Diante dos discursos confusos e negacionistas do premiê, estados investem em testes de diagnósticos e no distanciamento social

 

Com uma resposta inicial confusa e lenta, além de um bate cabeça com os estados, o premiê australiano, Scott Morisson, conhecido por suas ações e declarações contraditórias no combate aos incêndios florestais no início do ano, vem apresentando resultados na luta contra a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Não fosse pela atuação rápida dos governos estaduais e de um sistema de saúde robusto, a situação na Austrália estaria similar à do Brasil. O país conta com 4.559 casos e 18 mortes e conseguiu, pelo menos até agora, reduzir a curva de contágios.

 

Morrison, um conservador, faz parte de um seleto grupo de líderes mundiais que negam ou minimizam a ciência. Ao contrário do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), o primeiro-ministro defende publicamente que as escolas deveriam continuar abertas, dada a falta de casos entre crianças, apesar do entendimento no resto do mundo ser o contrário: a maioria é assintomática, isto é, não apresentam sintomas, o que a torna vetores da doença.

 

O governo australiano entende que não há necessidade de adotar a quarentena em todo país, como a vizinha Nova Zelândia fez, apesar de os seus estados mais atingidos, Nova Gales do Sul e Vitória, defenderem ações mais restritivas. O Comitê Australiano de Proteção à Saúde disse que é “muito cedo para avaliar o impacto das atuais medidas de distanciamento social” e que as “medidas mais severas deveriam idealmente ser mantidas em segundo plano”, como o fechamento de todas as atividades, exceto as indústrias e os serviços essenciais.

 

As declarações confusas do primeiro-ministro ajudaram a complicar a relação entre o governo federal, os estaduais e a população. Na noite de 13 de março, Morrison deu uma coletiva de imprensa sobre a situação do coronavírus no país. Seu discurso não foi claro. Em dado momento, uma jornalista perguntou ao primeiro-ministro se era responsável ele ir a um jogo de rugby marcado para o fim de semana, mesmo após o seu governo e os estados terem concordado em proibir aglomerações maiores que 500 pessoas. Morrison respondeu: “O fato de eu ir no sábado assistir ao jogo não é somente pela minha paixão aos Sharks (nome do time local de rugby), mas porque pode ser o último jogo que irei ver por um bom tempo”.

 

No entanto, à medida que a propagação do vírus se agravava, Morrison começou a mudar o discurso e anunciar ações cada vez mais restritivas, como o fechamento de estabelecimentos comerciais, praças de alimentação, instituições culturais e parques. Também apresentou um pacote ajuda no valor de 180 bilhões de dólares australianos, cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), em alívio para a economia e para as empresas afetadas.

 

“Precisamos ter uma economia em andamento para superar isso”, disse Morrison em entrevista coletiva na televisão. “Isso é um incentivo para manter as pessoas trabalhando de fato. Parte do dinheiro será usado para subsidiar parcialmente os salários dos trabalhadores, com repassasses quinzenais por um período de seis meses. A medida deve beneficiar seis milhões de pessoas.

 

Após uma reunião do gabinete instaurado para lidar com a crise no dia 21 de março, Morrison insistiu que as escolas permanecessem abertas, apesar da gravidade da pandemia. Os estados de Nova Gales do Sul e Victória, decidiram que não acatariam a ordem do primeiro-ministro e anunciaram que agiriam de forma unilateral caso o governo se mostrasse lento e ineficiente.

 

Além da distância social e da política de multas adotadas pelos estados para quem violar as regras de quarentena obrigatória (destinada aos que voltaram do exterior), o governo fechou um acordo com a rede de hospitais particulares do país para aumentar em 100.000 o número de profissionais de saúde, 34.000 leitos de hospital e novos 2.200 ventiladores artificiais para as UTIs, elevando o total do país a 7.500 respiradores disponíveis para os pacientes.

 

As medidas adotadas, mesmo com a lentidão, começaram a apresentar resultados. O número diário de novos casos de coronavírus caiu de 30% para 9% nesta semana. “O que vemos é um indício do achatamento da curva”, disse o ministro da Saúde, Greg Hunt, apesar de demonstrar cautela. “Estamos progredindo e achatando a curva (de contágios), mas ainda estamos nos primeiros estágios iniciais do progresso, ainda há mais o que fazer”, afirmou.

 

Como na Coreia do Sul

 

Para o pesquisador sênior do hospital Oswaldo Cruz e professor titular de pneumologia na Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, os fatores que contribuíram para a diminuição de número de casos diários na Austrália foram a quantidade de exames de detecção realizados e um sistema de saúde robusto, capaz de absorver os pacientes. Na segunda-feira 23, Greg Hunt disse perante o Parlamento australiano que os hospitais conduziram cerca de 135.000 testes para coronavírus, colocando o país atrás somente da Coreia do Sul, que realizou 370.000.

 

Apesar dos número de casos serem semelhantes, 4.559 australianos com coronavírus e 4.715 brasileiros infectados, os critérios do Brasil para realizar os exames podem omitir casos leves ou assintomáticos, aumentando a propagação da doença muito acima dos níveis atuais. “Essas comparações são coisas totalmente diferentes, que medem coisas diferentes, pois aqui estão fazendo (o exame) somente em quem é internado” diz Fiss. “Então, nós temos 4.715 casos internados e confirmados. Os casos no Brasil são com certeza maiores”, afirma.

 

Ao contrário do que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro declarou em seu pronunciamento incendiário na terça-feira 24, o clima não é fator determinante na propagação do vírus. “Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália. Um país com grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso País”, dissera o presidente.

 

Na verdade, um clima mais frio facilita a transmissão do vírus, uma vez que as pessoas tendem a se aglomerar em locais fechados, com menor ventilação, o que não significa que a doença também não se propague no calor. O que se tenta fazer com o distanciamento social é justamente quebrar o ciclo de contágio por meio das medidas de distanciamento entre as pessoas, independentemente do clima.

 

A pandemia do novo coronavírus já atingiu mais de 170 países, infectando 838.061 e matando cerca de 41.261 pessoas, segundo a Universidade Johns Hopkins.

 

Fonte: Veja.


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