No mês de setembro teve início a 2ª Campanha de Conscientização da Saúde do Adolescente Masculino – #VemProUro, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Ao deparar com essa campanha, inédita em sua concepção, muitos brasileiros devem se perguntar: mas por qual razão ela existe?
A ideia surgiu quando, ao fazer minha tese de doutorado em uma escola do SENAI no início desta década, reparei que, durante o tempo da entrevista e do exame físico com meninos de 15 a 18 anos, eu era bombardeado com as mais diversas perguntas sobre saúde e sexualidade.
Questionamentos típicos da puberdade — tamanho do pênis, dimensão dos testículos, quantidade de pelos pubianos e no corpo, altura final, presença de fimose, doenças sexualmente transmissíveis, dúvidas sobre o ato sexual em si, uso de drogas lícitas (cigarro e álcool) e ilícitas (especialmente maconha) — vinham à tona como se eles nunca tivessem tido a oportunidade de conversar com um médico de confiança.
A situação, que se repetiu em alta frequência por cerca de três anos, me chamou tanto a atenção que me veio à cabeça a comparação com a imensa maioria do público feminino nessa faixa etária que já está frequentando o consultório do ginecologista.
Portanto, qual seria a razão para os adolescentes do sexo masculino não procurarem o consultório do urologista, ao contrário das meninas que, assim que entram na puberdade, passam a visitar as clínicas ginecológicas?
Desatenção dos pais com a saúde dos filhos, em contraponto com a das filhas? Preconceito, revelando até mesmo uma visão machista da sociedade? Ou simplesmente a completa ausência de esclarecimento e costume dos pais em levar seus filhos ao consultório médico para avaliações anuais visando à promoção da saúde e à prevenção de doenças, acidentes e comportamentos de risco?
Um interessante estudo epidemiológico realizado pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mostrou as diferenças de atenção voltada à saúde das mulheres em relação à dos homens. Ele evidenciou que cerca de 80% das consultas médicas ao ginecologista são feitas por mulheres dos 15 aos 44 anos, sendo 20% delas por mulheres abaixo dos 24 anos. O principal motivo que as leva ao médico é a prevenção de doenças — esse aspecto totalizou 71% das consultas.
No caso dos homens, a mesma pesquisa aponta que apenas 16% daqueles entre 15 e 44 anos foram ao urologista, índice que cai para 4% quando se foca em jovens com menos de 24 anos.
O que chamou mais atenção foi que apenas 8% das visitas do homem ao médico visavam cuidados com a saúde de forma preventiva. Ainda que os dados sejam dos Estados Unidos, podemos extrapolá-los para a realidade brasileira, uma vez que tendemos a reproduzir com frequência hábitos socioculturais dos americanos.
Por aqui, outra investigação, conduzida pelo médico e estudioso do comportamento dos adolescentes Jairo Bauer, mostra que, em uma população de meninos de 13 a 17 anos, apenas 3,5% vão ao urologista de forma rotineira, enquanto 42% das meninas na mesma faixa etária frequentam o ginecologista. É um contraste gritante.
A pesquisa corrobora, assim, o entendimento de que hoje encontramos o adolescente masculino desamparado em termos de avaliação médica, sem ações preventivas e sem orientação especializada de um urologista.
A ida ao médico ainda ocorre frequentemente na vigência de doenças e muitas vezes apenas ao serviço de pronto-socorro. Uma vez tratada a moléstia aguda, volta-se a rotina de mínimas preocupações com a saúde.
Chegou o momento de revermos essa situação de pouco caso com o bem-estar dos nossos garotos. Precisamos mudar hábitos e a cultura de cuidados com o adolescente.
Nossa campanha #VemProUro tem justamente o objetivo de ajudar a modificar esse panorama e trazer a população de meninos adolescentes para o consultório do urologista. A semana do dia 16 a 21 de setembro foi escolhida porque, no dia 21, é celebrado o Dia do Adolescente em nosso país.
No segundo ano da iniciativa, a meta é disseminar ainda mais essa causa diante da sociedade e também junto aos médicos urologistas e, a cada ano, torná-la um importante instrumento de transformação comportamental.
Os urologistas precisam mirar e (se equiparar) na ação que os nossos colegas ginecologistas têm em relação à saúde das mulheres jovens, que, desde o início da puberdade, recebem em consultório assistência e orientação global com a saúde.
Acompanhe a campanha e seus conteúdos no portal da SBU e faça a reflexão: você já levou seu filho a um urologista para uma consulta voltada à promoção da saúde e à prevenção de doenças?
Está em suas mãos fazer com que a sociedade mude de atitude frente à saúde do adolescente masculino, tornando a ida ao médico uma atitude automática e corriqueira, tal qual acontece com a população feminina desde o início da puberdade.
Fonte: Saúde Abril.
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