Bairro da periferia de São Paulo pode ter problemas para enfrentar o coronavírus, segundo relatos enviados ao G1.

 

A disseminação do novo coronavírus e as medidas de contenção adotadas pelo governo têm deixado em alerta a população do Capão Redondo, segundo moradores do bairro de periferia na Zona Sul de São Paulo. Especialistas afirmam que as condições de vida em áreas dos extremos da cidade devem facilitar o contágio.

 

O G1 entrou em contato com moradores e frequentadores do Capão e recebeu relatos de como está o clima no bairro. Veja o vídeo acima.

 

Kleber

“Já tem mais de um mês que eu tô desempregado, sem emprego. Sou um empreendedor, sou tatuador. Atualmente estou me virando vendendo brigadeiros aí pelas redes sociais. No momento eu tô procurando algo pra fazer entregas de moto, né. Então tô tentando. Tô correndo atrás, e não tá fácil, entendeu? Não tá fácil.”

 

O relato é de Kleber Dutra, de 39 anos. Ele percorreu ruas do Capão e fez algumas observações. Em um sacolão com pouco espaço para movimentação, contou entre 10 e 12 pessoas com mais de 60 anos. Já quando foi levar a avó, dona Gumercinda, de 84 anos, para tomar vacina, sentiu falta de profissionais orientando os mais velhos, que são grupo de risco para o coronavírus.

 

“É assim, cara. A galera precisa sair, né, pra comprar alimento, supermercado, bastante gente no supermercado. Açougue, mercado, farmácia, é onde está tendo um fluxo maior de pessoas. E dentre essas pessoas, idosos também”, conta.

 

Dois dias após falar com o G1, Kleber contou que começou a trabalhar como entregador de aplicativo. Mas mantém paralelamente a venda de brigadeiros gourmet pela internet, e também oferece serviço de conserto de celulares.

 

Gisele

Comunicadora social atuando em diversas frentes na região do Capão, Gisele Alexandre, de 37 anos, conta que um problema sério tem sido a desinformação. “Uma das coisas que eu tenho sentido muito é uma disseminação de fake news através das redes sociais, principalmente através do Whatsapp”, relata.

 

Por conta disso, ela criou um podcast em que esclarece dúvidas que tem recebido de moradores, chamado “Manda Notícias”. Um dos episódios fala sobre o tempo de sobrevivência do vírus em diferentes superfícies.

 

“A gente entende que, com a informação de qualidade, a gente consegue manter o equilíbrio da população, e trazer informações transparentes, mas sem criar pânico”, afirma.

 

Guilherme

Coordenador em um projeto social no Capão, o publicitário Guilherme Rodrigues, de 25 anos, ressalta outra questão importante em bairros de periferia.

 

“Tem um problema muito grande, porque faltam mantimentos. O pessoal não tem condições de comprar os produtos básicos de higiene pra tomar os cuidados básicos. Então a galera tá sofrendo muito com isso, aguardando doações”, diz. Diversas instituições, inclusive a Nave Capão, onde Guilherme trabalha, têm se organizado para arrecadar doações.

 

“As pessoas estão desesperadas. E o pessoal mais pobre é o que está sendo mais afetado”, avalia.

 

André

“A galera tá tentando manter a quarentena, mas é muito difícil se manter em quarentena quando você mora numa casa muito pequena, poucos cômodos, muitas pessoas. Então a gente vê a galera tentando fazer o máximo possível aí para se manter em casa”, diz André Luiz, de 23 anos, coordenador de projeto social.

 

Ele conta que sua própria família se colocou de quarentena ainda antes da imposição do governo, e teme pelos vizinhos. “Muitas das pessoas estão perdendo seus empregos. Muitas das pessoas estão tendo que trabalhar da mesma maneira. A criançada não consegue ficar em casa muito tempo, porque são casas muito pequenas”, afirma.

 

Yara

Voluntária em outro projeto social, Yara Karina Cunha Braz, de 23 anos, afirma que as pessoas “estão conscientes do que está acontecendo, mas não estão dando muita importância, pelo que elas estão fazendo”.

 

Ela se preocupa com os equipamentos de saúde da região. “A agente de saúde do posto veio aqui este mês e falou que a situação está crítica no posto, como também está no hospital”, diz.

 

Ações do governo

 

Na última semana, a Prefeitura de São Paulo e governos estadual e federal divulgaram ações para tentar conter o impacto econômico da pandemia.

 

A Prefeitura, por exemplo, terá R$ 1,5 bilhão de outras áreas para aplicar no combate ao coronavírus. O governador João Doria (PSDB) anunciou repasse de R$ 218 milhões para 80 municípios do estado de São Paulo que têm mais de 100 mil habitantes, para tratar e combater a pandemia de coronavírus.

 

Outra medida aguardada é a do auxílio de R$ 600 por mês para trabalhadores informais, aprovado nesta segunda (30) pelo Senado. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que o governo pedirá ajuda às comunidades para cadastrar os trabalhadores informais que terão direito ao auxílio.

 

Na semana passada, além do auxílio, que segue para sanção presidencial, o governo federal e o Banco Central anunciaram uma série de medidas que incluem socorro a pequenas empresas, afrouxamento da meta fiscal e também flexibilização de leis trabalhistas.

 

De acordo com decreto da Prefeitura de São Paulo, a cidade segue em quarentena até, pelo menos, o dia 5 de abril, com diversos estabelecimentos impedidos de abrirem as portas.

 

Fonte: G1


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