Muitas pessoas devem conhecer a famosa frase “Houston, we have a problem” (Houston, nós temos um problema). Mas vocês sabem de onde ela veio? A missão Apollo 13 tinha como objetivo realizar o terceiro pouso tripulado da NASA na Lua, mas as coisas não saíram como o planejado. Mesmo assim, 50 anos depois, ela é considerada o fracasso mais bem-sucedido da agência americana e uma grande prova da engenhosidade humana.

 

Seguindo os passos de suas antecessoras

 

Em 1961, o famoso presidente John F. Kennedy desafiou seu país a colocar o primeiro astronauta na Lua até o final da década, e o mais importante, garantir que ele voltasse em segurança para a Terra.

 

Sendo assim, a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (ou para os íntimos, NASA) passou a trabalhar de forma incansável para atingir este objetivo, lançando primeiramente o Projeto Mercury, depois o Gemini e culminando no Programa Apollo.

 

Em 20 de julho de 1969, o pouso lunar tripulado foi alcançado pela Apollo 11, com os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin realizando a icônica caminhada em nosso satélite natural (“um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade!”) enquanto Michael Collins girava em torno da Lua, esperando para levá-los de volta para casa. A missão voltou em segurança para a Terra no dia 24 do mesmo mês, cumprindo então o desafio imposto por Kennedy.

 

Para poder alcançar seu objetivo, a NASA tinha encomendado quinze propulsores Saturno V, afinal, no começo do Programa não se sabia ao certo a quantidade de missões que seriam necessárias. O foguete que levou Armstrong, Aldrin e Collins era o sexto desta leva, o que significava que havia mais nove disponíveis para futuras utilizações.

 

Infelizmente, depois da empolgação pelo sucesso da Apolo 11, o público em geral foi ficando cada vez mais indiferente em relação ao programa espacial e o Congresso dos Estados Unidos passou a cortar cada vez mais o orçamento da NASA. Isso ocorreu porque as missões, mesmo cumprindo seus objetivos, eram consideradas extremamente arriscadas, a ponto dos astronautas não conseguirem pagar seus seguros de vida, para prover suas famílias caso morressem no espaço. Esse seguro então era pago por terceiros particulares, cujos envolvimentos não eram divulgados.

 

A Apollo 13 deveria ser a segunda “missão H”, classificação utilizada pela agência espacial para todas as missões que tinham como objetivo demonstrar a precisão das alunissagens (aterrissagens na Lua) e exploração de locais lunares de interesse científico. Com o desafio do presidente alcançado com a Apollo 11, e a Apollo 12 provando que era possível realizar um pouso preciso, os planejadores de missão foram capazes de focar em mais do que apenas chegar até o local em segurança, dando aos astronautas o mínimo de treinamento geológico necessário para trazerem amostras de volta para a Terra. O grande foco da Apollo 13 era a ciência, principalmente a geologia, algo muito enfatizado pelo lema da missão: Ex luna, scientia (em português: “Da Lua, conhecimento”).

 

A rubéola de um é a oportunidade de outro

 

Seguindo o esquema de rotação estipulado para os astronautas do Programa Apollo, a tripulação principal da Apollo 13 deveria ter sido composta dos reservas da Apollo 10, com Gordon Cooper como Comandante, Donn Eisele como Piloto do Módulo de Comando e Edgar Mitchell ocupando a posição de Piloto do Módulo Lunar.

 

Porém, Donald Slayton, que era o Diretor de Operações de Tripulações de Voo na época, não tinha a menor intenção de deixar Cooper e Eisele fazerem parte da tripulação principal. O primeiro por sua atitude um tanto relaxada com os treinamentos, e o segundo por incidentes na Apollo 7 e um caso extraconjugal (pelo jeito, nada de escândalos no programa espacial). Eles só foram designados como reservas naquele momento porque não haviam outros astronautas veteranos disponíveis.

 

O plano inicial era que John Swigert seria o Piloto reserva do Módulo de Comando, ao lado de John Young como Comandante, e Charles Duke sendo escolhido como Piloto do Módulo Lunar.

