Em algum momento da história do nosso Sistema Solar, Urano foi atingido por um planeta gelado com massa entre uma e três vezes a da Terra. Essa foi a conclusão de um estudo conduzido por astrônomos do Instituto de Tecnologia de Tóquio, no Japão, e publicado no fim de março no periódico Nature Astronomy.

 

Para quem não sabe, Urano é um planeta um tanto peculiar. Ao contratrio dos outros planetas do nosso sistema, os polos do gigante de gelo não estão orientados perpendicularmente ao plano em que os planetas giram, mas em um ângulo de 98º. À medida que Urano transita em torno do Sol, ele mantém seus polos voltados para pontos fixos em relação a sua órbita e, da perspectiva terrestre, isso dá a impressão de que o planeta está “tombado” e “balançando”.

 

Assim como Saturno, Urano possui um sistema de anéis, além de 27 luas que orbitam o planeta em torno de seu equador — de modo que elas também pareçam estar “tombadas” e “balançando”. Foi tentando entender o porquê de todas essas peculiaridades que os pesquisadores japoneses decidiram investigar o planeta.

 

Para isso, eles construíram uma simulação em computador da formação de luas em torno de planetas gelados. Como a maioria dos corpos do Sistema Solar têm satélites próprios de diferentes tamanhos, órbitas e composições, os cientistas acreditam que essas luas podem ajudar a explicar como eles se formaram.

 

Por exemplo, há fortes evidências de que nossa Lua se formou quando um corpo rochoso do tamanho de Marte atingiu a Terra há quase 4,5 bilhões de anos. Portanto, ao aplicarem o que se sabe sobre Urano no simulador, os cientistas descobriram que ele deve ter sido atingido por um objeto gelado com massa entre uma e três vezes a do nosso planeta.

 

Entretanto, o gigante de gelo está consideravelmente mais longe do Sol do que nós, o que sugere que os objetos que impactaram os dois planetas há bilhões de anos eram bem diferentes.

 

Por ter se formado em uma região mais quente e próxima da estrela, a Terra é composta principalmente por elementos não voláteis, ou seja, que não formam gases a pressões e temperaturas normais da nossa superfície.

 

Já os planetas mais distantes do Sol são, em grande parte, compostos por elementos voláteis, como água e amônia, que congelam em temperaturas mais baixas. Isso faz com que impactos entre objetos celestes sejam muito diferentes nesses dois cenários.

 

Os astrônomos especulam que, como o gelo da água se forma a baixas temperaturas, os detritos do impacto de Urano teriam evaporado durante a colisão. Como resultado, o planeta foi “entortado”, o que também resultou em um período de rotação rápida (o dia de Urano é de cerca de 17 horas).

 

Além disso, o material resultante da colisão permaneceu gasoso por mais tempo, “coletando” os destroços. Isso levou ao enorme tamanho de Urano em comparação com suas luas, que são consideradas pequenas para o planeta. “Esse modelo é o primeiro a explicar a configuração do sistema lunar de Urano e pode ajudar a explicar as configurações de outros planetas gelados em nosso sistema solar, como Netuno”, afirmou Shigeru Ida, que liderou a pesquisa, em comunicado.

 

Ida também acredita que o modelo proposto por ele e sua equipe ajudarão no estudo de exoplanetas. “As observações sugerem que muitos dos planetas recém-descobertos, conhecidos como superterras em sistemas exoplanetários, podem consistir em grande parte de gelo, e esse modelo também pode ser aplicado a esses planetas”, disse o astrônomo.

 

Fonte: Revista Galileu.


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