Segundo o diretor Augusto Marin, essas duas importantes figuras do teatro paulistano influenciaram diretamente o trabalho da companhia. “Adilson Barros foi meu professor de teatro na Unicamp, nos idos de 1989. Nós fomos amigos por muito tempo e ele dirigiu vários espetáculos que fizemos antes de fundar a COMMUNE. Mesmo sem ter participado da companhia, já que faleceu seis anos antes de sua criação, Adilson é uma referência para toda uma geração de atores e para o teatro brasileiro. Já Cyro Del Nero foi um brilhante cenógrafo e era muito amigo da Michelle Gabriel [cofundadora do grupo]. Ele foi uma das primeiras pessoas a conhecer o imóvel onde hoje está instalada a nossa sede e disse que o espaço daria um lindo teatro de bolso. Ele, então, fez todo o projeto arquitetônico do Teatro COMMUNE, com desenhos e maquete. Dar o nome a esses grandes artistas para nosso teatro é uma forma singela de manter viva a memória deles, principalmente para as gerações de artistas jovens”, explica o cofundador da companhia.

 

No evento do dia 4 de julho, a sala de espetáculos do teatro passa a ter o nome de Adilson Barros, que será gravado em uma placa de acrílico e metal. Além disso, amigos do artista contarão histórias sobre o homenageado e participarão de um coquetel. Já Cyro Del Nero também passa a dar o nome à galeria do teatro no dia 11 de julho, com placa igual. Nas duas ocasiões, acontecerão a abertura de uma exposição de fotos sobre diferentes momentos da vida dos artistas, gentilmente concedidas por fotógrafos, amigos e familiares.

 

A segunda cerimônia também marca o lançamento do livro Commune 15 anos, organizado por Augusto Marin, Roselaine Araujo e Liniane Haag Brum, com imagens de Augusto Paiva, Dani Coen, Bianca Vasconcelos, Fernando Henrique, José Marcio, entre outros. Com tiragem de 500 exemplares, o livro registra o processo de criação, pesquisa e formação da companhia e o trabalho de formação dos jovens aprendizes e de espectadores, sem seguir uma cronologia. O exemplar será distribuído gratuitamente no teatro e enviado para bibliotecas públicas, escolas de teatro, grupos, teatros, órgãos públicos, pontos de cultura e outros espaços culturais.

 

“Ao longo de 15 anos de trajetória, a Commune tornou-se um importante núcleo de pesquisa, produção, formação e intercambio teatral na cidade de São Paulo, com foco na linguagem das máscaras, no uso da improvisação, na comicidade física e na montagem e adaptação de obras clássicas. O livro trata da continuidade de uma proposta estética que investiga os cruzamentos e sobreposições entre a tradição da Commedia Dell Arte e os matizes e personagens do teatro popular brasileiro, que coloca em prática um diálogo entre o saber erudito e o saber popular, na qual a poética resulta de um olhar crítico sobre a realidade”, explica Augusto Marin, diretor da companhia e um dos organizadores da publicação.

 

Os capítulos estão divididos em diferentes temas como: a inauguração do teatro projetado por Cyro Del Nero; depoimentos de artistas, amigos e gestores que vivenciaram a trajetória da COMMUNE; a história ao longo dos 15 anos em imagens e legendas; curiosidades de camarim e os espetáculos da companhia; o Projeto “Teatro Cidadão”, no qual jovens da periferia podem estudar teatro gratuitamente; a entrada do grupo na imprensa brasileira; e os intercâmbios internacionais e residências artísticas com Enrico Bonavera (Itália), Donato Sartori (Itália), José Sanchis Sinisterra (Espanha), João Garcia Miguel (Portugal), Sonia Daniel (Argentina), John Mowat (Inglaterra), o Grupo Jangada, entre tantos outros.

 

O livro ainda destaca a importante experiência da COMMUNE na organização, em parceria com a REDE DE TEATROS, do Projeto A Escola em Cena, que aconteceu em 2017, graças a uma emenda parlamentar do vereador Police Neto. No projeto, foi realizado o Seminário Internacional de Formação de Jovens Espectadores na Era Digital, do qual participaram Aimé Pansera e Andrea Hanna, do Projeto Formacion de Espectadores de Buenos Aires, na Argentina; Antonio Carlos Moraes Sartini, ex-diretor do Museu da Língua Portuguesa; Flavio Desgranges, especialista em formação de público; Beth Azevedo, pesquisadora da USP; entre outros. O projeto contou também com uma oficina de capacitação de professores da rede pública e vários espetáculos, seguidos de debates, apresentados nos teatros independentes para alunos de 11 a 16 anos de escolas públicas.

 

Para a atriz e organizadora Roselaine Araujo, um dos temas mais legais apontados pelo livro é o Projeto Teatro Cidadão. “Nele alunos da periferia da cidade recebem uma ajuda de custo com transporte e alimentação para estudar aqui no Teatro COMMUNE. E é interessante que os jovens não aprendem só a atuar, mas adquirem noções de cenografia, figurino, sonoplastia e iluminação, produção, técnicas de palco, e, no final, montam um espetáculo com um diretor profissional, acrescenta.

 

As três atividades são possíveis graças ao projeto “Territórios da Imaginação: 15 anos de Resistência da Commune”, que foi contemplado pela 31ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Esta foi a primeira e única vez que a companhia foi contemplada pela lei ao longo de toda sua trajetória.

 

Homenagem a Cyro Del Nero e lançamento de livro: 11 de julho, às 20h