 

Mas algo que ninguém esperava era que Duke contrairia rubéola de um amigo de seu filho, sete dias antes do lançamento. Isto expôs tanto a tripulação principal quanto a reserva à doença, já que elas realizavam seus treinamentos juntas. De todos, apenas Ken Mattingly não era imune. Normalmente, todos os tripulantes teriam de ser substituídos por seus reservas, caso qualquer membro da tripulação fosse proibido de voar, mas a doença de Duke impediu isso. Assim, Mattingly foi substituído por Swigert (o interessante é que o astronauta nunca desenvolveu rubéola, e acabou fazendo parte da Apollo 16 junto com Young e Duke).

 

Controle da Missão

 

O Centro de Controle da Missão no Centro de Espaçonaves Tripuladas, em Houston, foi inaugurado em 1965. Neste local, cada controlador de voo era responsável por monitorar diferentes aspectos do funcionamento da espaçonave, conectando-se através de um circuito de comunicação por voz com especialistas na Sala da Equipe de Suporte, que cuidavam de sistemas específicos da nave.

 

O comunicador com a cápsula (CAPCOM) era um astronauta presente no Controle da Missão, cuja a função incluía ser a única pessoa autorizada a se comunicar diretamente com a tripulação da nave espacial. Os CAPCOMs da Apollo 13 eram todos membros das tripulações de reserva e de suporte: Kerwin, Brand, Lousma, Young e Mattingly. Além deles, haviam quatro diretores de voo separados em quatro equipes diferentes, sendo que cada uma trabalhava em turnos de aproximadamente oito horas.

 

Preparação e treinamento

 

A tripulação principal passou mais de mil horas em treinamentos específicos para a missão, que deveria durar dez dias. Cada membro treinou por mais de quatrocentas horas em simuladores do módulo de comando e do módulo lunar, localizados no Centro Espacial Kennedy e no Centro de Espaçonaves Tripuladas. Os controladores participaram de vários treinamentos de problemas com a espaçonave, o que os ensinou a reagir durante uma emergência (um tempo bem gasto, considerando o que aconteceu na missão). Além disso, simuladores especializados em outras áreas também foram usados como uma forma de preparação da equipe.

 

Durante a primeira caminhada na Lua, o objetivo era estabelecer o Pacote de Experimentos da Superfície Lunar. Depois disso, as outras atividades de Lovell e Haise incluiriam a exploração da cratera Cone, perto do local de aterrissagem. Sendo assim, os dois astronautas foram submetidos a vinte simulações dos procedimentos de caminhada espacial, utilizando seus trajes espaciais completos, além de aprenderem como coletar amostras e usar corretamente as ferramentas e outros equipamentos. Eles chegaram até a voar em uma aeronave de gravidade reduzida, para poderem praticar como vestir e retirar os trajes em um ambiente de microgravidade.

 

O local da alunissagem designado para a missão era perto da cratera Fra Mauro, essa escolha foi feita pois acreditava-se que a formação continha muitos dos materiais respingados do impacto que havia preenchido a Mare Imbrium (Mare é o termo utilizado para denominar diversas configurações morfológicas presentes na superfície lunar), no começo da história do nosso satélite natural. Datar a cratera forneceria mais informações não apenas sobre a Lua, mas também sobre a história antiga da Terra.

 

O foco da Apollo 13 era realizar inspeções da composição lunar, pesquisas e amostragem de materiais em uma região pré-selecionada da cratera, além de implantar o pacote de experimentos mencionado acima. Tudo isso para desenvolver ainda mais as capacidades da humanidade de trabalhar no ambiente lunar. Os astronautas também deveriam tirar fotografias de locais que poderiam ser considerados ideais para futuras explorações. Para isso, a Apollo 13 continha doze câmeras a bordo, incluindo aquelas usadas para transmissões televisivas e também filmadoras tradicionais. Mas infelizmente, nada disso foi possível devido ao acidente.

 

Lançamento e o imposto de renda

 

O foguete utilizado para carregar a Apollo 13 até a Lua era o Saturno V, basicamente idêntico aos presentes na Apollo 8 até a Apollo 12. Os motores do primeiro estágio S-IC (estágio de foguete movido a combustíveis líquidos) foram avaliados para gerar 440 mil newtons de força, menos que os da nave anterior, mas ainda dentro das especificações.

 

Como as próximas missões já entrariam na categoria “J” (investigação científica extensa da Lua na superfície ou órbita lunar), precisariam de mais combustível para carregamentos pesados. Por isso, a agência decidiu incluir propelente extra como uma espécie de teste. Isso fez com que o Saturno V fosse o foguete mais pesado lançado pela NASA até aquele momento, e a Apollo 13 demorou mais para se liberar da torre de lançamento em comparação com as missões anteriores.

