A mente humana não conhece limites e Jan Broberg descobriu isso da pior forma o possível. Nascida no dia 31 de julho de 1962 na cidade de Pocatello, em Idaho, ela foi a primeira filha de Bob Broberg, o dono de uma floricultura local, e de Mary Ann Broberg, uma dona de casa. Com as suas duas irmãs mais novas, Karen e Susan, hoje a mulher de 56 anos tenta apenas se agarrar aos fragmentos de uma infância normal entre toda a corrupção da qual foi vítima.

 

Na cidadezinha de Pocatello, com cerca de 26 mil habitantes na época, todo mundo se conhecia e confiança e segurança andavam lado a lado. As crianças brincavam até tarde na rua e dormiam na casa de amigos. Os jovens voltavam a hora que quisessem. A presença íntima das pessoas na vida umas das outras era comum, fosse em um aniversário ou numa reunião após o serviço de domingo na igreja do bairro.

 

Todos adoram o ‘B’

 

Em meados de junho de 1972, a pacata e convencional família Broberg conheceu o comerciante Robert Berchtold, seus 5 filhos e a sua esposa, Gail Berchtold, através da igreja que frequentavam. Foi a personalidade e a aura cativante que Berchtold carregava que contagiou a todos. Não demorou muito para que as famílias estivessem viajando juntas, jantando, fazendo planejamentos e convivendo como se tivessem emergido em uma só.

 

O tanto de confiança e carinho que o homem causava logo fez com que as garotas Broberg começassem a chamá-lo de “pai” ou de “B”. Mas elas não foram as únicas arrebatadas para o mundo de simpatia de Berchtold.

 

Com relação ao casal Broberg, o homem atacou as vulnerabilidades e gravitou ao redor deles com o seu comportamento manipulador. Em um momento que o relacionamento do casal batalhava para manter tudo no eixo após 13 anos de casamento, Berchtold começou aconselhando Bob Broberg com dicas de como esquentar as coisas com a esposa, chegando até a convencê-lo de ter um “ato de masturbação” com ele durante um passeio que fizeram – algo do qual Bob jamais se recuperou.

 

Com Mary Ann as coisas não foram muito diferentes. Explorando as falhas de Bob para com a esposa, Berchtold passou a elogiar demais a mulher com o intuito de despertar um sentimento de emoção nela. As falas evoluíram para paqueras tímidas até que a mulher acabou cedendo e o beijando numa ocasião.

 

Ao longo dos dois primeiros anos, a tática foi fechar o cerco, estudar a psicologia da família e alterá-la. A empreitada de Berchtold tinha apenas um objetivo: Jan Broberg. Desde o primeiro dia, ele tinha desenvolvido uma verdadeira fixação pela garota e sabia que precisava tê-la a todo o custo. Primeiro, ele precisava ultrapassar todos os limites e se tornar praticamente alguém tão importante quanto um pai. Por isso, assim que ele teve acesso ao porão que Jan dividia com a irmã Karen, Berchtold tratou de construir um muro que dava às garotas os seus próprios quartos, garantindo a ele a privacidade com Jan que sempre desejou.

 

Em dois anos de convívio e tendo confiado todos os aspectos de suas vidas para Berchtold, inclusive a própria intimidade, a família Broberg nem imaginava que estava diante de um condenado por estuprar uma criança e que passara o período inexplicável de 1 ano preso. Naquela época, não existiam registros públicos de criminosos sexuais.

 

Eles estavam cegos a tudo.

 

Zeta e Zethra

 

No dia 17 de outubro de 1974, Berchtold falou que levaria Jan Broberg para um passeio a cavalo. Porém, assim que entrou no carro, ele a dopou com indutores de sono sob a desculpa de que eram remédios para alergia. Jan Broberg acordou numa cama dentro de um trailer e foi recebida por duas vozes através de um pequeno alto-falante na cabeceira da cama. Elas se identificaram como sendo alienígenas chamados Zeta e Zethra – que na verdade era a voz distorcida de Berchtold.

 

Durante alguns minutos de horror, Jan ouviu que foi abduzida por esses seres, pois ela teria sido escolhida para completar uma missão importante que salvaria a raça dessas espécies intergalácticas. A garota precisaria ter relações sexuais com Berchtold e dar à luz um filho dele até os seus 16 anos de idade. Caso não prosseguisse com a tarefa, a sua irmã Susan teria que fazê-lo, mas toda a sua família seria assassinada por eles.

 

Estirado ao lado dela na cama, todo machucado, Berchtold confirmou que eles haviam sido sequestrados e que agora precisavam fazer isso. Atordoada e temendo pela vida de todos, Jan aceitou e ali mesmo foi estuprada pelo homem, dando início a uma jornada de horror.

 

O abuso se repetiu por várias vezes ao longo dos 35 dias que ela ficou dentro do trailer, sofrendo a lavagem cerebral alienígena e ouvindo tudo sobre sexo.

