Especialistas explicam que a taxa de mortalidade da infecção causada pelo coronavírus Sars-CoV-2 é baixa, mas a doença é grave e não pode ser comparada à gripe comum

 

A avalanche de infecções por coronavírus na atual pandemia está acompanhada por uma avalanche semelhante de informações, o que dificulta peneirar as informações confiáveis. Entre as perguntas mais cruciais está: quão mortal é o vírus Sars-CoV-2 que causa a Covid-19?

 

Começando pelo início: ao contrário de alguns relatos, não há evidências de que o vírus tenha evoluído para uma “nova cepa mortal” desde que surgiu no final de 2019. É claro que todos os vírus evoluem, e o Sars-CoV-2 não é exceção, mas os relatórios de que o vírus seria uma nova e agressiva cepa foram desconsiderados.

 

O Sars-CoV-2 parece estar em mutação (passando por alterações genéticas) a uma taxa semelhante a de outros coronavírus, como o SARS, de 2002, e o MERS, que causou a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, em 2012. Essa taxa é menos da metade da dos vírus da gripe comum — o que é devagar o suficiente para permitir a produção anual de vacinas contra a doença.

 

Então, quão mortal é o novo coronavírus?

 

Esta questão é muito mais relevante, mas menos direta para responder.

 

Os relatórios da letalidade do vírus variam de acordo com a ordem de magnitude. Enquanto a maioria das pessoas consegue se recuperar do Covid-19, uma proporção significativa sucumbe diretamente ao dano viral, à pneumonia e à sepse.

 

Em 3 de março [de 2020], a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a taxa de mortalidade da doença era de 3,4%. Entretanto, outras estimativas amplamente citadas estimam uma taxa entre 3% ou 5%, enquanto outras fontes estimam bem abaixo de 1%.

 

Uma razão para essas discrepâncias é que [os especialistas] costumam usar duas maneiras diferentes para calcular a taxa de mortalidade. A Taxa de Fatalidade de Casos (CFR) é o número de mortes dividido pelo número de infecções conhecidas. Esse valor pode ser bastante inclinado para cima ou para baixo por conta da amostragem.

 

Por exemplo, imagine que o vírus infecta 100 pessoas. Dessas, 70 são assintomáticas e não sabem que estão doentes, enquanto 30 adoecem e são diagnosticadas. Dentre os diagnosticados, 1 paciente acaba morrendo. Nesse exemplo, a taxa de mortalidade real é de 1% (1/100), mas o CFR é de 3,3% (1/30).

 

Esse viés geralmente é mais forte durante os estágios iniciais de um surto, quando muitos casos leves são perdidos e o número de casos confirmados ainda é baixo. Por esse motivo, alguns epidemiologistas agora acham que as taxas de mortalidade relatadas inicialmente são superestimadas.

 

Existe uma segunda medida que podemos usar aqui, que corresponde mais de perto à ideia de “mortalidade” da maioria das pessoas. A Taxa de Mortalidade por Infecção (IFR) é o número de mortes dividido pelo número real de infecções (incluindo os casos confirmados e os não diagnosticados).

 

Essa estatística é mais difícil de calcular, pois requer a estimativa do número de infecções não detectadas. Uma avaliação do IFR para Covid-19 coloca esse número em 1% — e alguns novos dados sugerem que essa hipótese é razoável.

 

À medida que os testes se tornam mais rigorosos, a discrepância entre as duas medidas (CFR e IFR) diminui. Isso pode estar acontecendo na Coreia do Sul, onde testes exaustivos detectaram muitas infecções leves e diminuíram a taxa de mortalidade estimada para 0,65%.

 

Da mesma forma, o navio de cruzeiro Diamond Princess [atracado no Japão] é esclarecedor, pois a quarentena rigorosa [que foi implantada após casos da doença serem detectados no local] permitiu que quase todos os casos de Covid-19 (mesmo os assintomáticos) fossem identificados.

 

Houve sete mortes entre mais de 600 infecções, resultando em uma IFR de cerca de 1,2%. Isso é mais alto do que na Coreia do Sul, mas talvez seja de se esperar, dado que um terço dos passageiros do navio tinha mais de 70 anos.

 

Ainda assim, não é “só uma gripe”

 

Mesmo uma taxa de mortalidade de 1% é extremamente perturbadora. Projeções recém-lançadas sugerem que entre 20% e 60% dos australianos poderiam contrair o coronavírus, o que se traduziria em um número de mortes entre 50 mil e 150 mil.

 

Em comparação, estima-se que 35 milhões de norte-americanos pegaram gripe no ano passado [2019], com 34 mil mortes — o que é menos de 0,1%. O coronavírus é muito mais letal que a gripe sazonal, principalmente para idosos, e não há vacina.

 

Como o vírus atinge mais fortemente os idosos, os países com populações envelhecidas serão afetados mais severamente. Baseada apenas na demografia, a taxa de mortalidade projetada na Itália é sete vezes a taxa no Níger; a Austrália está pior que a média global. Obviamente, os eventuais níveis de mortalidade também dependerão dos sistemas de saúde e das respostas de contenção dos países.

 

Essa mortalidade seletiva por idade da Covid-19 deve ser explicitamente considerada nos planos de combatê-la. Na Austrália, 11% da população tem mais de 70 anos e soma 63% das mortes.

 

Isolar uma proporção relativamente pequena de idosos reduzirá pela metade as fatalidades e é potencialmente mais prático do que o bloqueio total de populações inteiras. Precisamos focar urgentemente na melhor maneira de conseguir isso. No momento em que escrevemos, o Reino Unido está discutindo seriamente essa estratégia.

 

Há um outro lado perturbador da taxa de mortalidade ser menor do que o inicialmente relatado: cada morte implica em um número muito maior de infecções circulantes. A maioria das fatalidades por Covid-19 ocorre pelo menos duas semanas após a infecção. Portanto, uma única morte hoje significa que cerca de 100 pessoas já foram infectadas há duas semanas — e esse número provavelmente aumentou exponencialmente para várias centenas até agora.

 

A implicação é gritante. Não podemos esperar até que várias pessoas de um grupo morram de Covid-19 antes de impor medidas extremas de contenção. Até então, o surto já será extremamente grande e difícil de gerenciar.

 

Atualização: O grande número de infecções e fatalidades por Covid-19 em Wuhan, na China, foi modelado para determinar o nível de fatalidade. Um estudo calculou uma métrica chamada sCFR, que aproxima a taxa de mortalidade de casos quando o teste é suficientemente extenso para que todos os indivíduos sintomáticos sejam identificados como casos. O valor calculado de sCFR é de 1,4%, o que coloca um provável limite superior na taxa de mortalidade por infecção no epicentro da pandemia.

 

Fonte: Revista Galileu.


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