Apuração dos sentidos, criação de uma consciência ecológica, incentivo à alimentação saudável… O contato das crianças com a natureza proporciona vários benefícios pra lá de importantes, e por isso cada vez mais se fala no movimento do desemparedamento da infância.
Neste momento de pandemia, porém, sabemos que o ideal é o isolamento social, o que acaba impedindo que os pequenos passem tempo ao ar livre – mas nada impede que a interação com a natureza ocorra dentro da própria casa, né? Sim, criar uma mini hortinha é uma opção de atividade super prazerosa com os baixinhos e que pode ser adaptada tanto pra quem tem quintal quanto para quem vive em um apartamento. De quebra, ela ainda promete momentos de muita diversão em família!
Qual cultivo escolher?
Seja você leigo ou expert em plantas, a dica é a mesma: quando a atividade envolve crianças, o melhor é escolher cultivos rápidos, cuja evolução possa ser acompanhada. “Teoricamente as crianças podem cuidar de qualquer tipo de planta, não tem nenhuma restrição dentro das hortaliças. Porém, especialmente neste período que estão muito tempo em casa, a velocidade é interessante para que elas tenham uma noção da passagem do tempo”, recomenda Diana Werner, presidente da Isla Sementes.
A arquiteta e criadora do projeto infantil Super Sementes, Ana Paula Cardoso, acrescenta mais um motivo pelo qual os pais devem priorizar uma dinâmica mais ativa da horta. “A criança se desinteressa fácil, e quando não conseguimos ver o crescimento das plantas, elas logo desanimam”, afirma ela.
Por isso, sua dica é promover o interesse dos baixinhos pelas sementes, já que “elas permitem a germinação, que acontece como uma ‘mágica’, algo muito lúdico”, indica. E o melhor de tudo é que o material pode ser obtido na própria casa, aproveitando sementes de abóbora ou de tomate, por exemplo. Ou, claro, o clássico feijão, que a maioria das crianças já deve ter tido a experiência de plantar na escola.
Além dessas plantinhas, Diana recomenda investir nos microverdes, que são como plantas “recém-nascidas”, mas que já passaram da fase de broto. “É possível produzí-los com a maioria dos vegetais folhosos – ou seja, aqueles cujas folhas são consumidas, como alface e rúcula. Também existe a possibilidade de produzir a partir de ervas e temperos, ou de hortaliças, como beterraba, cenoura e rabanete – este último, inclusive, cresce super rápido e em cerca de cinco dias já está pronto para o consumo”, explica.
Depois de escolhido o cultivo, chega a hora de colocar a mão na massa e preparar a sua própria hortinha. Para simplificar, separamos um passo a passo com todas as etapas do processo.
1. Procure um local com boa incidência solar
“Quanto mais sol, melhor”, afirma Ana. Ela sugere que as crianças sejam incluídas desde a primeira etapa do procedimento – portanto, os pais podem chamá-las para investigar qual lugar da casa é mais ensolarado, ou buscar janelas que tenham alguma incidência solar.
Claro que cada cultivo tem a sua particularidade, e nem todos precisam de tanto sol para se desenvolverem, então o ideal é que, com as sementes em mãos, os adultos pesquisem um pouco sobre as necessidades da planta. “As ervas, como hortelã, não precisam de sol pleno, mas é só colocar uma planta maior na frente dela – como o alecrim, que necessita de mais luz, para fazer sombra”, explica a dona do Super Sementes.
“Já as hortaliças – que incluem todas as folhas, raízes e leguminosas – precisam de sol pleno”, acrescenta. “Quem tem pouco sol, é melhor começar pelas ervas ou pela produção de brotos ou mudas. A partir do momento que for incluir as outras espécies, recomendo no mínimo três horas por dia de exposição direta ao sol – não dá para ser apenas luz”, sinaliza.