 

Raízes da manipulação

 

Em 2 dias de sequestro, a mente manipulada dos pais de Jan apenas aguardou que o homem aparecesse, sem nem cogitar a hipótese de que algo pior havia acontecido. No terceiro dia, Mary Ann entrou em contato com a polícia, mas a base militar da cidade estava fechada durante o fim de semana e ela não quis incomodar os policiais ligando para a delegacia da cidade vizinha. Ela esperou.

 

Apenas no dia 22 de outubro que os pais levaram o caso às autoridades e ainda alegando de que Berchtold só estava com a filha deles em algum lugar, apesar da insistência dos policiais de que era uma situação de sequestro. O FBI logo foi envolvido e o rosto de Jan Broberg foi espalhado em todas as mídias.

 

Pete Walsh, o investigador-chefe do caso, descobriu que os Broberg permitiram que Berchtold dormisse na cama de Jan durante 4 noites por semana, ao longo de 6 meses, pois haviam sido convencidos de que isso era parte de um programa de terapia para que o homem superasse os abusos que sofrera enquanto criança. A ingenuidade do casal foi tanta que eles custaram acreditar nos fatos até mesmo quando Walsh revelou o histórico de pedofilia de Berchtold.

 

O FBI localizou Jan e Berchtold em Mazatlán, no México. Até lá, a garota já havia sido doutrinada de que não poderia falar nada do que aconteceu naqueles dias e que deveria se afastar de todos os homens, incluindo o seu pai. A síndrome de Estocolmo fez de Jen tão obediente que ela se referia ao período de sequestro como férias e exibia uma preocupação excessiva com Berchtold.

 

Convencido de que não ficaria preso, Berchtold ameaçou o casal Broberg de que espalharia para a comunidade as provas de relações sexuais que teve com os dois, arruinando a reputação deles e a vida de suas outras filhas para sempre. O casal então assinou um termo de consentimento que absolvia Berchtold de toda a culpa dos crimes. Em 15 dias, ele estava livre.

 

Para sempre ‘B’

 

Com o psicológico e emocional deteriorados, Jan Broberg se convenceu de que estava apaixonada por Berchtold e correspondia o sentimento na mesma medida que ele, inclusive respondendo as cartas de amor que recebia. Ela se afastou de todos, desaparecia por horas enquanto voltava da escola e desenvolveu um comportamento reservado.

 

Em 1 ano, por mais absurdo que possa parecer, Berchtold estava de volta à casa dos Broberg, frequentando-a normalmente. Logo ele estava no quarto de Jen, tendo relações com ela todos os dias. A mãe também se envolveu com o homem e eles tiveram um caso por 2 anos. Barchtold então confessou a traição para Bob Broberg, que pediu o divórcio e a custódia das filhas, horrorizado com a situação – apesar de ter sido conivente com o retorno de Berchtold para a intimidade da família.

 

Tudo se repetiu em 10 de agosto de 1976. Dessa vez, porém, Jan Broberg forjou o seu desaparecimento com uma carta de despedida, quando na verdade ela estava em um internato católico em Los Angeles, matriculada sob o nome de Jane Tobler por Berchtold. Isso se manteve por 3 meses até que a polícia invadisse o trailer onde o homem estava morando e encontrasse um santuário dedicado à garota.

 

O FBI localizou Jan Broberg em 17 de novembro de 1976 e ela relutou agressivamente voltar para casa. A garota passou a travar uma batalha entre a sua real personalidade e a que era fruto de um trauma. Apesar de os elos que possuía com o pedófilo terem sido rompidos, mentalmente ele ainda estava dentro dela, repetindo que a missão precisava ser concluída, senão o pior aconteceria.

 

Jan conviveu com esse sentimento e toda a história alienígena até o seu aniversário de 16 anos, que foi quando percebeu que nada daquilo era real e que ficaria bem. Ela confessou tudo aos pais logo em seguida.

 

Sem nenhuma prova concreta dos crimes e após apresentar argumentos sólidos de sua insanidade, Berchtold foi condenado a apenas 6 meses de detenção em um hospital psiquiátrico.

 

Vinte e oito anos depois, Jan e a mãe escreveram juntas um livro relatando muito do que a família passou, inclusive os abusos e a fantasia que quase arruinou a vida dela. Berchtold ainda teve a coragem de reagir desmentindo todas as acusações apontadas no livro e chegou a ameaçar as duas mulheres.

 

Ele cometeu suicídio enquanto aguardava preso a sua sentença após atropelar fatalmente um dos motociclistas que fazia a segurança de Jan Broberg durante uma palestra que ele invadiu.

 

Em 2017, a Netflix lançou o documentário Sequestrada à Luz do Dia para elucidar ainda mais os pontos traumáticos que ficaram de fora da narrativa do livro.

 

No entanto, parece que nada consegue explicar de modo claro qual foi o tipo de histeria coletiva que o casal Broberg entrou para ter permitido que o homem que estuprou e sequestrou a filha deles tivesse acesso à família novamente. A culpa é simplesmente justificada com o trauma de Jan que, em parte, foi fruto da conivência deles.

 

Fonte: Mega Curioso


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