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Uma lousa embaixo do braço e uma máquina fotográfica na mão, foi assim que a fotógrafa Larissa Isis, de São José dos Campos, começou o Projeto CANSEI. A iniciativa joga luz sobre as violências do dia a dia sofridas pelas mulheres negras. “Cansaço não faltou”, disse à Marie Claire. Mas desistir não fazia parte dos seus planos. Em poucos dias, reuniu em uma série fotográfica empoderadora o relato de meninas que, assim como ela, estão cansadas.

 

Larissa abordou cada uma das retratadas – foram mais de 90 – e, segundo ela, “a resposta era imediata”. “Cansei de duvidar da minha inteligência.” “Cansei de ser silenciada e invisibilizada.” “Cansei de ser julgada pela minha aparência.” “Cansei de ser objetificada.” “Cansei de ser exótica.”

 

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Além de clicar as personagens, ela deixou a sua fala no trabalho. “Cansei de me chamarem de morena, sou negra”, escreveu em sua própria lousa. “As pessoas têm um certo receio em usar a palavra negra quando vão se referir ao meu tom de pele, como se me ofendessem falando assim. EU SOU NEGRA! Acredite em mim, você me chateia mais ao me chamar de morena.”

 

Desde pequena, Larissa é vítima de preconceito. Na escola, conta ela, foi apelidada de macaco. “Me lembro perfeitamente. Onde já seu viu crianças insultarem as outras assim? O racismo é estrutural”, lamenta.

 

Por isso, celebra o trabalho como uma forma de quebrar com esse ciclo de violência diária e promover a união entre as mulheres negras no combate a essa realidade. “Juntas somos mais fortes”, afirma ela, que tem as irmãs Beyoncé e Solange Knowles como inspiração.

 

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No ano passado, Queen Bey assumiu um discurso racial, político e social importante ao lançar o álbum visual “Lemonade”. E a caçula não fez diferente. Em “A Seat of the Table”, Solange reacendeu o debate sobre a identidade negra. “Não toque no meu cabelo”, cantou em uma das músicas mais aplaudidas do disco.

 

E foi justamente a questão capilar que mais tocou a fotógrafa no projeto. “A história mais marcante para mim foi a de uma senhora que escreveu: ‘Cansei de agredir o meu cabelo’. Infelizmente, ela não me enviou o depoimento completo, mas esse é um ponto muito importante para nós mulheres. Alisamos nossos cabelos para nos sentirmos dentro do padrão de beleza que a sociedade impõe”, conta Larissa.

 

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Para desconstruir os estereótipos, ela sugere que as pessoas leiam, ouçam e se interessem mais pela questão racial. “Tudo o que está ligado ao negro acaba sendo marginalizado”, diz. No Brasil, as negras ainda são as maiores vítimas de feminicídio e violência doméstica, e recebem salários menores.

 

Os elogios direcionados ao projeto servem de combustível para que ela siga “retratando os cansaços”. O próximo passo é dar voz aos homens negros.

 

Fonte: Revista Marie Claide


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