pastor alemão para a região. Glavaš decidiu fazer um teste para averiguar as habilidades dos animais: enviou os cães pela primeira vez para os túmulos que já haviam sido desenterrados, mas que permaneciam escondidos, sem informar a localização à treinadora dos animais. Para a surpresa dos pesquisadores, as cadelas descobriram as três sepulturas. A explicação: rochas porosas ao redor do solo escavado podem absorver o aroma do material em decomposição, o que possibilitou que os cães ainda pudessem detectá-la.
O sucesso no primeiro teste permitiu que Vedrana Glavas e o restante dos pesquisadores utilizassem os cães em uma área onde suspeitavam haver outras tumbas, mas sem qualquer confirmação. Os cães não decepcionaram a equipe e encontraram seis novos túmulos, formados por pequenos baús de pedra no meio de círculos de paredes, cada um com cerca de cinco metros de diâmetro. Cada baú continha ossos pequenos, como dedos e pés de vários indivíduos – talvez várias gerações da mesma família -, além de fivelas e outros artefatos.
“Obviamente, os narizes dos cães não cometem erros” Vedrana Glavas, arqueóloga
Segundo Glavaš, os vestígios mortais encontrados no local mostram que as pessoas eram pobres devido ao clima severo da área e à dificuldade de cultivar seus alimentos. Angela Perri, pesquisadora de arqueologia de pós-doutorado da Universidade de Durham, disse que usar cães para farejar tumbas e sepulturas é uma técnica especialmente promissora, já que pode ser empregada em situações nos quais o radar de penetração no solo apresentar falhas..
Ainda que não tenha participado das escavações na Croácia, Perri é reconhecida por estudar a maneira como os humanos começaram a domesticar e usar cães para diversos trabalhos. Ela afirma que a técnica é mais uma descoberta na longa história que une os humanos e os cães em ações biotecnológicas “Ainda estamos descobrindo novos jeitos para que esses animais nos auxiliem”, analisou. Para Glavas, os arqueólogos devem insistir na utilização de cães para desvendar alguns mis-térios.“Temos alguns problemas que os animais podem nos ajudar a resolver”, diz.
Fonte: MSN
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