Meu primeiro contato com Per Aspera ocorreu há alguns meses, quando escrevi o preview aqui para o Voxel. Durante as 4 horas jogáveis, foi possível perceber o cuidado que os argentinos da Tlön Industries tiveram ao criar o game. Com o respaldo da Raw Fury foi possível lapidar esta pedra preciosa que a empresa tinha em mãos.
Para quem não teve a oportunidade de ler meu preview, eu disse que o game tinha um potencial para inovar o gênero. Agora, com mais de 20 horas no jogo eu tenho certeza que eles conseguiram algo único no mercado. Pode parecer um jogo simples de terraformagem e automação, mas vai muito além disso. É o que eu tentarei explicar nas próximas linhas.
Ciência Pura
Vivemos um momento crucial em nossas vidas, onde estamos na dependência de uma vacina para superar o novo coronavírus. O respaldo tecnológico, científico, e principalmente os interesses pessoais, podem ser um bom comparativo do que encontraremos no jogo.
Mas não será apenas isto. Não limite seu pensamento apenas a eles. Existem diversos ingredientes que farão parte da aventura, como fatores psicológicos, além do inconsciente coletivo, munido por teorias alienígenas ou de conspiração.
É bem complexo explicar tudo o que Per Aspera permite ao jogador sem escrever alguns spoilers, mas fique tranquilo, farei o possível para não estragar o seu prazer na hora em que colocar as mãos no título.
O início de sua caminhada no Planeta Vermelho dependerá da captação de minérios e da fabricação de itens. A automação do processo será feita por você. Tudo o que ocorre pode parecer um pouco complexo para jogadores que não estão acostumados com jogos deste estilo. Digo isto, porque não existe um tutorial básico para ensinar. Apenas uma sequência de objetivos para serem feitos, o que faz com que você tenha que pensar um pouco.
Depois do primeiro processo, que refere-se à captação de matéria-prima, começará a grande encruzilhada de AMI. Ela terá que conciliar todo o seu trabalho com a chegada dos colonos e a primeira fase de terraformagem.
Brincando de Deus
As primeiras fases para tornar Marte habitável, passam por ciência pura e principalmente pela tomada de decisões, que podem impactar para sempre a vida no planeta. Sua primeira tarefa será climatizá-lo, utilizando diversos artifícios.
Alguns deles podem ser nocivos para o planeta, outros não. Você pode utilizar bombas nucleares ou então criar espelhos que ficarão na atmosfera para derreter as calotas polares, gerando assim CO2 na natureza. Um deles é mais demorado e mais caro. O outro é mais rápido, barato, porém prejudicial para o futuro da humanidade. A grande pergunta que fica é: criar um local diferente do construído pelos seres humanos por aqui ou tentar algo totalmente sustentável?
Todas as decisões passam de AMI para você. Tudo será definido com um clicar de botões. Além da memória existente na inteligência artificial, que se baseia no que ocorreu na Terra, existe o seu pensamento do que é melhor para realizar a missão.
Com a melhora na temperatura, a segunda parte da terraformagem passa pelo equilíbrio da pressão atmosférica. Aqui você também terá que escolher caminhos, como usar gases estufa, ou realizar processos menos danosos para ajudar na colonização de Marte.
Per Aspera se transforma de uma hora para outra. Ele deixa de ser um Factorio, ou seja, um jogo de automação, para ser uma aventura de decisões, com ingredientes de pura psicanálise, principalmente, para saber quem você realmente é.
Quando menos esperar, vai perceber que as duas linhas de jogo seguem em paralelo e será necessário abranger ainda mais seu intelecto para tentar controlar todas as ações presentes no game.
Gerenciamento com lacunas
Como já expliquei nas linhas acima, Per Aspera não possui um tutorial que ensina o jogador a atuar em Marte. Isto acabou deixando espaço para alguns problemas. O primeiro deles é a falta de entendimento de tudo o que pode ser feito e, às vezes, o que realizar para prosseguir na aventura.
Muito já foi melhorado desde a versão de preview. Os menus estão melhores, os personagens mais vivos e principalmente a inserção de setas verdes e vermelhas nas matérias-primas, que ajudam a saber como anda sua produção para suprir as necessidades básicas.
Outros itens não possuem entendimento claro, como o funcionamento da rede de energia elétrica e a qualidade no processo de fabricação e retirada de minério da terra. Em alguns casos aparece uma porcentagem baixa de produção, mas você não terá ideia do porquê aqui ocorra, por mais que quebra a cabeça pensando numa solução. É neste ponto que entra um questionamento importante, que pode simbolizar a presença de bugs ou a sua limitação intelectual. No caso, a minha.
Além da visão normal de jogo, todas as ações maiores, como arrumar satélites, monitorar a chegada de colonos e desenvolver o sistema de terraformagem será feito por uma câmera planetária. A empresa poderia ter dado mais atenção aos detalhes nesta área. É necessário um pouco mais de informação e usabilidade para que tudo possa ser feito de forma mais intuitiva.
Outro ponto deixado em aberto é o upgrade de suas bases de trabalho e colônias. Depois que você desenvolve tecnologias específicas para melhorar sua base, será necessário destruir as antigas para construir as novas. Prepare-se para perder um bom tempo nesta parte. Seria muito mais inteligente colocar um upgrade automático nas bases construídas para facilitar todo o processo.
Os inimigos
Diversos conflitos vão aparecer em Per Aspera, muitos deles sem você perceber. O mais notável se refere aos desastres naturais, como meteoros e tempestades de areia. Eles influenciam diretamente nas bases construídas, podendo danificá-las. Os problemas são bem aleatórios, não trazendo muito problema no seu gerenciamento.
Outros adversários poderão influenciar de uma maneira geral a sua aventura. O primeiro deles é a insegurança, que fará AMI pensar sempre se está fazendo algo bom para ela ou para os colonos. Em certos momentos, ela até mesmo personifica a sua não existência, limitando-se a ser uma máquina.
O segundo são os colonos. Os centros de pesquisa só funcionarão de forma acelerada cado o emocional deles esteja bem. Sem os seres humanos, suas tecnologias não serão desenvolvidas e toda sua missão poderá fracassar.
Vale a pena?
Per Aspera é excelente! Por mais que tenha algumas falhas no gerenciamento e na explicação de alguns detalhes, você poderá resolver os problemas se tiver disposição e tempo de sobra. Porém, isto poderá afetar os jogadores mais casuais. Hoje, eu tenho certeza que o game desenvolvido pelos argentinos tem tudo para abrir um leque de futuras opções no mercado de jogos de gerenciamento, dando atenção para diversos fatores e englobando gêneros distintos e, até então, impossíveis de andarem juntos.
Fonte: TecMundo
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