Miley Cyrus, Maisa Silva e Elle Fanning foram algumas das famosas que mudaram o cabelo durante a quarentena causada pelo novo coronavírus. Basta rolar o feed do Instagram e dar uma olhadinha nos Stories para ver várias pessoas exibindo a nova cor, comprimento ou franja que aderiram nos dias em casa, ou falando sobre a vontade crescente de aproveitar o período para mudar o visual. Na plataforma de inspirações Pinterest, a busca por “corte de cabelo em casa” aumentou 417% nas duas últimas semanas.
Mas, afinal, por que tantas pessoas estão querendo mudar o visual neste período?
Antes de analisarmos diretamente essa questão, é importante entender o que está acontecendo no mundo atualmente. Com a pandemia da Covid-19, diversos países estão vivendo o isolamento social como uma maneira de tentar frear a disseminação da doença, inclusive o Brasil. Aulas suspensas, vários estabelecimentos fechados e pessoas trabalhando de casa é a realidade atual de muita gente.
Com isso explicado, vamos direto ao ponto: a quarentena e as mudanças de visual. Para a psicóloga clínica especialista em terapia cognitivo comportamental Thalita Amaral, todo esse contexto gera ansiedade e angústia, afinal, estamos enfrentando uma situação completamente nova e inesperada, e esses sentimentos podem estar atrelados à vontade de modificar a aparência: “Ficar mais em casa faz com que os dias pareçam todos iguais e começamos a nos sentir passivos em relação a tudo o que está acontecendo. Não podemos sair, não podemos encontrar nossos amigos ou familiares… Então o que podemos fazer? O que está em nossas mãos? Mudar o cabelo é algo que conseguimos fazer sozinhos. Essa necessidade de mudança pode ser um recurso interno para lidar com a sensação de passividade.”
Além da vontade de sair da inércia, a psicoterapeuta e psicopedagoga Mônica Pessanha diz que o desejo de mudança tem a ver com a necessidade de se expressar. “Mudar significa transformar, e eu estou tentando mudar uma realidade que está difícil de viver. Tudo isso vem pra mostrar que eu estou viva: ‘Olha como eu estou existindo agora’, e serve até como uma forma de aumentar a conexão com os outros, porque as pessoas irão se relacionar através dessa nova imagem“, conta.
Mudança de visual e autoestima
Ficar sem sair de casa impacta nos nossos hábitos e grande parte da nossa rotina precisa ser adaptada para esse momento. Entre as mudanças que estão acontecendo, a maneira como nos arrumamos, e consequentemente nos enxergamos, também pode ser alterada. Isso porque a tendência é que busquemos por um visual mais confortável e relaxado, que é ótimo, mas, por um longo período, pode começar a influenciar de alguma maneira na autoestima de determinadas pessoas. Além disso, toda essa situação potencializa o nosso olhar sobre nós mesmos, o que pode ser uma excelente alternativa para explorar o autoconhecimento, mas também pode gerar certas inseguranças. “O distanciamento social nos coloca em um grande espelho, a gente passa a se olhar o tempo todo, o que não acontecia antes nessa proporção“, explica Mônica.
Não dá para negar que nosso visual influencia em nossa autoestima, e a busca por renová-lo pode ser também uma procura por mudar o olhar sobre si mesmo. “É impressionante o poder que o cabelo tem na autoconfiança de qualquer pessoa. Às vezes, recebo clientes que pedem para mudar apenas dois dedos do comprimento, e só de fazermos isso, ela se olha no espelho e a expressão é de maravilhada, como se estivesse precisando disso. Para quem vê de fora, pode parecer uma coisa boba, mas aquilo a faz se sentir bonita, renovada, e impacta muito na autoestima dela”, explica João Bosco, hairstylist do salão 1838 e responsável pelos fios de várias celebridades.
Outro ponto que contribui para esse momento funcionar como um incentivo na busca por uma nova cor ou corte de cabelo, é o fato de que por estarmos em casa com a vida social parcialmente pausada, se algo não der certo, teremos tempo para “arrumar” antes de retomarmos a rotina normal. “É um período do tipo ‘não temos nada a perder’. Se eu cortar a minha franja e ela ficar torta, até o final da quarentena ela já estará okay. Esse sentimento abre espaço para experimentação e nos deixa mais propensos a arriscar“, explica a psicóloga e terapeuta floral Andréa Campos Helmeister.
Vivendo o tédio
Com a diminuição no ritmo das atividades, o tédio pode surgir. Esse sentimento faz parte da vida e o momento de “não fazer nada” é importante para gerar reflexões sobre nós mesmos e o mundo. Porém, em nossa sociedade, estamos cada vez menos acostumados a viver e a lidar com ele.
“O tédio nos permite sair do lugar comum, ele pode abrir espaço para novas ideias. É claro que ele também pode gerar tristeza, pois acompanha a sensação de insatisfação, de inatividade. Mas ele pode ressignificar as coisas, nos fazer refletir sobre o nosso papel no mundo, o que queremos de verdade e influenciar em momentos de criatividade. O tédio pode trazer a chance de colocar algo que sempre tivemos vontade, mas nunca fizemos, em prática – inclusive fazer uma mudança no próprio cabelo“, diz Andréa. Seja por um desejo anterior de cortar ou pintar os fios você mesma ou por uma inspiração vinda após ver alguma pessoa fazendo isso, o tédio pode ser um dos responsáveis pelo ímpeto de renovar o visual.
