Aos sete anos de idade, Steven Stayner desapareceu e isso foi a causa de um efeito dominó.

 

Steven Gregory Stayner nasceu no dia 18 de abril de 1965 em Merced, na Califórnia, e tinha mais três irmãs e um irmão quatro anos mais velho, Cary Stayner. Filho de Delbert e Kay Stayner, o garotinho levava uma vida absolutamente normal, indo e vindo sozinho da escola que ficava a poucas quadras de sua casa, brincando com os amigos vizinhos e os irmãos. A estrutura familiar era sólida e eles poderiam até serem intitulados como a típica família norte-americana.

 

Não havia nada de errado até o fatídico 4 de dezembro de 1972, quando Steven, aos sete anos de idade, estava voltando da escola para a casa e foi abordado por Edward Ervin Murphy. O homem informou ao garotinho que estava coletando doações em dinheiro para a igreja e Steven disse que a sua mãe talvez estivesse interessada em fazer uma contribuição.

 

Então Murphy se ofereceu para acompanhar o menino até em casa, porém eles não seguiram para a direção que o garoto conhecia. A poucos metros dali estava um carro com o já notório pedófilo Kenneth Parnell ao volante. Assim que Steven embarcou, ele foi mantido em silêncio à força por Murphy enquanto Parnell dirigiu até o condado de Mendocino, que ficava a cerca de 300 km de distância de onde estavam.

 

A partir desse dia, o menino nunca mais voltou para a casa — ao menos não completamente.

 

Sem infância

 

Parnell dirigiu até uma cabana no Vale de Catheys, uma região meio rural e censitária dos Estados Unidos que fica entre os condados de Merced e Mariposa, uma área conhecida por ser desolada. Uma vez lá, Steven foi submetido ao que seria apenas o primeiro dia de um intensivo tratamento de lavagem cerebral promovido por Parnell. O sequestrador empurrou para dentro da cabeça do garoto de que daquele momento em diante ele era o seu guardião legal, pois os seus pais não conseguiam criá-lo mais e o entregaram a ele.

 

Nascido no Texas, Kenneth Parnell teve problemas com uma infância desviada. Abandonado pelo pai para viver com a sua mãe irmãos, ele passou a maior parte de sua adolescência indo de uma instituição de jovens para a outra, por sempre ser autuado por conduta desordeira ou assédio sexual. O seu histórico também envolvia múltiplas passagens por clínicas psiquiátricas.

 

Parnell já tinha sido preso por quatro anos pelo crime de estupro de um garoto e por ter se passado por um policial. Ele chegou a escapar do hospital psiquiátrico para criminosos, mas foi recapturado. Conhecido por possuir uma grande capacidade de manipulação, foi dessa forma que o homem conseguiu convencer que o seu cúmplice, Ervin Murphy, era na verdade um líder religioso a quem Deus havia enviado para guiar o garoto até às garras dele.

 

Em poucas horas de sequestro, Stayner teve que deglutir a informação de que havia sido adotado e que seu nome agora era Dennis Parnell. Embora isso por si só já fosse traumático o suficiente, o pior nem havia começado.

 

Durante os sete anos que Steven Stayner teve que chamar de “pai” o seu sequestrador, ele foi espancado quase que diariamente enquanto era forçado a aguentar o homem se forçando para dentro dele por diversas vezes ao longo do dia. Além dos estupros e sessões de espancamento, Stayner era coagido a fazer consumo desenfreado de álcool e drogas quando ainda era apenas uma criança. Episódios dele abandonado num quarto encardido de motel, bebendo cerveja e fumando cigarro, assistindo as relações sexuais de Pernell com garotas de programa antes de ser obrigado a se juntar a eles na cama, eram cenas comuns no cotidiano do garoto.

 

Steven ainda viveu como nômade, sendo carregado de um lado para o outro da cidade. Ele foi matriculado em diversas escolas sob documentos forjados e de seu falso nome. Ninguém nunca o reconheceu, apesar dos folhetos e campanhas na televisão. Ele mesmo, pequeno demais e com o emocional revirado, nunca se reconheceu. O dano à psicologia do garoto era tamanho que, embora soubesse que estivesse sequestrado, nunca o ocorreu contar para ninguém com quem teve contato. Ele não saberia explicar para si mesmo o que estava ocorrendo, tampouco para outro alguém.

 

Um motivo para lutar

 

Quando Stayner adquiriu idade o suficiente para contestar o seu estado e revirar notícias nos jornais e reportagens na televisão para saber se os pais ainda o procuravam, era tarde demais. O seu caso já havia esfriado e ele dado como morto. De alguma forma, a falta de informação só reforçou a mentira que Parnell alimentara durante anos de que ele tinha sido descartado pelos pais.

