Eles estudam pra salvar vidas, se preparam para o inesperado da dor humana e vivem, neste momento, um dos maiores desafios de suas carreiras. A palavra medicina vem do latim e significa “saber o melhor caminho”. É a missão primordial dos profissionais mais requisitados e expostos neste momento tão excepcional e, sim, valioso.

 

E não será esse o propósito de todos? Apontar caminhos que sejam bons para o coletivo? Compartilhar. “A pandemia nos leva a nisso”, me provocou Raphael Brandão, um dos médicos que entrevistei esta semana, na GloboNews. E ele tem razão. Os aprendizados, o compartilhamento dos difíceis ensinamentos, isso a gente está fazendo tanto agora. Ou deveria.

 

O juramento médico sobre honestidade, caridade e ética ganha dimensões que, talvez, nem Hipócrates pudesse prescrever. Inéditas como as reflexões que a imprevisibilidade do momento impõe a todos. A pandemia já transforma os médicos do futuro.

 

E quem sairá o mesmo dessa experiência?

 

Seguem as perguntas. Muitas. Como manter o contato humano, quando evitá-lo é a principal vacina disponível no momento? Algumas semanas de quarentena já mostraram que a impossibilidade do abraço pode ser a chave pra estar mais perto, de verdade. Mas a fechadura precisa de um sinal de internet. E, quando a antiga porta do toque reabrir, tomara que a gente tenha aprendido. Sobre a importância do outro.

 

Mas estamos em casa. Alguns doentes, outros se sentindo mal, com medo de estar doente. Raphael e um colega despertaram pra isso.

 

“A telemedicina, uma ferramenta antes tão criticada, pela ausência do calor humano, hoje é uma das principais maneiras de mostrar o caminho, praticar a medicina. A figura do médico se transforma totalmente com essa Pandemia”, disse Raphael ao blog por telefone, dias depois do nosso encontro na TV.

 

O médico Raphael Brandão é um dos fundadores da Missão Covid. Uma plataforma de assistência médica virtual que já atendeu, de graça, mais de 9 mil brasileiros com confirmação ou suspeita da doença. Muitos deles fora do Brasil, onde os sistemas de saúde funcionam bem diferente. Três dias antes da decisão de criar o projeto, o jovem oncologista de 36 anos fez uma mudança grande na carreira, quando deixou de ser executivo numa grande empresa da área.

 

“Foi um momento de crise, de consciência. Precisava voltar a ser médico, como antigamente. Tratar do ser humano, tenho aprendido muito com isso. Esse tempo é difícil, mas a pandemia nos dá uma grande oportunidade. É isso que esse vírus nos faz lembrar hoje, que somos mortais. Que somos frágeis, que o dinheiro, a tecnologia, o armamento militar, o poder, não são suficientes pra nos salvar”.

 

A pandemia colocou Raphael em novos caminhos. O que a vida te pede?

 

Na Missão Covid, um projeto novo e inspirador, os médicos são médicos, os que mostram os melhores caminhos. Não importa quantos anos de profissão, os títulos, os cargos que ocupam fora dali, os salários. Já são mais de 400 voluntários.

 

“Ali, todos serão recompensados. Na moeda do amor. Quanto maior a dedicação, a empatia, a doação, maior tem sido a recompensa. Devemos nos questionar, provocar. Tirar lições”, completou.

 

Quem você quer ser? Com qual propósito?

 

Os médicos do futuro já não são os mesmos

 

Ninguém será.

 

Fonte: G1


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