Protótipo recebe os últimos ajustes e deve ficar pronto nos próximos dias; modelo precisa ser validado por instituições alagoanas e nacionais
A prevenção ao novo coronavírus fez disparar a procurar por máscaras e álcool em gel. Quando não sumiram dos estoques de farmácias e supermercados, os dois itens essenciais foram inflacionados a preços exorbitantes. O mesmo efeito atingiu em escala global os chamados respiradores mecânicos – equipamentos utilizados no tratamento de casos mais severos de Covid-19.
Enquanto a explosiva demanda pelo aparelho vem provocando crises diplomáticas mundo afora, em Alagoas um grupo de pesquisadores busca apoio para produzir em larga escala um modelo mais eficaz e acessível da máquina. O protótipo está recebendo os últimos ajustes antes da primeira validação. “Estimo que até a próxima sexta-feira (10) a máquina esteja pronta”, prevê o matemático Rodrigo Santos, um dos proponentes do projeto.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) já sinalizou interesse em conhecer a iniciativa batizada de Respiral. “Estamos de portas abertas e à disposição para todos que de alguma forma queiram ajudar nesse momento tão crítico”, assegura o médico Marcos Ramalho, secretário-executivo de Ações de Saúde da Sesau. “Essas iniciativas são a prova da solidariedade humana. Elas são importantes porque, além de ajudar nesse cenário tão difícil, promovem o desenvolvimento científico. Promovem a busca por novas alternativas”, complementou o gestor.
Em mais um bom exemplo de contribuição voluntária, Rodrigo aliou seus conhecimentos de eletrônica com a expertise em engenharia de produção do professor Edson Camilo de Moraes, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal). Após pesquisar sobre respiradores e ouvir especialistas em infectologia e fisioterapia – que, em geral, é o profissional responsável por entubar os pacientes –, a dupla reuniu uma equipe multidisciplinar (programadores, engenheiros e estudiosos de áreas afins) para materializar uma ideia que pode salvar muitas vidas.
Baixo custo, alta funcionalidade
O grupo formado por sete pessoas começou os trabalhos há uma semana, em turnos diários, no laboratório montado na casa do próprio Rodrigo Santos. O financiamento inicial veio dos idealizadores, que estimam um custo final para o equipamento em torno de R$ 5 mil. “Dez vezes mais barato que o vendido no mercado”, aponta o inventor, que chegou a hospedar integrantes da equipe em sua casa para continuar com os testes.
Apesar de um pouco mais caro que o respirador recentemente desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o projeto alagoano é mais completo, apresenta mais parâmetros de funcionalidade e pode se tornar ainda mais barato caso receba apoio na forma de doação de insumos e utilização de maquinário, como uma fresadora 3D, utilizada para a fabricação de peças e componentes.
Diferentemente dos modelos mais simples de respiradores utilizados no Brasil, o Respiral promete acompanhar com mais precisão o estado do paciente. “Temos inovações no modelo mecânico e na programação eletrônica. O nosso tem mais parâmetros, com um controle maior de variáveis como pressão, volume e quantidade de oxigênio”, exemplifica Ícaro Santos Ferreira, formando em engenharia mecatrônica e integrante da equipe.
O médico e jurista Adriano Nunes assessorou o projeto desde o início. “Fui integrado ao grupo e pude auxiliar na compreensão da fisiodinâmica da respiração humana e do respirador mecânico, tirando dúvidas fundamentais para o adequado funcionamento do aparelho”, explica ele, que sugeriu o nome Respiral para batizar projeto e aparelho. “Esses meninos são muito talentosos. O projeto deles é parecido com o que foi apresentado pela USP, mas ambos são genuínos, originais”, complementa.
Uma vez pronto, o experimento será encaminhado para validação pela MaceioTech, empresa alagoana especializada em testes e manutenção de equipamentos hospitalares, e também parceira do Respiral. Em seguida, será necessária aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e de outros órgãos.
Enquanto aguarda a liberação final, o projeto do ventilador pulmonar será apresentado à Sesau e a outras empresas e instituições, como a Braskem e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). “Eles possuem maquinário e insumos para a fabricação em série do respirador”, garante Rodrigo. Quantos poderão ser produzidos por dia? A resposta depende de mais apoio e mobilização voluntária, seja da esfera pública ou da iniciativa privada.
Fonte: Tribunahoje
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