 

À medida que o garoto entrava na puberdade, o desejo sexual de Parnell por ele foi minguando. Então o predador decidiu que era a hora de encontrar uma nova vítima para lhe satisfazer. Isso causou um abalo profundo em Stayner, pois ele não conseguia imaginar outro garoto tendo a vida destruída como a dele.

 

Inteligente, Parnell nunca se envolvia na abdução direta das vítimas, por isso tinha sempre os seus peões para fazer o trabalho sujo por ele. Em vista disso, ele usou de Barbara Mathias, uma amiga que também estuprava Stayner, para raptar um garotinho que estava em sua mira. Mas a mulher fracassou, então ele obrigou Stayner a cumprir a missão. Desesperado, ele sabotou tudo.

 

Sem saída, o pedófilo ofereceu drogas e dinheiro a Sean Poorman, um antigo colega da última escola que Stayner frequentara. Poorman pensou em desistir, mas foi coagido pelo homem. Em 14 de fevereiro de 1980, Timothy White, de apenas 7 anos de idade, passou a integrar a casa de Parnell.

 

Stayner se viu no garotinho e esse foi o seu gatilho, já que para si mesmo nunca conseguiria fazer nada. “Eu não poderia vê-lo sofrer”, contou em entrevista. E então, na madrugada do dia 1 de março de 1980, Stayner armou uma fuga com o objetivo de devolver o menino e voltar para a sua família – se ainda pudesse.

 

Na manhã do dia seguinte, Kenneth Parnell foi preso e condenado somente a 7 anos de prisão, enquanto Stayner foi abraçado como um herói pela nação e voltou para os seus pais. Poderia ser o final feliz para anos de sofrimento, mas não foi bem o que aconteceu.

 

Reflexos de uma vida roubada

 

Por incrível que pareça, o problema de Stayner começou em casa dessa vez. Ele estava de volta a um ambiente familiar e seguro, repleto de regras, tudo o que desconhecia. O garoto não sabia o porquê não podia continuar com o consumo de drogas e bebida que atenuavam os barulhos de sua cabeça. Ele não estava acostumado com carinho, mas também não entendia o porque era tão negado logo pelo seu pai, que ficara obcecado em encontrá-lo quando desapareceu. Em reportagem à Newsweek, anos mais tarde, Stayner concluiu que talvez o seu pai tivesse mudado tanto quanto ele.

 

Steven Stayner estava em todas as manchetes, assim como os seus anos de estupro, consumo de drogas, bebida e entre outros. Nada seria normal para um garoto de apenas 14 anos de idade. Stayner era ridicularizado pelos colegas quando voltou para a escola, chegou a apanhar e foi tratado como um animal em observação.

 

Por isso, ele acabou abandonando a escola e o seu comportamento revoltoso inflamou diversos problemas no convívio familiar. Ele se questionava se deveria ter mesmo voltado para casa e se eles não estariam melhor sem ele. O garoto se recusou a procurar qualquer ajuda psicológica por simplesmente não conseguir se abrir sobre os abusos, e a situação se tornou tão extrema que ele foi expulso de casa pelo próprio pai.

 

Em 1985, a vida de Stayner finalmente estava melhor. Aos 19 anos, o jovem conheceu e se casou com Jody Edmondson e teve dois filhos. Ele começou a treinar para se tornar um oficial de segurança, mantinha debates sobre sequestro e defesa pessoal, dando palestras e entrevistas. Até que no dia 16 de setembro de 1989, Stayner teve a sua vida interrompida de vez ao sofrer um acidente de moto enquanto voltava para a casa. Com ferimentos fatais na cabeça, ele morreu ainda no local.

 

O ponto final

 

Mas os danos não pararam por aí.

 

Os anos que seguiram o sequestro do garoto causaram o afundamento psicológico de Cary Stayner. O irmão mais velho se viu abandonado em atenção pelos pais, foi morar com um tio que o abusava e que depois foi assassinado por um invasor. Ele foi estereotipado, perseguido, passou a se drogar e tentou até se suicidar. Tudo piorou quando Steven retornou para a vida de sua família.

 

Arrastando uma bagagem emocional reprimida, em 1999 esse sentimento levou Cary Stayner a ser condenado ao corredor da morte após estuprar e assassinar em sua casa as suas duas filhas e uma amiga delas.

 

Steven Stayner travou uma batalha contra o seu psicológico corrompido, mas conseguiu se refazer, ainda que tenha sido impedido de continuar. Só que a pureza, a normalidade e a união familiar nunca voltaram para a casa. Essas ficaram no chão de seu cativeiro, corrompidas e quebradas para sempre.

 

Fonte: Mega Curioso


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