Mas é preciso cuidado
Apesar de ser divertido, é preciso tomar cuidado com as mudanças capilares, pois elas podem não sair exatamente como o planejado. “A falta de experiência e habilidade podem causar alguns problemas na hora de mudar o visual. Na coloração, por exemplo, o tom pode não ficar como a pessoa desejava, pois, às vezes, seria necessário misturar algumas tinturas para chegar à tonalidade ou fazer uma preparação especial no cabelo, coisas que fazemos no salão. Outra questão são os produtos utilizados, que, se não forem de boa qualidade, tendem a causar danos aos fios”, explica João.
“Os produtos químicos podem deixar o cabelo fragilizado e quebradiço e, se usados de maneira incorreta ou mais vezes do que o indicado, podem levar até ao corte químico [quando as mechas se partem por estarem muito fracas após terem entrado em contato com esse tipo de cosméticos]. Outro acidente que pode acontecer é os fios ficarem manchados com a coloração, pois ela não foi aplicada de maneira uniforme. Nos cortes também é necessário ficar atenta, pois o resultado pode ficar torto ou bem mais curto do que a pessoa desejava”, finaliza o hairstylist.
Atualmente, existem produtos no mercado que podem fazer uma transformação de visual de maneira menos radical – e com menor chance de prejudicar os fios. “Condicionadores com pigmento colorido pintam as mechas por alguns dias superficialmente e podem ser uma alternativa divertida; a única questão é que a tonalidade adere melhor nos fios claros. Outra opção é o giz para cabelo, que colore sem prejudicar a saúde capilar, e funciona bem em qualquer tom. Para o comprimento, é possível brincar com penteados diferentes que imitam uma franja, por exemplo”, indica João.
Quem mudou
A equipe da editoria de comportamento da CAPRICHO, formada pela editora Isabella Otto e pela estagiária Gabriela Junqueira, aderiu com tudo às mudanças de visual durante a quarentena. “Eu tinha o plano de pintar o cabelo de azul antes de tudo isso acontecer. Porém, com os salões fechados, eu tive que adiar essa vontade. Mas com a falta do que fazer e por ficar muito tempo em casa, acabei decidindo colorir eu mesma. Como o cabeleireiro me disse que a tinta azul poderia deixar meus fios esverdeados pela tonalidade em que eles estavam, eu optei pelo rosa por ser uma tintura que eu já conhecia. Decidi fazer isso mais para me distrair e dar uma renovada de ares, porque a energia estava tão pesada que eu achei que seria bom mudar e dar um respiro. Eu também ficava o tempo todo me olhando no espelho e eu já estava um pouco exausta de me ver sempre do mesmo jeito. Além da cor, também decidi cortar a franja, o que eu não fazia há muitos anos. A mudança deu uma energizada. Fiquei mais empenhada em me arrumar também, até porque a franja demanda mais cuidados, então passei a secar o cabelo, por exemplo. Deu uma renovada no ânimo”, explicou Isa sobre sua transformação.
Gabi também cortou a franja e revelou que, nos últimos anos, sempre que passava por alguma transformação em sua vida, decidia externalizá-la por meio do cabelo, e foi isso que a motivou também agora nesta nova mudança: “Decidi cortar a franja porque é uma coisa fácil e porque eu acho que cresce muito rápido, então se não ficasse tão legal, não teria tanto problema. Eu me senti muito bem. Eu comecei a procurar novas maneiras de arrumar o cabelo e coisas que eu poderia fazer com ela, e tudo isso está me deixando mais confiante.”
A estudante Vitória Lima, de 19 anos, também apostou na mudança capilar e decidiu cortar a franja e pintar o cabelo de vermelho: “Acho que por ficar muito tempo em casa, eu acabava me olhando mais no espelho e comecei a me sentir cansada do meu visual, então resolvi cortar. Apesar disso, senti que ainda não tinha sido o suficiente pra mim, por isso pintei. Eu gostei muito do resultado, aumentou demais minha autoestima. A transformação não foi difícil. Acho que por saber que ninguém vai ver por um tempo, eu fiz mais tranquila. Eu sempre gostei de fazer essas alterações, mas cortar foi um pouco decepcionante porque ficou torto e eu passei uns dois dias arrumando até me acostumar e ficar de um jeito que eu queria. Pintar, na primeira vez, também não deu muito certo e eu tive que passar a tinta de novo, mas agora está de um jeito que eu gostei.”
A satisfação de mudar
Em tempos de pandemia, incertezas com o futuro e crise na saúde mundial, o que significa mudar o visual em meio a isso tudo? “Não dá para vermos só o lado ruim, é preciso trazer pequenas alegrias também, pequenas conquistas. Por mais simples que seja, mudar a cor ou o corte de cabelo traz divertimento. O autocuidado e o olhar para você são necessários para a saúde mental. Por mais bobo que possa parecer, isso tudo causa satisfação, e não em detrimento do cenário que vivemos”, fala Andréa.
E Thalita completa: “O olhar para si é muito importante para que a gente consiga passar por esses dias. Isso pode ser um escape e até um mergulho em nós mesmos. Eu ser capaz de me olhar e entender o que me relaxa, o que me faz bem. É uma necessidade de mudança interna que externalizamos por meio da aparência.”
Fonte: Capricho
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