 

A espaçonave da Apollo 13 era composta pelo Módulo de Comando 109 e pelo Módulo de Serviço 109, sendo os dois chamados de Odyssey; e pelo Módulo Lunar 7, designado como Aquarius. Outras partes da nave incluíam o sistema de escape no lançamento, responsável por impulsionar o módulo de comando para longe do foguete, em caso de problemas durante a decolagem; e o Adaptador Espaçonave–ML, que abrigava o módulo lunar durante as primeiras horas da missão.

 

O lançamento da Apollo 13 ocorreu em 11 de abril de 1970, e já começou causando sustos. O motor central desligou dois minutos antes do programado, devido a enormes oscilações pogo (nome dado ao perigoso efeito de combustão espontânea). Uma investigação realizada depois do incidente revelou que o motor estava a um ciclo de uma falha catastrófica. Mas mesmo com esse desligamento, os quatro motores externos queimaram por mais tempo como uma forma de compensação, e veículo alcançou uma órbita de espera muito próxima da planejada.

 

Durante todo o processo até a órbita lunar, os astronautas estavam realizando transmissões televisivas, e Swigert acabou arrancando gargalhadas da equipe do Controle da Missão ao lembrar que sua declaração de imposto de renda vencia em 15 de abril, perguntando de forma brincalhona sobre o que poderia fazer para conseguir uma extensão do prazo. O mais interessante? Ele descobriu que tinha direito a uma extensão de sessenta dias por estar fora do país (e do planeta) na data limite.

 

Houston, nós temos um problema

 

Cerca de seis minutos e meio depois do fim da transmissão televisiva e com quase 56 horas de missão, o inesperado aconteceu. Um tanque de oxigênio que havia sido danificado durante um teste explodiu, destruindo o módulo de serviço que fornecia os sistemas críticos de energia e suporte à vida para o módulo de comando da Apollo 13. A explosão não só descartou qualquer chance de atingir o pouso na Lua, mas também ameaçou deixar os astronautas perdidos no espaço. Em um instante, a prioridade da missão passou rapidamente de ampliar o conhecimento sobre o satélite natural da Terra, para trazer a tripulação com segurança para casa.

 

Em uma entrevista, Lovell relembrou o momento “Nós dissemos: Ai meu Deus, o pouso na lua já era. Ainda tínhamos uma célula de combustível boa, que estava fornecendo energia o bastante para voltarmos para a Terra. Mas o oxigênio necessário para alimentá-la estava sendo expelido da nossa aeronave”.

 

Depois de avaliar rapidamente a situação e seguir as orientações de uma equipe de engenheiros no Controle da Missão, a tripulação começou a trabalhar para desligar o módulo de comando e ligar o módulo lunar, que serviria como uma espécie de bote salva-vidas.

 

“Antes de iniciar uma dessas missões, você assume, necessariamente, que não voltará. Eu não fazia ideia da porcentagem de chance que nós tínhamos. Era uma questão de trabalhar com vários desafios e esperar que alguém na Terra, trabalhando no Controle da Missão, encontrasse as respostas”, afirmou Haise.

 

A solução encontrada foi utilizar algo que ainda estava presente na nave, o motor do foguete que deveria ter pousado os astronautas no ponto escolhido. A Apollo 13 foi colocada em sua trajetória de retorno, contornando a Lua para que a gravidade fornecesse a aceleração necessária para trazer a equipe de volta ao nosso planeta.

 

Porém ainda havia outro problema a ser revolvido. O Aquarius havia sido projetado para apenas dois passageiros, e com três pessoas a bordo, os cilindros responsáveis por retirar o dióxido de carbono (CO2) expelido pela respiração da equipe começariam a falhar, e os tripulantes poderiam morrer sufocados pela própria respiração.

 

Para resolver isso, a equipe no Controle da Missão precisou de muita engenhosidade, e explicou aos tripulantes uma forma de adaptar um sistema apropriado de circulação de ar utilizando os cilindros da cabine de comando, mangueiras, sacolas plásticas e fitas adesivas (um verdadeiro momento MacGyver no espaço!).

 

No final, as ideias criativas e o pensamento rápido daqueles presentes no Controle da Missão valeram a pena, com os tripulantes retornando em segurança para a Terra no dia 17 de abril, pousando no Oceano Pacífico.

 

Fonte: Mega Curioso


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