Um ciclo de 50 dias de quarentena rigorosa seguida de 30 dias de flexibilização pode ser uma estratégia eficaz para reduzir o número de mortes e internações relacionadas à Covid-19. Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada por especialistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

 

Os especialistas modelaram três cenários em dezesseis países, da Bélgica à Índia. Seus resultados foram publicados na terça-feira (19) no European Journal of Epidemiology. Segundo os pesquisadores, eles estavam interessados ​​em comprender a diferença de impacto entre as estratégias voltadas à mitigação e aquelas voltadas à supressão.

 

As medidas de mitigação (aliviamento) reduzem o número de novas infecções, mas a uma taxa relativamente lenta. Isso pode incluir uma combinação de medidas, como distanciamento social geral, regras de higiene, isolamento baseado em casos, proteção de grupos vulneráveis, fechamento de escolas ou restrição de grandes eventos públicos. Por outro lado, as medidas de supressão levam a uma redução mais rápida no número de novas infecções, aplicando intervenções adicionais, como distanciamento físico rigoroso, incluindo bloqueio.

 

O primeiro cenário modelou o impacto gerado caso não nenhuma medida fosse tomada. Como era de se esperar, o número de pacientes que necessitariam de tratamento em unidades de terapia intensiva (UTIs) rapidamente excederia significativamente a capacidade disponível para cada país, resultando em um total de 7,8 milhões de mortes nas 16 nações pesquisadas. Nesse cenário, a duração da epidemia duraria quase 200 dias na maioria das regiões incluídas.

 

O segundo cenário modelou um ciclo contínuo de medidas de mitigação por 50 dias seguidos de um relaxamento por 30 dias. Tal estratégia provavelmente reduziria o número de pessoas que cada indivíduo infectado pode contaminar. No entanto, a estratégia ainda seria insuficiente para manter o número de pacientes que necessitam de cuidados em UTI abaixo da capacidade disponível.

 

Além disso, embora a medida se mostre eficaz nos primeiros três meses para todos os países, após o primeiro relaxamento, o número de pacientes que necessitam de cuidados na UTI excederia a capacidade hospitalar e resultaria em 3,5 milhões de mortes nos 16 países. Nesse cenário, a pandemia duraria aproximadamente 12 meses nos países de alta renda e cerca de 18 meses ou mais em outras regiões.

 

O último cenário envolveu um ciclo contínuo de medidas de supressão de 50 dias mais rigorosas, seguidas de um relaxamento de 30 dias. Tais ciclos intermitentes reduziriam o número de pessoas que cada indivíduo infectado poderia contaminar: cada dois doentes passariam o novo coronavírus para apenas uma pessoa. Isso manteria a demanda de leitos de UTI dentro da capacidade nacional em todos os países estudados.

 

Como mais indivíduos permanecem suscetíveis ao final de cada ciclo de supressão e relaxamento, essa abordagem resultaria em uma pandemia mais longa, com duração superior a 18 meses em todos os países. No entanto, um número significativamente menor de pessoas morreria: pouco mais de 130 mil nos 16 países considerados.

 

“Nossos modelos preveem que ciclos dinâmicos de supressão de 50 dias seguidos de um relaxamento de 30 dias são eficazes para reduzir significativamente o número de mortes em todos os países durante o período de 18 meses”, afirmou Rajiv Chowdhury, coautor do estudo, em comunicado.

 

De acordo com os cientistas, instalar o lockdown durante três meses seguidos reduziria novos casos a quase zero, enquanto a estratégia proposta levaria seis meses e meio para chegar ao mesmo ponto. Contudo, esses bloqueios prolongados seriam insustentáveis ​​na maioria dos países devido a possíveis impactos na economia e nos meios de subsistência.

 

“Essa combinação intermitente de distanciamento social estrito e um período relativamente descontraído, com testes eficientes, isolamento de casos, rastreamento de contatos e proteção dos vulneráveis, pode permitir que as populações e suas economias nacionais ‘respirem’ a intervalos”, disse Chowdhury.

 

Os pesquisadores ressaltam que as durações específicas dessas intervenções precisariam ser definidas pelos países de acordo com suas necessidades e instalações locais. “Não há uma resposta simples para a pergunta de qual estratégia escolher”, observou Oscar Franco, que também participou do estudo. “Os países, particularmente os de baixa renda, terão que ponderar o dilema de evitar mortes relacionadas à Covid-19 e as falhas no sistema de saúde pública com o colapso econômico e as dificuldades a longo prazo.”

 

Fonte: Revista Galileu.


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