2. Escolha recipientes com tamanho adequado
Para as hortaliças, o ideal são recipientes com pelo menos 15 centímetros de altura, prescreve Ana. Para os brotos, por outro lado, bastam 5 centímetros de terra. Segundo ela, é possível aproveitar materiais de casa, como um balde que rachou, ou um pote de algum alimento – e, mais uma vez, serve como convite para os baixinhos customizarem com pintura ou outros adereços. Mesmo sem nenhum destes itens, fica o convite para usar a criatividade, já que a sementeira pode ser feita até de jornal.
A plantação dos microverdes é ainda mais simples e também permite improvisar utensílios da cozinha, como bandejas, caixas de ovos ou potinhos de iogurte. No caso da caixa, Diana sugere colocar de duas a três sementes por célula e lembrar de cobrir a semente com cerca de um dedo de substrato (terra ou outro de sua preferência).
Tratando das plantas maiores, ela aponta uma vantagem de usar vasos que variem entre 25 e 30 centímetros. “Se usarmos um vaso muito pequeno, a planta até vai se desenvolver, mas vai dar mais trabalho do ponto de vista da nutrição. Com menor volume de terra, terá que regar mais vezes para que ela se mantenha”, diz.
Independentemente da dimensão do recipiente, é importantíssimo fazer furinhos na parte de baixo, para drenar a água, impedindo que ela acumule.
3. Separe a terra e o adubo
Tanto a terra quanto o adubo podem ser encontrados em supermercados. Se possível, Ana recomenda que ambos sejam sem aditivo químico, principalmente se forem plantas para o consumo. Para evitar que a terra ou outro substrato01 fique exposto, é interessante cobrir com palha, restos de grama, papel picado ou qualquer material que cubra o sol.
“Se possível também adicionar pedrinhas, para fazer uma drenagem no fundo no recipiente e para que a terra não compacte e tampe o furo. A água deve umedecer a terra, mas nunca permanecer, se não o cultivo pode não dar certo”, aponta ela.
A adubagem deve ser feita cerca de uma vez por mês, para garantir os nutrientes necessários à plantinha. “Pode ser com húmus de minhoca, por exemplo, que é mais fácil de encontrar. Mexa a terra, jogue na superfície e cubra novamente”, diz.
4. Plante a semente
Na hora de semear, o conselho é distribuir as sementes por toda a superfície, cuidando para que nenhuma fique em cima da outra.
“Plante direto no local definitivo ou em uma sementeira, como a caixa de ovo”, afirma Ana. No caso das plantas maiores, é possível deixar no recipiente normal até germinar e, quando estiver com pelo menos 5 centímetros de altura, levar ao canteiro definitivo.]
5. Regue em períodos intercalados
A fundadora do projeto Super Sementes aconselha que a hidratação da planta seja constante, mas nunca de forma exagerada. “É interessante que a rega seja diária, mas não é uma regra. Nunca encharcar, principalmente se o furo do recipiente não for muito grande”, recomenda. Para que as crianças participem, prefira regadores pequenos ou borrifadores de água.
6. Hora da colheita!
A partir de aproximadamente 21 dias, já dá para colher algumas espécies, como as baby leafs (alface, rúcula, rabanete e outras). Outras plantas, como cenoura, pepino e beterraba, só podem ser colhidas a partir de 45 dias. O processo de cortar com a tesoura ou com o podão pode ser feito de cima para baixo ou de baixo para cima, a depender do cultivo escolhido. Confira a melhor técnica para a sua plantinha.
Importância de envolver as crianças
Já falamos, mas vale reforçar: a participação do pequeno na criação da hortinha só traz benefícios! Um deles, bastante reforçado pelas especialistas, é o de incentivar uma alimentação saudável. Afinal, quando o próprio baixinho realiza cada etapa, cria-se um vínculo com o cultivo. “Tudo o que a criança planta e colhe há maior chance de querer consumir, porque ela acha aquilo realmente atrativo – é completamente diferente de algo ter aparecido no prato dela sem ter algum envolvimento com o processo”, ressalta Diana.
“Crianças que têm essa vivência do cultivo são com certeza adultos que se alimentam melhor. Porque elas entendem o ciclo, se relacionam com a planta… Faz toda a diferença”, conclui ela.
Fonte: Bebê.
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